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Pessoas diagnosticadas com câncer têm garantia de atendimento rápido no Acre

 Pacientes com câncer deverão ter o início de seu tratamento assegurado em no máximo 60 dias após a inclusão da doença em seu prontuário. Prevista na Lei 12.732/12, já sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, a medida, que entra em vigor no próximo dia 23, teve a sua regulamentação detalhada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O prazo máximo vale para que o paciente passe por uma cirurgia ou comece sessões de quimioterapia ou radioterapia, conforme a prescrição médica.
No Acre, a lei apenas reafirma o trabalho que já vem sendo desenvolvido pelo Hospital do Câncer (Unacon). A garantia vem da diretora geral, Mirian Késia Labs, que aponta a Saúde no Estado como diferenciada. Em alguns locais do país, a espera chega a superar os 90 dias. Já na realidade local, o atendimento é realizado, na maioria das vezes, em menos de 1 semana.

“Não há fila de espera no Hospital do Câncer. Por isso, esta lei não nos assusta. Teremos apenas que ampliar os serviços já oferecidos aqui. Quando o paciente chega, ele faz a quimioterapia e a radioterapia no mesmo dia”.
Outra exigência da lei é a existência de um 3º turno de atendimento, ou seja, os períodos da manhã, tarde e noite devem estar preparados para receber uma demanda a qualquer instante. O que, segundo a diretora geral, já acontece na Unacon, devido a um problema que deixou a Máquina do Cobalto inoperante por 35 dias, resultando na paralisação das seções de radioterapia durante todo o mês de março. Portanto, para retomar a rotina, as equipes atendem 24h, até o momento em que não haja mais ninguém na espera.

“Para voltarmos ao antigo equilíbrio, estamos trabalhando os 3 turnos. Antes deste problema, só trabalhávamos manhã e tarde, porque simplesmente não havia tanta procura e a equipe disponível supria todas as necessidades. Mas este acúmulo só aconteceu porque a máquina quebrou”, explica.

 A lei também prevê a criação de um Sistema de Informação do Câncer (Siscan), um software disponível gratuitamente para as secretarias de saúde e que reunirá o histórico dos pacientes e do tratamento, possibilitando acompanhar o panorama da doença. O prazo para a implantação do sistema é até agosto.

 Mirian Késia afirma que todo o conteúdo a respeito dos serviços oncológicos já é registrado em um sistema do hospital e que existe uma pessoa exclusiva para esse trabalho. O que será providenciado no momento é a transferência destes dados para o Siscan.
Medicamentos – O Acre possui uma vasta lista de remédios para o tratamento de câncer na rede pública. Sendo que 14 deles estão fora do protocolo do Ministério da Saúde. Ou seja, a compra dos produtos é de autoria do governo estadual.
Em 2012, os gastos com medicamentos somaram R$ 7.500.000,00. Destes, R$ 2.134.000,00 foram injetados pelo Estado.

“Somos um dos únicos estados que oferece todos os medicamentos necessários. Quando falta algum aqui no nosso hospital, é porque a crise é geral, em todo o país. Afinal, temos o recurso necessário”.

 No Brasil, o Ministério da Saúde também tem investido no tratamento dos pacientes com câncer. De 2010 a 2012, o Governo Federal disparou 26% m verbas para a área – de R$ 1,9 bilhão para R$ 2,1 bilhões. Com estes recursos, foi possível ampliar em 17,3% o número de sessões de radioterapia, saltando de 7,6 milhões para mais de 9 milhões. Para a quimioterapia houve aumento de 14,8%, passando de 2,2 milhões para 2,5 milhões.

Expansão – Apesar dos números positivos sobre o atendimento rápido da Unacon, ainda há muito que avançar, admite a diretora geral.

