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O descaso enchalha o Rio Acre

Quem procura um rio, encontra a magia que encanta o canto da vida.
Conquistará, braçada a braçada,
portos da perfeição pela luminosidade eterna.
Conhecer um rio é a base do
sucesso de um homem, no entanto,na beira da vida em sociedade  puramente capitalista, navega o Rio Acre
que não se configura moeda de troca,
mas, trocam por moedas. Sinto no cerne
anseios  sem  voz, calado como rio que passa,
da mesma forma que passa os homens.
Estes respiram enraizados no descaso,
ambição de ter e ser, esquecem a
relevância ecológica que sustenta
a dignidade humana.
Ao contrário: vivem entregue
ao inverno da escuridão
que queima, catando cílios,
mendigando corações humildes,
pelejando contra o cansaço no barranco do desencanto.
Marcas no corpo em forma de cicatriz,
mostra quilômetros da ambição humana.
Sem conseguir chorar de tristeza,
de sofrimento, de desilusão e de mágoa,
tal qual criança recém-nascida
indefesa protestando uma dor
inexplicável. Pior, sem entender
porque é tão agredido.
Nunca reclama a ausência de
elogios, aplausos, dedicatórias e
calorosos discursos. Ainda assim,
nos ensina a preservar suas margens
como um presente que da vida recebemos.  
Tão misericordioso quanto generoso o
Rio Acre sacia os  necessitados no silêncio
da roda de ciranda, cirandando
na calada noite ou noite calada.
Navega nobremente por meandros
harmoniosos, tal qual o barro para
adquirir resistência na modelagem
e manter a forma, necessita de
cozimento cuidadoso.
Não há como negar que vivemos
vulneráveis sobre o eixo
da esperança e da plenitude.
Uma vez que o nosso desafio é
amparar a luz que vem dos fogos
de artifício para irradiar o brilho intenso
da bondade que afaga corações.
Sem se importar com as câmeras
da vaidade, vive sem
esperar  reconhecimento pelo amável
 valor ambiental.
Espera eu, ver um dia, bem grafado
o índice da história geral
em cada elo da corrente humana
porque você é a natureza
da história da vida.
Nossas letras enfeitam caminhos
da história, leitos e estadias  para
acolher as águas de um grande rio
que caminha no silêncio aguçando
a intuição da eloquência.
Entendo que não é exigido grande
esforço para ajudar necessitados
subir margens pela margem silenciosa
da existência.
Pai nosso,  nosso santuário é um ser que padece
nos meandros que dão voltas
ao mundo pela manifestação
de pureza do poeta.   
Na frente, há outros rios à seguir,
é preciso poesia, para que um dia o rio da divindade coexista,
o verso do silêncio possa ser
escrito na margem do lago
imaculado da esperança.  
Várzea não  bebe  cinza
nem fumaça de agosto,  
ambas fragiliza a ância das
estrelas magoadas pela manhã.
Meu rio é certo que irás                 encontrar situações tempestuosas, mas a chuva haverá de germinar a planície                 
que aproxima distância entre a
criatura e o criador das margens da vida.

* Claudemir Mesquita é professor, escritor membro da Academia Acreana de Letras e
presidente da Associação
Amigos do Rio Acre.

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