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Viva a fé (e a caridade!)

  Há uma revolução religiosa em curso. Pequena, porém, viva e contagiante. Ela ainda é uma fagulha em meio à aparência do ‘fogo’ das grandes denominações cristãs no Brasil, sobretudo aquelas pentecostais, que são muito mais centradas no indivíduo que busca a própria salvação (e que também pode contribuir com o dízimo para a expansão de templos pomposos, quase sempre, desvirtuados de finalidade), do que propriamente na caridade, no altruísmo, na ação prática do bem aos carentes.

  Longe de ser dono da razão, enquanto convivendo com amigos e familiares evangélicos enxergo uma profunda religiosidade antropocêntrica – focada no próprio homem -, ‘na minha salvação primeiro’; depois, quem sabe, a tentativa de convencer o meu próximo a aceitar Jesus, garantindo-lhe também um lugarzinho mais perto do trono de Deus; é certo que o meu já está garantido!

  O que é animador, porém, é ver que já existem líderes religiosos preocupados em incutir em suas ovelhas a ideia de que muito mais importante que sentarem num banco de igreja – e orarem por elas mesmas -, está a obrigação de ir até os realmente necessitados. A de dar conforto aos que realmente precisam, sejam nas esquinas das cidades à noite, onde o crack ceifa vidas, sejam nas penitenciárias, simplesmente, ouvindo quem tem necessidade de ser escutado (e não se fazendo escutar por imposição de doutrina que, geralmente, mais afasta do que aproxima os que estão em situações miseráveis).

  Viver a fé não faz sentido, seja para evangélicos, católicos, umbandistas, daimistas, xintoístas ou qual denominação mais for, se ela não vier arraigada de caridade com o próximo e de compreensão pelas minorias, sejam elas gays, negros, pobres, dependentes químicos, ignorantes, ou quantos mais rótulos forem criados. Viver só pela fé não faz sentido algum a quem se esquece de compreender, por exemplo, Lucas 10:27 quando diz: “Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o coração […e] o seu próximo como a si mesmo”.

  Aliás, sobre isso, vejamos o que pensa o Nobel da paz Desmond Tutu. O pastor anglicano sul-africano mostra a sua incrível solidariedade com um povo, antes segregado pelo apartheid, no seguinte: “Na história que conta sobre o Juízo Final, Jesus Cristo diz que nós é que nos determinamos aptos ao céu ou ao inferno ao fazermos ou não certas coisas. Na lista que ele dá, em lugar nenhum está escrito: “Você vai pro céu só porque orou ou porque foi à igreja”.

  E continua Tutu: “Agora não digam que eu disse que ele pensava não serem importantes tais coisas, mas é significativo que não as tenha men-cionado – ele menciona alimentar o faminto, vestir o desnudo, visitar o doente e os presos”.

  Pois então, quantas vezes você já fez isso? Nenhuma? Vixe irmão, então corre, levanta o traseiro do banco….Alguém te espera lá fora da igreja!

* Resley Saab é jornalista.
E-mail: saabresley@gmail.com

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