 Atualmente, o Hospital do Câncer não dispõe de leitos e salas de cirurgia no próprio espaço. Nesses casos, o paciente é encaminhado ao Hospital das Clínicas. Mas existe um projeto de expansão do local para 2015. Um investimento estimado em R$10 milhões.
“Quando tivermos realizado essa expansão física, com certeza seremos levados ao status de Centro de Atendimento ao Câncer. Porque a única etapa que não estamos conseguindo realizar hoje é a pesquisa, devido à falta de espaço. Mas em 2015 teremos a residência e a pesquisa”, determina.

Dados – No Acre, há 4.200 pacientes cadastrados no Hospital do Câncer e de acordo com a direção, são raros os casos de Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Isso porque o governo estadual tem investido amplamente na área.
Mas ainda é preciso que a população se lembre de prevenir doenças malignas. Jamais se esquecer de ter em dias os exames e consultas médicas. Esse simples ato pode salvar vidas.
No Estado, das pessoas com câncer, 55,5% são mulheres, na maioria com doenças que atingem o color do útero e a mama. Os homens representam 44%, sendo que 25,5% deles possuem câncer de próstata. Crianças estão na média dos 6%.

Para quem espera a cura, o tratamento é a garantia de um amanhã

 A dona de casa Maria José Feitosa está dentro da estatística de pessoas que adquiriram câncer de colo do útero. Aos 59 anos, ela começou a sofrer fortes sangramentos. Desesperada, veio de Cruzeiro do Sul até a Capital descobrir o que estava afetando a sua saúde. Foi quando o pior aconteceu. Maria José descobriu que, na verdade, tinha um tumor maligno. E, caso não começasse um tratamento urgentemente, poderia morrer.

 “Eu estava sangrando muito e sentia fortes dores. A minha família me incentivou a vir para Rio Branco. Fiz a consulta com a médica e ela me pediu para providenciar um diagnóstico, pois eu tinha fortes chances de estar com câncer. O problema maior foi à espera pelo resultado dos exames: 2 meses. Parecia uma eternidade”.

 Neste período, Maria José procurou abrigo na casa de apoio Amigos do Peito, pois não tinha onde ficar na Capital e precisava iniciar a radioterapia.
“Quando o resultado saiu, eu já sabia o que fazer. Procurei o Hospital do Câncer e em 4 dias fui atendida. Esta é a minha 2ª seção do tratamento. Até agora não senti nada muito forte. Apenas náuseas, o que me disseram ser normal”, comenta.
Na mesma fila em que Maria José esperava pelo atendimento estava o aposentado Edson de Souza Lopes, 71 anos. Apesar de ser um homem de expressões fortes e uma aparente saúde vívida, ele não escapou do pesadelo que atormenta milhões de homens no mundo inteiro: o câncer de próstata.

“Descobri o câncer por acaso. No ano passado, em minha fazenda, peguei um resfriado que se transformou em uma pneumonia. Neste momento, percebi algo diferente em minha urina. Fui ao urologista, que indicou alguns exames. Constatei que começava a surgir um probleminha na próstata. Com isso, precisei ser rápido e agir numa luta contra a doença. E agora estou aqui, realizando a radio. Esta já é a minha 4ª seção e não senti nenhuma consequência dos tratamentos, nem mesmo enjoo”, comemora ele.
Edson Lopes afirma que receber uma notícia como essa é sempre um choque emocional. Afinal, ninguém espera chegar à terceira idade e precisar lutar contra um câncer perigoso, que já tirou a vida de tantos homens. Ainda assim, esperança é uma coisa que não lhe falta.

“Lembro quando abri o resultado do exame. Estava com a minha filha e só consegui chorar. Achei que iria morrer logo. Ao chegar em casa, minha esposa começou a dizer que essa doença não era mais forte do que eu e que juntos iríamos superar tudo. Nesse momento, me apeguei na fé. E tem sido isso que restaura todos os dias a minha vontade de viver. Se você me perguntar se estou com medo, direi que não e que a certeza é de que ficarei bom”.

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