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Telexfree ou Telexfria?

A semana que passou foi de tormento para muitos acreanos que apostaram na Telexfree. A liminar da juíza Thaís Khalil, da 2ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco, mantida pelo Tribunal de Justiça do Acre causou indignação entre os divulgadores de todo o país.

Alguns sem juízo chegaram a ameaçar Khalil de morte e outros agrediram um colega de imprensa no Terminal Urbano de Rio Branco, que só estava lá para retratar o drama pelo qual muitos passam. Os ânimos estão acirrados e as opiniões divididas, mas parece que ambos os lados têm razão.

É lastimável ver famílias endividadas, como a que se desfez da casa por R$ 100 mil para morar de aluguel, se aventurando numa pequena fortuna nos 12 meses seguintes. Dá dó ouvir relatos de pessoas que contraíram empréstimos, que arranjaram dinheiro com o vizinho, tiraram grana dos cofres da irmã ou arrebataram alguma economia da poupança, a minguada poupança de magros juros, só pra entrar no negócio. Lamentável!

Mas é ofício do Ministério Público do Estado  investigar e coibir práticas ilícitas, que talvez sim ou talvez não, seja o caso da Te-lexfree. Mas cá entre nós, deixando de fora as razões e as contrarrazões disso tudo – já que também adquiri um plano e tirei o que investi – chego a conclusão de que é realmente muito estranha a forma avassaladora de ganhos com a postagem de anúncios que pouco sabemos como funcionam.

Numa das primeiras reportagens que fiz sobre o assunto, perguntei a um dos divulgadores mais bem sucedidos da Telexfree no Acre o fato de pouco se divulgar o sistema de telefonia VOiP em si. Ele me respondeu: “Ele existe” e fez funcionar comprovando o que me dizia. Mas a grande verdade é que esse não parece ser o objeto principal da empresa.
Há inúmeros fatores que caracterizam uma empresa de mar-keting multinível e alguns deles é o foco no produto em si, muito mais do que na forma de compartilhamento de lucros entre pessoas. Empresas assim costumam ter um consumo muito alto de seus produtos fora da rede. Significa que existem mais pessoas fora dela cadastrada, e utilizando seus produtos, que dentro.

Este não parece ser o caso da Telexfree, já que o VOiP, pelo menos em Rio Branco, é relegado a segundo plano.

Quer outro exemplo? A empresa de rastreadores de veículos, cujos artefatos são igual ‘orelha de freira’: ninguém os vê. Será a próxima da vez. Mas disso tudo, uma coisa é certa: o bloqueio das contas e os inúmeros boatos a toda a hora na internet só serviram para alimentar ainda mais a frustração de muitos, alguns até desempregados que viam neste sistema a forma ideal de obter um pouco mais de conforto financeiro.

Para muitos, ainda é incompreensível que as investigações do MPE – e agora do Ministério da Justiça, com indícios de lavagem de dinheiro – possam ter um desfecho negativo. Como dizia um dos já desesperançosos: “Sabia que era só um sonho, mas não quis acordar”. Resta-nos esperar o desfecho dos próximos dias.

Resley Saab é jornalista.
E-mail: saabresley@gmail.com

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