Hoje, 2 de abril, é comemorado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Em alusão à data, a Associação dos Amigos e Pais dos Autistas Acreanos (Ampac) e o Centro de Ensino Especial Dom Bosco realizaram, na manhã de ontem, o lançamento da Semana Mundial dos Autistas.
O autismo, também chamado de Transtorno do Espectro Autista, é um Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) e é marcado por três características fundamentais: inabilidade para interagir socialmente, dificuldade no domínio da linguagem para comunicar-se ou lidar com jogos simbólicos e padrão de comportamento restritivo e repetitivo. O grau de comprometimento é de intensidade variável, vai desde quadros mais leves, como a síndrome de Asperger até formas graves em que o paciente se mostra incapaz de manter qualquer tipo de contato interpessoal e é portador de comportamento agressivo e retardo mental.
Roberto Derze, presidente da Ampac, explicou que hoje, no Estado, 220 crianças de 0 a 12 anos são portadoras da síndrome. “Começamos a reunião do grupo de pais em 2011. Foi a partir disso que começamos a buscar as crianças acometidas pelo autismo. Para nossa surpresa, é um grupo muito grande. Desenvolvemos um trabalho social, participativo e direto com ações do governo, mas ainda é necessário fazer muita coisa”.
O presidente destacou que ainda existe preconceito e discriminação por conta do comportamento que uma criança autista apresenta. “Muitas vezes parece que é uma criança mal educada por conta da agressividade, mas essa é uma característica do autista. Temos uma grande dificuldade de inclusão dessas crianças em ambientes sociais, mas precisamos incluí-las para que elas evoluam e desenvolvam”.
Rosilda Moura, diretora do Dom Bosco, ressaltou que a família tem grande importância durante o tratamento. “Rea-lizamos um atendimento educacional, com uma equipe multiprofissional. Temos professores, psicólogos e fonoaudiólogos. Atualmente temos 30 alunos autistas. Hoje os pais conhecem mais sobre a síndrome, entendem e ajudem a dar continuidade no tratamento em casa. A família é de fundamental importância. Precisamos mostrar para a sociedade como lidar e agir com o autista”.
O deputado estadual Jamil Asfury frisou que dois projetos serão apresentados a partir de hoje na Assembleia Legislativa, com o objetivo de incluir os portadores da síndrome na sociedade. “Estaremos instituindo o Dia do Autista no Acre, para entrar no calendário de programações do Estado. Queremos conscientizar as famílias e toda a sociedade. O que há de mais importante é isso, as famílias que tem um autista já passam por dificuldades. Também um projeto para a implantação do atendimento especial à essas crianças será apresentado”.
Conceição França descobriu que o filho tinha a síndrome aos 4 anos de idade. “A gente sonha, desde a gravidez, em ter um filho normal. Ele sempre teve um comportamento muito diferente. Ele começou a se comunicar através de gestos. Quando ele tinha quatro anos, resolvi colocá-lo em uma escola e ele entrou em pânico. Quando eu recebi o diagnóstico, sabia muito pouco sobre a síndrome. Foi um choque para a família inteira, sabíamos que era uma situação que iríamos viver a vida e inteira e tínhamos que nos adaptar a isso. Durante muito tempo eu chorava e só depois consegui lutar com o meu filho”.
Hoje, o jovem vive normalmente. Aos 21 anos, José Vitor é estudante do 6º período de Direito e funcionário concursado do Tribunal de Justiça do Acre. “Foi uma superação da família e principalmente do José Vitor. Independente da situação e dificuldades, ele resolveu lutar e enfrentar o problema. Hoje ele desempenha as atividades com normalidade e não faz mais acompanhamento, vive uma vida normal. A sociedade precisa olhar para um portador de autismo como uma pessoa capaz, normal e entender que todos nós somos diferentes. Cada pessoa tem um jeito e um comportamento, precisamos respeitar essa individualidade”, disse Conceição.
Já o funcionário público Carlos Lisandro Grana só conseguiu descobrir a síndrome do filho Pedro Luis, 5 anos, há pouco tempo. “Desde muito pequeno o Pedro começou a manifestar um comportamento atípico. Eu achava que era coisa de criança, mas o tempo foi passando e ele foi ficando mais agressivo, apresentou comportamentos repetitivos e fixação por interesses restritos. Mensalmente o pediatra o avaliava e dizia que era normal. Ano passado procuramos um especialista em Porto Velho. Ele foi avaliado por uma neuropsicóloga durante três meses e no final chegou a conclusão que ele tinha um tipo de autismo”.
Carlos acredita que o grande desafio é diagnosticar a síndrome. “Segundo estatísticas de entidades especializadas em autismo, existem somente no Brasil, dois milhões de autistas. Desses, a metade ainda não foi diagnosticada. Até mesmo os profissionais que se dedicam a cuidar encontram dificuldades. É necessário que os profissionais da área de saúde estudem mais sobre a síndrome e se preparem melhor. O meu filho passou por vários profissionais que não perceberam nada. Se ele tivesse sido avaliado por alguém preparado, teria o diagnóstico precoce há pelo menos uns três anos. Isso faria muita diferença, se tivéssemos iniciado o tratamento antes, o meu filho poderia estar muito melhor e evitado muito sofrimento tanto para ele quanto para nós”.
Ademilcia Grana, mãe de Pedro, afirmou que não há profissionais preparados para dar o diagnóstico no Acre. “O quadro dele tem melhorado e temos boas perspectivas, essa deve ser a esperança de cada pai. Esse dia é muito importante, deve ser divulgado, muitas pessoas não conhecem os sintomas. É o momento de abrir a mente das pessoas para compreender. Há uma grande deficiência aqui no Estado, precisamos de profissionais mais qualificados para diagnosticar as crianças”.