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Rio Acre, nosso cordão umbilical nunca será cortado no máximo esticado

Rio Acre, a humanidade é assim, quebra as margens da fonte que um dia sabemos, vai nos deixar com sede. Nem com sede Rio Acre, nosso cordão umbilical será cortado do teu vale, no máximo esticaremos para o renascimento, assim como, as plantas brotam cheia nas cheias. Cheia de esperança é a senha para vivermos eternamente contigo.

Todavia, sinto que nosso descuido faz girar um girau de  margens pensa. Ou te fazer dormir no silêncio de um rio quente que sente a ausência de botos.

Engasgo-me com atos inumanos da humana humanidade, diante da grandeza de um rio que serve a mesa da solidariedade solidário, molhado de emoção.

Contudo, para não te vê solitário, abraço águas que vem e que passam. Ao menos siga aquelas que chegam no silêncio da noite subindo  e descendo o barranco. Por vezes falando baixinho querendo ficar.

Sinto que há mistério no teu caminhar. De fato, neste vale, o que vale é explorar a natureza em curso de forma resoluta fundado nas moedas de trocas que quase sempre nos deixam de mãos vazias. Ainda assim, não esqueçamos que consciência não é moeda de troca, nem anda na consciência  torta. Dessa forma o rio semeará a lavoura na mesa da humanidade, para além das margens de um vale, que prover a vida.

Rio Acre, da varanda em cordilheira lhe vejo se torcendo, incomodado, falando, gritando, gotejando bicas de incompreensão. Ao invés de revidar o mal que te impõem oferece o amor que lhes falta, em forma de perdão que tanto necessitam.

Majestoso, respira fundo, faz uma prece profunda.  Vai meu Rio. De dia, segue sempre a luz do sol e a noite a luz da lua de prata. Aquece-te neste caminho, que tua água há de mudar. Sinto profunda ansiedade, vá devagar, entre nas margens do coração, movido pela emoção que muitas vezes  ultrapassa os limites da razão. Mas neste barco só a palheta e o remo controla seu norte, sua direção.

 Muito embora, a vida lhe inunde, sufoque, haveremos de descobrir o mundo navegando em ires de água rala. Olhos olham para um rio que inunda. Rema cultura fluindo nascentes em água doce, de um doce rio que quer ser apenas um rio.

Um Rio, no Rio em prantos quentes nos faz refletir que os anos de dor e solidão vão ficando atrás das portas enferrujadas, encaliçadas separando a vergonha. O desprezo por não sentir teu forte tempero espalhando paixão, abrindo corações para ouvir canções em margens desarrumadas, me leva inteiro ao vale da oração.
O rio da natureza emite hinos e cantos que encantam na mais profunda escuridão, até aqueles que vivem eternamente remando em águas mansas. Alguns ouvem triunfando, chega se ralando em margens cimentadas, petrificadas, rebocadas.

Rio Acre eu quero a cheia mais longa que houver, poder baixar na canoa que vier, então que venha desafinada, discordada descabelada, desarrumada, descompassada passando entre cheias e secas, por invernos e verão sem ter ou ver o tempo que embala ou abala o silêncio.  A cheia Cadencia e harmoniza um rio entres noites e longos dias.
De tudo e em tudo, tens um Acre nadando, remando, se encostando na vida humana que nunca marca horas e nem tempo a fora. Teus afluentes se juntam no vale como o semeador junta gravetos para acender a chama que te chama pra vida.

Entendo, Rio Acre, você não é grande mas abro a mata com a mão pra te ver pela soleira da floresta, correndo molhado, embrulhado, envolvido com a argila. Brilha cores de todas as cores. Não esqueça, cada rio tem um vale, mas também tem pedras pra lapidar.

O que traz no veio traz na cheia?  me parece meio cálice de lágrimas contidas na face da vida. Ou são vozes perdidas, sentidas, reprimidas, contidas nas melodias que só o balseiro no aceiro canta rasteiro ao longo da beira?

Rio Acre, o sonho de toda criança é arrancar e amassar argila fresca. Fazer um rio de altas beiras, na beirada do barranco. Pular  e descer na corredeira. Ouvir cantos e encantos.  Abraçar galhos, folhas e flores nos dar certeza que toda cheia vira suave.  Assim, me sinto mergulhado num lago a espera de um rio que chega perambulando sem entender o ser, sem nada ser.
Adormecer na face de uma fonte distraído e não ver a cheia chegar é como cantar para o amor não chorar é ver a bondade flutuando,  o mundo num barco chegando, rios se encontrando na  boca de um meandro.

Rio Acre navega sereno, encosta o pé no vento, encaixa a quilha, enlaça envira. De passeio na ilha, apruma a quilha. Segue o horizonte da vida, finca vaidade na mira. Leve na tenda versos e presentes, especiarias que inundam rios de formação emergente.

* Claudemir Mesquita é professor, escritor membro da Academia Acreana de Letras e presidente da Associação Amigos do Rio Acre.

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