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Jorge Viana alerta autoridades do país para ‘tragédia anunciada’ dos haitianos no Acre

O senador acreano Jorge Viana, acompanhado do assessor político Raimundo Angelim, reuniu uma equipe e visitou a casa e o barracão que servem de abrigo para quase 1.300 haitianos em Brasiléia, durante toda a tarde deste último domingo, dia 7. Jorge ficou estarrecido com o drama vivido pelos haitianos no município. Ele transformou sua visita em um pronunciamento, ontem, no Senado, que mobilizou parlamentares a cobrar uma solução para esta situação.

Em entrevista À GAZETA, Jorge Viana contou o que presenciou em Brasiléia e sobre a tragédia iminente que deve acontecer, se o país não se mobilizar para ampliar o controle sobre a entrada indiscriminada de haitianos:

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A GAZETA – O senhor esteve em Brasiléia neste último domingo, o que de mais grave presenciou lá?

Jorge Viana: Vi uma das cenas mais tristes da minha vida. Uma imagem que não queria ter visto. A cidade se tornou um verdadeiro campo de refugiados. E, se as coisas continuarem como estão, deve acontecer uma tragédia maior ainda. Uma tragédia humanitária. Lá, há não só haitianos, mas pessoas de várias nacionalidades. E elas vêm para cá com o sonho de ter uma nova vida. Com mais oportunidades do que tinham em seu país de origem. E aqui encontram uma realidade diferente. Por isso, é preciso ter uma ação urgente dos ministérios das Relações Exteriores (MRE) e da Justiça, e até a participação da Força Nacional para mudar esta história.

A GAZETA – Senador, em que sentido você defende que deva acontecer esta ‘ação’?
J.V.: Ontem tive conversas com os ministros da Justiça [Eduardo Cardozo] e do MRE [Antonio Patriota], além de ter feito um pronunciamento no Senado, e o que defendi foi o apoio imediato da Polícia Federal e da Força Nacional. Acredito que deve haver uma grande ação para irem ao Acre e intercederem neste caso. Em janeiro do ano passado, a presidenta Dilma botou em prática a medida do Conselho Nacional de Refugiados para o Brasil acolher apenas 100 haitianos por mês, ou seja, 1.200 por ano. Na época, isso amenizou a situação. Mas, neste ano as coisas pioraram. Só neste 1º trimestre mais de 1.300 haitianos chegaram ao Acre. Virou rota. E isso precisa acabar, antes que a situação se transforme em uma tragédia maior ainda.

 A GAZETA – Que tipo de consequências maiores você acredita que esta alta concentração de imigrantes pode ocasionar a Brasiléia e ao Acre?
J.V.: Olha, além dos 1.300 haitianos, eu vi no município 50 senegaleses, nigerianos, 10 da República Dominicana, panamenhos e até bengaleses. Só nestes 2 últimos anos passando por este verdadeiro ‘drama’, Brasiléia já ganhou 10% da sua população composta de imigrantes. E é obvio que onde há uma grande concentração de pessoas de diferentes países, hábitos e culturas, sempre há riscos de problemas, incluindo conflitos. Os haitianos são muito cordiais, mas quando há muita gente na rua, com bebidas alcoólicas, porque eu vi que lá eles têm elas, e vivendo em situação de desespero, qualquer lugar do mundo pode virar conflituoso. Então, querer fechar os olhos para isso pode fazer tudo virar uma grande tragédia humana.

A GAZETA – Que tipo de sofrimentos e extorsões  os haitianos lhe confessaram ter vivido?
J.V.: Conversei com muitos deles e me contaram o quanto sofreram na vinda para cá. Muitos se submeteram a práticas criminosas no caminho. Há verdadeiras máfias [4 que se tem conhecimento] para trazê-los para cá. Foram até saqueados no Equador, e as grávidas e crianças [há mais de 150 delas] sofreram bastante com isso. Mas, além do sofrimento, pude ver o sonho deles de serem bem acolhidos. E eu acredito que devemos fazer isso de uma forma digna, porque é um gesto humanitário. Eles merecem ser acolhidos porque são refugiados. E, em outros países, refugiados são acolhidos não por estados, mas sim pela ONU.

A GAZETA – Quais mais ações o senhor estará tomando para evitar esta tragédia anunciada?
J.V.: Nesta terça, o senador Aníbal e eu vamos fazer uma reunião com o governador Tião Viana e juntos vamos seguir pressionando para que haja a vinda presencial dos ministérios e até de comitivas parlamentares para que haja uma resolução o quanto antes para esta situação.

Governador Tião Viana e senadores do Acre se esforçam para solucionar questão dos haitianos
A questão dos haitianos é um problema do mundo, e agora, mais especificamente do governo brasileiro, já que milhares deles têm entrado no país e procurado refúgio no Acre. A observação é do governador Tião Viana, que pediu apoio dos senadores Jorge Viana e Aníbal Diniz para buscar uma solução para o caso. Hoje o governador manteve contato com o ministro da Justiça, Jo-sé Eduardo Cardoso, que prometeu um empenho bem maior na problemática.

Os haitianos entram no Brasil através da fronteira peruana e chegam a Brasiléia, onde permanecem até conseguir a emissão de documentos, seguem para Rio Branco e depois ficam disponíveis para o mercado de trabalho. A grande maioria deixa o Acre para trabalhar em grandes empresas. A rota de imigração foi estabelecida em 2010, após um terremoto ter assolado o Haiti, deixando a população em situação de total miséria, sem emprego e sem condições de vida. A tragédia vitimou mais de 220 mil haitianos e deixou 1,5 milhão de desabrigados.

Em pronunciamento na tribuna do Senado nesta segunda-feira, 8, o senador Jorge Viana (PT) alertou o governo de Dilma Rousseff para o agravamento da si-tuação de “refugiados” estrangeiros no Acre. “Há uma situação de absoluto caos, com 1,280 mil pessoas concentradas em um barracão, à espera de uma solução”, denunciou, após visitar a cidade de Brasiléia e conferir de perto a situação. Os imigrantes representam, segundo levantou o gabinete do senador Jorge Viana, 10% da população urbana da cidade. O senador agora quer uma audiência pública com a presidente para tratar do assunto. “É um problema que precisamos resolver, num esforço conjunto”, declarou.

Em seu pronunciamento, ele citou números que mostram o grande fluxo de haitianos no Acre, desde 2010. Até o fim de 2011, 1.593 haitianos entraram no país. De janeiro a dezembro de 2012, mais 1,9 mil ingressaram no Acre. Do começo deste ano até 8 de abril, outros 1,7 mil. “Eu os chamo de ‘refugiados ambientais’”, lamentou.

Solidariedade – O senador lembrou que o Governo do Acre é solidário ao drama humano, mas não tem condições de garantir as condições mínimas para os imigrantes. “O governador Tião Viana tem feito o que pode, mas a situação está se tornando grave do ponto de vista social, porque não há como garantir condições mínimas”, disse. “A situação saiu absolutamente do controle”. (Agência Acre)

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