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Deputados vão a Brasiléia ver de perto situação dos haitianos

JOSÉ PINHEIRO,
Enviado a Brasiléia
Deputados  visitamDoze dos 24 deputados da Assembleia Legislativa (Aleac) estiveram ontem em Brasiléia (cidade a 240 Km de Rio Branco) onde a entrada de imigrantes de diversas nacionalidades, mas, sobretudo haitianos, tem aumentado e tornado precária a ajuda humanitária oferecida pelo Governo do Estado.   

São mais de 1.000 novos imigrantes nos últimos dias. Preocupados com essa situação, os deputados estaduais resolveram se reunir com o prefeito de Epitaciolândia, André Hassem (PSDB), e Everaldo Gomes (PMDB), prefeito de Brasiléia. Eles também visitaram os locais onde estão abrigados os refugiados.

O presidente da Aleac, deputado Élson Santiago, afirmou que há uma preocupação do parlamento acreano com relação à situação dos haitianos e também com os moradores dos 2 municípios.

“Essas cidades não têm estrutura para comportar tantas pessoas”, diz. “A nossa preocupação é também com as pessoas daqui. E nesse sentido, estamos aqui somando esforços com o governador Tião Viana (PT) para acharmos uma solução”, afirmou Santiago.

O parlamentar frisou que a Aleac fará um diagnóstico do problema e enviará relatório a bancada federal e às autoridades em Brasília. Para Élson Santiago, “esse é o caminho a ser seguido”.

O deputado Eduardo Farias (PCdoB), citou aos prefeitos, no encontro, que o problema não terá uma solução imediata. Para ele, a situação ainda poderá se agravar, mas que se fazem necessárias medidas mais enérgicas.

“Sabemos que o destino dessas pessoas é o Brasil. É o país que oferece mais oportunidade. É o país das olimpíadas, é o país da Copa do Mundo, das hidrelétricas, então, há uma procura pelo nosso país. Mas isso não é um problema que será resolvido assim de uma hora para outra”, pontuou.

O vereador Benedito Silva (PMDB de Brasiléia) frisou que a passagem dos haitianos está deixando os moradores sem espaços. Segundo ele, os espaços públicos estão tomados de imigrantes, sendo que as cidades não dispõem dessa capacidade.

“Essa passagem deles aqui é ruim. Não temos uma estrutura tão boa e ainda temos que dividir com eles”, salientou o vereador.

De acordo com o deputado Jamil Asfury (PEN), é necessário um acordo internacional que barre a entrada dessas pessoas em países como o Equador, o Peru e a Bolívia evitando assim que cheguem ao Brasil.

“É importante que se dificulte a entrada dessas pessoas para diminuir esse fluxo migratório”.

Drama – Num lugar sem as mínimas condições de higiene e privacidade, mais de 300 haitianos dividem o mesmo espaço em Brasiléia. Segundo relatos de alguns, a principal reclamação é quanto à alimentação, pois o horário a qual ela é servida sempre ultrapassa o meio-dia.

“Tem dias que a comida vem salgada e outros dias que vem sem mínimo de sal”, afirma um dos brasileiros engajados no apoio humanitário.

Em relato ao deputado Eduardo Farias (PCdoB) homens haitianos disseram que a principal reclamação é quanto a suas mulheres que estão expostas sem nenhuma privacidade, além da má acomodação, pois ficam diretamente deitadas sobre o solo.

No alojamento, a reportagem encontrou Ketlyne Jo-seph, de 32 anos. Ela conta que para chegar ao Brasil teve que passar pela República Dominicana, depois pelo Equador até o Peru.
“Viemos aqui em busca de trabalho. É aquela coisa: se tu conheces o caminho, ensina aos demais. Precisamos trabalhar. Precisamos tocar nossa vida aqui. Somos pessoas, somos seres humanos”, desabafa.

Para Eduardo Farias, uma das preocupações das autoridades em Saúde diz respeito à cólera e às doenças sexualmente transmissíveis.

Neste aspecto, ele ressalta que a vigilância sanitária e outros órgãos da área devem estar atentos à questão.

“Devemos nos preocupar com a questão humanitária dos haitianos, mas devemos resguardar, também o povo de Brasiléia”, enfatizou.

A história de cada indivíduo comove quem as ouve. Elismar Estimphil, o único do grupo com maior domínio do espanhol, disse que para chegar até o Acre teve que pagar mais de 3 mil dólares.

Ele veio acompanhado de amigos e deixou familiares no Haiti. Salientou que seu objetivo aqui no Brasil é trabalhar de operário e que pretende voltar ao país de origem para buscar o restante da família.

Mesmo com todos os problemas enfrentados e sem nenhum horizonte, Estimphil afirma que o Brasil ainda é o sonho de milhares de haitianos. Segundo ele, essa rota já está definida e garante que mais pessoas de outras nacionalidades estejam visando o Brasil como rota de fuga de seus dilemas.

O prefeito de Epitaciolândia, André Assem, informou que mais de 20 imigrantes são atendidos todos os dias na UPA da cidade. A preocupação maior é a falta de medicamentos.

“O governador já ofereceu dois médicos para atender na nossa Unidade. Estamos temendo um colapso no que diz respeito à medicação”, pontuou.

Polícia Federal – Os parlamentares cumpriram agenda também junto a Polícia Federal e foram informados que todos os dias, um grupo de 100 haitianos requer a documentação para que permaneçam no país de forma legal.

O deputado Walter Prado (PEN) defendeu que essa questão deve ser levada ao conhecimento urgente da presidenta Dilma Rousseff, para que haja um fechamento da fronteira, de modo a dificultar a entrada de refugiados no Brasil.

Mas ressaltou “que isso seja feito de forma humanística”, sem violar os direitos dos envolvidos na questão, no caso os haitianos e os moradores da região.

O deputado Edvaldo Souza foi mais além. Disse que o problema na fronteira deve ser resolvido com uma comissão de deputados estaduais indo à Brasília. Ele defende que um relatório deve ser entregue, com a bancada federal, nos Ministérios das Relações Exteriores e da Justiça e na Secretaria Nacional de Segurança, para uma solução efetiva e definitiva para a questão. Para ele, “ficar apenas no discurso não resolve”.

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