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Morhan realiza encontro estadual

 O Acre recebeu uma programação especial promovida pelo Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). Ontem Rio Branco sediou o Encontro Estadual dos Filhos Separados pelo Isolamento compulsório de pacientes com hanseníase, política pública vigente no país até a década de 1980.

 Elson Dias, coordenador estadual do Morhan, ressaltou que o encontro é uma das formas de sensibilizar o Governo Federal para aprovação de uma lei. “Hoje é pago uma indenização para as pessoas que foram internadas e isoladas nos hospitais colônias. Os filhos que nasciam dentro dos leprosários eram imediatamente separados. Essa indenização que o governo reconheceu para os pais deve se estender para os filhos. Desde 2010 estamos nessa luta”.

 Além disso, o movimento que fazer o reencontro dass famílias separadas. “Muitos nem sabem que são filhos adotados ou que nasceram em leprosários. Com nossa mobilização, já conseguimos fazer o reencontro de cinco famílias. Mais de mil pessoas no Acre foram separadas dos pais. No Brasil, estima-se mais de 20 mil”, disse Elson.

 Caso a lei seja aprovada, o Brasil será o primeiro país indenizar as pessoas que foram separadas dos pais, enfatizou Arthur Custódio, coordenador nacional do Morhan. “Precisamos conversar sobre as estratégias que façam com que o Governo Federal acelere esse processo de indenização. O governo nos indica que já está convencido que houve um crime de Estado, só resta estudar o mecanismo para qual forma de indenizar essas pessoas. Na época do governo Lula, ele indenizou as pessoas que tiveram nas antigas colônias. O Brasil foi o segundo país do mundo a fazer isso e provavelmente a gente possa seja o pioneiro a indenizar”.

 Raimundo Nonato da Silva, 63 anos, foi um dos pacientes da Colônia Souza Araújo. Foi separado da esposa e da filha ainda jovem, passando 32 anos no local. “Naquela época o preconceito era muito grande e nós não podíamos ficar com nossos filhos. Na hora que eles nasciam, eram colocados em cestos e iam deixar no Educandário ou entregar para a família. Muitas vezes nem os familiares queriam ficar com a criança, com medo de ela ser doente também. Tanto a gente como os nossos filhos sofreram. Passamos anos em um lugar isolado, sem poder dar amor, carinho de pai. Muitos deles nem sabem da existência da gente. Indenização nenhuma paga o sofrimento que passamos”.

 Marilza de Assis, filha de Raimundo, só conheceu o pai aos 19 anos de idade. “Eu tinha seis meses quando o meu pai foi levado para a colônia. Eu sabia que eu tinha um pai, mas não sabia onde ele vivia. Fui perguntando, me informando e depois de tanto cobrar a minha mãe, ela me levou para conhecê-lo. Desde então, nós não nos separamos mais. O tirei de lá, hoje meu pai mora comigo. Agradeço à Deus pela oportunidade de estarmos juntos”.

 Já Erivaldo de Assis nasceu na Colônia Souza Araújo, mas foi retirado do local imediatamente. Ele conta que só conheceu os pais na adolescência. “A situação é muito difícil. Somos sobreviventes daquela época. Por muito tempo fiquei sem meu pai e a minha mãe, é como se estivesse largado em qualquer lugar. Hoje é um prazer imenso tê-los ao meu lado”.

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Elson Dias, coordenador estadual do Morhan

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