Como professor de escola pública, vez ou outra, me deparo com algum estudante me perguntando se acredito em Deus. Professor, realmente, você acredita Nele? As perguntas não são nenhum teste para saber se sou ateu ou se tenho alguma frase de cunho bíblico para soltar. Costumo dizer que sim. “Eu acredito”.
“Mas, você sabe que a ciência não prova a Sua existência? Nunca se viu a cor dos olhos de Deus”, disse-me um deles. Realmente, em parte, estão certos. Há ainda muita margem para a descrença num Criador Onisciente e isso é natural porque não faltam inúmeras correntes defensoras da não existência de um ser supremo, que rege o Cosmo e que está intimamente ligado às suas criaturas.
Costumo então falar-lhes que não podemos provar a existência de Deus pura e simplesmente pelos sentidos, mas pelo que está oculto por detrás deles. Podemos senti-lo, por exemplo, nos momentos de aflição, quando acreditamos que nada mais faz sentido senão a tragédia e aí saímos do flagelo, sentindo uma presença inexplicável que vai muito além da nossa ignorante compreensão. Um lance de sorte? Não creio.
Diferente do que podemos achar, cientistas não pensam em descartar que Ele exista. Na última década, dezenas se dedicaram ao tema de forma tão profunda quanto os confins do Universo. Gente como o inglês John Pol-kinghorne, colega de Cambridge de outra mente brilhante, Stephen Hawking, e que escreve hoje sobre “cristianismo quântico”. Tudo bem que abraçou o pastorado anglicano, após duas décadas e meia dedicado à pesquisa.
Mas sabe o que diz sobre o tema física quântica e matemática do caos, as duas disciplinas que lançaram nova luz à ciência, ao sugerir que deve haver uma harmonia universal regida por uma Consciência Única? Ele diz: “Ambas teorias mostram que existe uma imprevisibilidade inevitável espalhada por toda a natureza. Não acho que isso deva ser interpretado como uma infeliz ignorância de nossa parte e sim como sinal de que os processos físicos são muito mais abertos do que a mecânica de Newton sugeria. Quando falo ‘abertos’, quero dizer que existem outros princípios causais em ação, acima e além das trocas de energia que a física descreve”.
Em outras palavras, tudo no Cosmo mostra uma ‘intenção’ e uma ‘consciência’. Há para cientistas assim engenhosidade e criatividade nas leis da natureza, que facilitam a sua riqueza e diversidade.
E como resposta aos que não pensam na ciência como um meio de enxergamos Deus, lá vai outra dedução, do brasileiro Newton Bernardes. “A ciência depende da linguagem. A religião, não. Ela está no campo do indizível e aí temos que abandonar a razão: só resta a fé. Mas pode existir, sim, conhecimento sem linguagem. Essa é uma limitação da ciência”.
Resley Saab é jornalista.
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