As inovações tecnológicas têm exigido esforço adicional para que algumas empresas se mantenham no mercado e consolidem marcas e produtos. Dois setores varejistas se destacam nesse aspecto: o do mercado fonográfico e o fotográfico.
Marciano Cardoso está no mercado fonográfico há 35 anos. Há 32 resolveu abrir a Discardoso, a mais completa e eclética loja de discos do Acre. Localizado na Galeria Meta, o empreendimento vende de Aretha Franklin a Luiz Gonzaga, passando por Bach e Beatles.
No processo de transição do LP para o CD a loja sofreu adaptações, mas a julgar pela leitura de Cardoso, o espírito do cliente permanece inalterado. “O cara que não gosta de música nem entra em uma loja dessas”, analisa o empresário. “O cara tem que ser amante da música”.
Sobre o impacto da chegada na internet nas vendas de CDs, Cardoso minimiza. “Tu não compras uma camisa porque tu viste na internet. O CD é do mesmo jeito, apesar do cara poder ouvir na internet, ele quer pegar no produto. Ele quer ouvir aqui. Ele quer ver o gráfico dos encartes internos. Na verdade, a internet me ajuda a vender”.
Há casos de apreciadores de música manterem o primeiro contato com o trabalho de um artista ou banda na internet e, de lá, partem direto para a loja de discos. O empresário aponta outro foco na discussão sobre novas tecnolo-gias e os impactos no mercado fonográfico. “Os problemas não foram as novas tecnologias”, diz. “O problema foi a pirataria”.
O radialista e também vocalista da banda Camundogs, Aarão Prado, é um apreciador de música. Tem mais de dois mil títulos originais em casa. Cliente assíduo de Marciano Cardoso, é fã incondicional da irlandesa U2 e acompanha toda movimentação da banda por meio da internet e revistas especializadas. Tudo on-line. Inclusive, os primeiros acordes de algum lançamento do grupo. Mas, não abre mão do CD.
“Tem um monte de valor agregado em um álbum físico, em um disco, que, por mais funcional que seja a internet, ela não consegue ter no mesmo patamar”, avalia. “Quando você compra um disco, você tem um trabalho da capa, que foi feito por um artista; você tem a sensação de estar ouvindo um produto original, que é indescritível, e que não se consegue baixando o MP3”.
Prado afasta qualquer possibilidade de ser saudosista. “Não se tem que gostar ou deixar de gostar da internet, temos que nos adequar a ela porque é uma realidade”, diz. “Tenho vida virtual ativa e também baixo muita música pela internet e ouço muitas bandas. Mas, se eu gosto do trabalho, eu vou à loja e compro o disco”.
“A criança e o jovem não têm necessidade de registrar lembranças”
O mercado fotográfico foi outro que sentiu muito a entrada da fotografia digital. Há algum tempo, havia expectativa ao entregar um filme de 36 poses para ser revelado. O instante da lembrança registrado em um negativo gerava muitos empregos e uma poderosa cadeia de consumo.
A fotografia digital trouxe muitas novidades e paradoxos. A magia da revelação acabou, para o fotógrafo não profissional. Vê-se o resultado do registro instantes após a foto “batida”. Se as imagens agradaram, “salva-se” em um computador e ali ficam. Raramente, são reveladas. Ou, caso decide-se ampliar a imagem, escolhe-se pontualmente foto a foto.
Benigno Ramos de Souza tem 63 anos e 45 de fotografia. Já trabalhou em diversas redações de grandes jornais do Brasil. Resolveu sair do jornalismo e se dedicar à Casa da Fotografia. Otimista e inquieto por natureza, acredita que ainda há espaço no mercado para o setor.
A história da Casa da Fotografia, há 15 anos no mercado, justifica o olhar otimista. Com duas lojas em Rio Branco e três em Porto Velho, o negócio vai bem, mas teve que haver adaptações. “Tive que demitir alguns funcionários para continuar no mercado. No mais, isso não me atingiu muito porque sou um batalhador”, afirma o empresário. “Imagine é que é alguém revelar duzentos filmes por dia e passar a fazer nada por dia?”.
Na transição do sistema de filmes para o digital, havia máquinas que custavam até R$ 500 mil. Souza não tinha esse capital e comprou apenas partes do sistema que possibilitaram ampliações digitais mais simples. Com o tempo, o empresário foi se adaptando.
O perfil do cliente, diz Souza, também não sofreu alteração. “Quem revela fotos são pessoas da nossa idade”, diz, inclusive se referindo à equipe de reportagem. “A criança e o adolescente não têm necessidade de registrar e guardar lembranças”.
