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Dia do Índio: combate à desnutrição infantil

 Uma questão que chama a atenção de todos os que colaboram com o governo é a busca incessante, inquieta, e a não aceitação do governador Tião Viana da alta prevalência de desnutrição entre crianças indígenas.

 Pode-se comparar a postura do governador ao médico e deputado federal pernambucano Josué de Castro, que, sem trégua, cerca de 50 anos atrás, enfrentou a fome em todo o Brasil – fome que contribuía muito para ceifar as vidas dos brasileiros, especialmente no Norte e Nordeste. Josué de Castro denunciava a fome oculta, silenciosa, covarde, fruto das injustiças sociais, e a indiferença dos governantes e técnicos da época.

 Os dados do 1º Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, divulgado pela Fundação Nacional de Saúde (2010), apontam que uma de cada cinco crianças indígenas de até cinco anos no Brasil tem estatura menor do que o esperado para sua idade *. Mais da metade sofre de anemia. Na Região Norte, a situação é ainda mais grave: 41,1% estão abaixo da estatura esperada para a idade * e 66% têm anemia. Nas grandes cidades e no Centro-Sul do Brasil, a prevalência do déficit de altura e peso para idade em crianças varia de 2 a 5%.

 No nosso meio, pesquisadores da Ufac e da USP (2006) identificaram uma prevalência de estatura menor do que o esperado para sua idade* de 59% nas crianças nos rios Tarauacá e Jordão – quase 50% maior que o observado na Região Norte. A mesma equipe de estudiosos retornou em 2012 à região e identificou que o problema estava no mesmo patamar. Associada a essa situação, é muito alta a mortalidade infantil nessas comunidades indígenas. A secretária de Saúde, doutora Suely Melo, desabafa: “Quando enviamos o helicóptero para resgatar uma criança, algumas vezes ela está tão fragilizada e desidratada que não conseguimos salvá-la”. E conclui: “Vamos mudar esse quadro”.

 A equipe de secretários coordenada pela Seplan, Sema, Seaprof, Sesacre, IDM, Assessoria Indígena e Secretaria Especial da Mulher, por orientação do governador, tem implementado várias medidas estruturantes, e os investimentos têm sido os maiores de todos os tempos para pôr fim à desnutrição das crianças indígenas no Acre: R$ 50 milhões.

 Os projetos envolvem ações nas áreas da saúde e saneamento, com implantação de acesso a água tratada e esgoto, habitação, escolas e postos de saúde nas aldeias, treinamento dos agentes de saúde, agentes de saneamento, agentes agroflorestais indígenas e professores, apoio ao aumento e diversificação da produção agrícola com fornecimento de equipamentos, mudas, tanques para piscicultura e orientação técnica. Essas ações estão sempre deliberadas pelas comunidades. Os projetos têm tido o apoio dos órgãos federais, como Sesai e Funai, e das prefeituras. Todas essas ações certamente terão um impacto positivo no médio e longo prazos.

Quem tem fome tem urgência!

 No fim do mês de março passado, o governador apresentou um projeto com ações emergenciais para acelerar de imediato o fim da desnutrição infantil indígena ao secretário de Atenção à Saúde Indígena do Ministério da Saúde, doutor Antonio Alves, que apoiou e somará esforços com o governo do Acre nessa missão. Com equipe própria e bem articulados com as dos DSEIS do Juruá e Purus, iniciarão atividades que envolvem oficinas culinárias para incentivar e valorizar os recursos próprios locais, acrescidos de suplemento alimentar e respeitando os hábitos das comunidades, objetivando viabilizar um consumo de alimentos que propiciem acesso adequado de proteínas, carboidratos, gorduras, microminerais e vitaminas que possibilitem às crianças saúde, crescimento e desenvolvimento saudáveis. Que vivam felizes, libertas da sombra da falta do alimento na panela e do fogão apagado.

* O organismo da criança responde à má-nutrição/deficiência de duas maneiras diferentes, que podem ser aferidas por meio de índices antropométricos, e ocorre no organismo infantil: (1) desacelera ou cessa o crescimento linear, resultando em baixo comprimento/estatura ou stunting, e (2) através do emagrecimento corporal, ou wasting (emaciação), uma resposta mais rápida do organismo à ingestão inadequada de alimentos, identificado pelo índice peso para comprimento/estatura. (Kac, G e Schieri, S.)
Pascoal Muniz, nutricionista, doutor em Saúde Pública pelo Departamento de Nutrição da FSP-USP e diretor geral Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre

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