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Vazantes da consciência

Aqui  vai,
meu rio!!!
Radiante, desfilando no
educandário terrestre sobre  
caudal volumoso de aplausos,
enturbilhando cheias e vazantes na
cesta feira ribeirinha,
no vale voos grandiosos alinham-se
para a colheita de benção.

Unem-se na alça do amor
e com afinco estende a mão
para aqueles que padecem
no meio da jornada,
muitas vezes, inquietando
à vazão dos rios destes dias.

Me armei de paciência
quando olhei meu rio,
lapidando arestas,  depurando
mazelas, tal qual, jardim abandonado,
várzeas vazias escoradas em portas
grossas que o tempo envelheceu
apontando na direção da paisagem eterna.

Eu que tinha um rio com letras
MAIÚSCULAS, por todos os dias
de tua vida, hoje me agarro
a minúsculas escritas enterradas
no rodapé do nosso desleixo.
 
Por isso, sigo pacientemente o destino
de todos os rios. Corro rios sem fim
regando as margens vazantes da consciência.

Da soleira margem sigo entalhando alagação  
nas ondas da elegância como um caudal
que derrama segredo:
ser dileto é dividir a existência
sem vaidades.

O desânimo não pode apagar
vales de idéias como faz
os ventos de outubro e novembro,
com a leveza da areia
na acostumada vazante
das águas do Rio Acre.

Reboando de dentro
destas matas, como um elo sonoro,
que a seu tempo chegará em
pranto e desespero no seio
da sede social.

Não existe seca tão infecunda quanto um
grande rio ausente, antes navegado
com todas as águas.
A condição de inferioridade é um começo
de paralisia que enfraquece e
envenena todo vale.

Como neste rio,  barcos navegam nas águas
da conquista, sob a maestria da atmosfera
do amor,  o tempo não envelhece, mesmo
que a lâmina da enxó lamine o tempo
por mãos artesã.

Assim, ao invés de revidar
comportamentos indiferentes,
ofereça-lhe o agasalho do amor,
sem atropelos nem dores,
mostre-lhe que fé é o mecanismo
da segurança espiritual.
Em verdade, semeamos
canteiros resgatados dos
escombros dos necessitados.
Assim, quanto maiores somos
em humildade, tanto mais,
próximos estamos dos vales da fertilidade
buscando incessantemente certezas  
que lágrimas de enchentes serão passageiras.
 
A natureza inocente se sente gotejando
Segredo, adormecendo-se entre pensamentos
e lembranças de entes que viveram
eternos momentos.

Dono de um santuário que se
nutre e se renova a cada cheia
o jardim do Rio Acre, encontra
dificuldade severa para  ganhar
novos coloridos e enfeitar de sonhos,
momentos que passa acolhendo
vidas saciadas pelo combustível
da oração.

O medo não deveria paralisar ou acorrentar
nossos densos passos, já que nascemos às margens
de rios tortos, desses que secas enche
de orgulho as margens do nosso coração.  

É assim que o arado espiritual
prepara a pedagogia da semeadura
deixada pela vazante do nosso esquecimento.
Herdeiro da planície do esforço o Rio Acre
age pacientemente sem atrair as luzes da fama.

A discórdia afasta do nosso convívio
a confiança e a desavença abre portas,
porteiras e portões para escuridão atrofiar
mãos que curam feridas às margens do nosso orgulho.

Desse modo, poderíamos fazer da nossa
fé, raios brilhantes  de um sol que ilumine
nossas manhãs, de outra forma quem se
queixa inferioriza-se ou espera compaixão.

O caminho do rio será inevitavelmente
o da liberdade e da beleza.
Estamos numa época de velocidade,
mas não saímos do lugar.
Pensamos em demasia, mas, sentimos muito pouco.
Mas do que ação precisamos de humildade
mas do que inteligência precisamos de coerência,
afeição e doçura.
Sem estas virtudes a vida será violenta
e tudo estará perdido.

Se a mensagem da água é intuir
a harmonia na memória da vida,
regai jardins da natureza de
tuas obras e pensamentos  tal qual,
se movimenta a vida nos lagos da calmaria.
Lembremos: estrada acanhada maltrata, indigna
engana, exclui e destrói.

* Claudemir Mesquita é professor e escritor, membro da Academia Acreana de Letras e Presidente da Associação Amigos do Rio Acre.

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