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A crise da leitura entre nossos alunos

 Tenho observado, nos últimos anos, uma crise aguda sobre leitura. Os jovens de hoje não sabem ler, mesmo quando chegam às universidades. É um problema que nasce no Ensino Fundamental, passa pelo Médio e alcança o Ensino Superior. Há universitários que lêem letras, mas não entendem o sentido de palavras. Vive-se verdadeiro caos no campo da leitura. Por isso, defendo a tese de as escolas instituírem a disciplina Leitura/Escrita na grade curricular. Quem não sabe ler letras nunca vai aprender a escrever palavras, ordenar com clareza o pensamento. Quem não entende o sentido de um texto não saberá escrever outro texto. É uma lógica! Como ensinar a escrever a alguém que não sabe ler?! É como nadar, nadar e nunca alcançar a praia.

 Estudo recente aponta que 64% dos jovens e adultos brasileiros, que chegaram até a quarta série, não conseguem ler e entender um simples bilhete. Outros 12% continuam completamente analfabetos, mesmo após os quatro anos de estudo. Os números se baseiam em pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).

 E por que isso acontece? Qual problema ocorre nas escolas, em relação ao ensino de Língua Portuguesa? Porque os estudantes não sabem ler e, conseqüentemente, escrever? Creio que durante anos o ensino não se destinou à produção, à leitura e à interpretação de textos. Os professores desperdiçam tempo ensinando regras gramaticais que os alunos abominam. Há até aqueles que se especializam em “pegadinhas” e acreditam que ensinar Língua Portuguesa se reduz a isso. Esquecem-se de que nada servem as “pegadinhas” quando o aluno não sabe ler nem escrever um simples bilhete ou dá um recado. Atitudes como essa fazem os alunos detestarem o ensino da gramática.

 A realidade do mundo atual requer leitura e mais leituras. A vida está permeada por leituras, as mais diversas: ler o tempo, a vida, as pessoas, a chuva, o vento, o rio que sobe e desce, o carro que corre, o trânsito caótico, a cidade limpa, os políticos que fazem promessas, as propagandas das lojas, as lições da escola, as mensagens dos namorados, as recomendações dos pais, os ensina-mentos religiosos, tudo exige leitura. Quem não ler pode ser enganado, traído, ludibriado.

 Hoje, a sociedade exige do profissional, seja ele engenheiro, advogado, jornalista, dentista, analista de sistemas, juiz, professor, médico ou enfermeiro, a capacidade de passar para o papel todos os seus estudos, divulgando assim o seu trabalho. Para isso, é preciso alguns conhecimentos específicos de elaboração de texto e, o principal, exige de qualquer um muita leitura. E aquele que não souber ler não vai conseguir escrever, mesmo para dizer daquilo que faz ou deseja fazer. Não poderá escrever nem sobre aquilo que sonha ou deseja na vida.

 Por outro lado, em inúmeras faculdades, o que se vê são pessoas, quase formadas, com imensa dificuldade de ler um texto e escrever outro. Essa dificuldade se explicita quando o profissional necessita fazer uma tarefa da graduação ou da pós-graduação. Aí se avistam analfabetos de toda ordem. E muitos com títulos de graduação, mas que não sabem ler e nem escrever. Não coordenam um raciocínio lógico. Quando são solicitados a fazer uma leitura, ao final dela, não sabem dizer do que fala o livro ou o texto. Lêem as letras, as palavras, mas não compreendem os significados que transportam.

 Esses casos ilustram a importância que as escolas devem dar à leitura. Não desejo com isso dizer que o estudo gramatical não seja importante. Ele também se faz necessário. Pois na hora de elaborar um texto deve-se saber utilizar, corretamente, os sinais de pontuação, saber ortografia, acentuação, o uso da crase, as concordâncias verbal e nominal, as regências verbal e nominal. Devem-se, também, conhecer e dominar dois importantes elementos textuais: coesão e coerência. Pois sem eles o texto perde a intenção de comunicação, ou melhor, de intercomunicação.

 Conclui-se dizendo que o coti-diano do ato de ensinar revela que a maior prova da competência teórica do professor está na sua vocação para “saber fazer” o aluno ler, escrever, inventar, com seus pró-prios recursos cognitivos, e levá-lo para além dos autores. Um verdadeiro salto na qualidade do ensino e da aprendizagem é conseguir fazer com que os estudantes desenvolvam uma atitude de “iniciativa” de leitura. Isso seria uma “prática de liberdade”, como preconiza Paulo Freire (1976). O sujeito “libertado” – conscientizado – estaria preparado para ler os acontecimentos do mundo e desvelar as falácias divulgadas pela mídia, pelos governos e pelo saber canônico existente nas escolas e nas universidades.

Categories: Luísa Lessa
A Gazeta do Acre: