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Despertar

Era um pouco antes das 6h da manhã quando o rapaz acordou. Ele ficou ainda alguns minutos encarando o teto. O cheiro do café o fez se arrastar até a cozinha. Na mesa, os pais e a irmã faziam a refeição em silêncio.  Logo cada um seguiu a rotina: escola, trabalho, pagamento de contas. O jovem, porém, foi ao encontro dos amigos. Não iria para a universidade naquele dia.

Desde que nascera o rapaz fora levado a acreditar que na vida existem pessoas que pensam no coletivo e as que são egoístas. Em seu país eram comuns atos de corrupção, políticos enganadores, situações de extrema miséria e a desvalorização da educação.

A nação vivia sem fé, sem rumo, simplesmente ia levando, dia após dia, sobrevivendo. As pessoas haviam se conformado com um emprego, cesta básica e moradia. Em frente às suas televisões ligadas, os jornais anunciavam escândalos, crimes terríveis contra a inteligência da população. O dinheiro público havia se tornado alvo fácil de espertalhões, que ignoravam o que realmente deviam estar fazendo no poder. E ninguém acreditava de fato que os responsáveis ficariam presos.

No entanto, aquele dia era diferente. Após um pequeno grupo de manifestantes terem iniciado o Movimento Passe Livre, que sensibilizou não só a cidade onde surgiu, mas todos os cantos do país, as diferenças caíram sem chances.

Na universidade em que o rapaz estava matriculado, vários estudantes abraçaram a causa. O difícil mesmo seria pautar uma só exigência, afinal, foram anos de conformismo da população e de administrações equivocadas. Falhas que precisavam ser reparadas com urgência.

Mas o jovem não culpava apenas os gestores do país pelos problemas da nação. Afinal, o que poucos entendem é que os grandes responsáveis pela construção de um lugar são seus habitantes. A mudança precisa partir de cada um e se o local onde morava havia chegado a tal ponto, a culpa também era sua, quando deixou tanta carga em mãos erradas e aceitou durante anos os crimes contra a sociedade.

O que ele, assim como a maioria das pessoas, tinha esquecido é que a política não está restrita somente ao legislativo. Todos fazem política quando convencem alguém sobre algo.

Naquele dia ele iria lutar pelos seus ideais. Era a hora dos jovens do país esqueceram as modinhas estrangeiras e tornarem suas casas aconchegantes. “Por que ir para o exterior em busca de qualidade de vida, quando se pode ter isso aqui?”, ele se questionava.

O rapaz procurou um bom lugar na fileira da frente do movimento e junto com outros milhares de manifestantes iniciou a luta. Nem ele, nem ninguém sabiam o destino de tudo aquilo, mesmo assim olhou cheio de fé e esperança para o lado e disse em tom audível: “vamos lá transformar o país”.

* Brenna Amâncio é jornalista.
E-mail: brenna.amancio@gmail.com

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