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Recadastramento biométrico e piscicultura são diferenciais na edição 2013 da Expoacre
ITAAN ARRUDA
Há dois diferenciais da Expoacre 2013. O recadastramento biométrico, promovido pelo Tribunal Regional Eleitoral, e o Curso de Processamento de Pescado, executado pelo Instituto Federal do Acre. A edição deste ano não terá o tradicional casamento coletivo.
O Curso de Processamento de Pescado será ministrado na Fazendinha, um espaço adaptado para a apresentação do setor produtivo do Acre. Em um ônibus-escola, os técnicos do Ifac mostram como é feito um fishburguer (hamburguer de peixe), linguiça de peixe, nuggets e peixe defumado.
O domínio dessas técnicas pode qualificar o setor de serviços vinculado à cadeia produtiva do peixe. “A Expoacre é o reflexo do que o Acre produz hoje. A gente vem conseguindo cada vez mais fazer com esse espaço tenha uma participação maior da iniciativa privada, com vários empresá-rios investindo e trabalhando para montar e melhorar os seus estandes”, disse um dos organizadores da feira Dudé Lima, em depoimento à Agência de Notícias do Acre.
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Produção de leite pode melhorar renda sem pressionar por desmate
ITAAN ARRUDA
A autossuficiência na produção de leite deveria ser meta prioritária. A avaliação não é desqualificada: vem de um dos mais prestigiados institutos da região, o Instituto de Pesquisa ambiental da Amazônia, o Ipam.
Parceiro do Governo do Estado, o Ipam já traçou um perfil da pecuária de corte do Acre e agora faz o mesmo em relação à pecuária leiteira. Com foco na implantação de política pública no setor de serviços ambientais, o Ipam sabe que deve elaborar um diagnóstico das atuais cadeias produtivas (consolidadas ou não) para se pensar na sofisticada prestação de serviços ambientais.
Vem do Ipam, por exemplo, o dado que reforça o que o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Acre, Assuero Veronez já afirmou diversas vezes para o leitor do Acre Economia. “A pecuária do Acre é prioritariamente focada no pequeno produtor”, repete sempre o presidente da Faeac. Pelos números, é mesmo.
No Acre, 85% das propriedades rurais que trabalham com gado têm até 100 cabeças. A amostragem aumenta um pouco caso se amplie a análise para as propriedades com até 500 cabeças. Nesse caso, são 95,4% das propriedades rurais acreanas. A expressão “grande pecuarista acreano” é privilégio de uma confraria.
E, nesse universo, a pecuária de leite tem pouco destaque. Quem produz carne não se identifica com a produção leiteira. Investir dinheiro no segmento “leite” não é visto com simpatia pela maior parte dos pecuaristas.
Por dois motivos básicos. Primeiro: o investimento e o reinvestimento são necessidades rotineiras na cadeia produtiva do leite. Segundo: a taxa de retorno é muito baixa. Tem-se que lucrar em grande escala, algo inimaginável nas atuais condições do Acre.
Pelo IBGE, o Acre ordenha cerca de 70 mil vacas. O número é evidentemente baixo. Mas, o problema crucial não está aí. O gargalo é na produtividade. “Onde está melhor está em torno de 2 litros de leite por vaca por dia”, contabiliza o pesquisador do Ipam, Marcelo Stábile.
O pesquisador reforça a necessidade de se investir na cadeia produtiva do leite para abastecer o mercado interno de maneira prioritária e consolidar a fixação das famílias nas áreas rurais. “A ideia inicial deveria ser deixar de importar 100 milhões de reais em produtos lácteos todo ano”, indica. “Isso é dinheiro que poderia estar sendo gerado aqui dentro para o Estado”.
Stabile sabe que, na prática, a produção de leite é uma realidade para esse produtor que tem até 100 cabeças de gado. Das 100 reses, no máximo 10 são destinadas ao leite, em média. Mas, o pesquisador pondera que a produtividade atual sendo multiplicada por três, o número ainda fica tímido, “mas já tem impacto positivo na renda do produtor”.
Essas relações estão sendo catalogadas e organizadas dentro do Sistema de Incentivo aos Serviços Ambientais, o Sisa, criado em consonância com o Zoneamento Ecológico e Econômico do Acre. São referenciais para quem precisa produzir com sustentabilidade.
“Com a intensificação da produção, você tendo uma genética melhor, melhoria nas pastagens, melhoria na parte higiênica, você consegue ter produto melhor, você consegue aumentar a renda do cara e mantê-lo no campo. E sem ter que causar novos desmatamentos”, analisa. “Para isso ser sustentado no longo prazo, temos que dar condições para o produtor”.
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Polo Moveleiro fortalece economia florestal de Xapuri
A construção do Polo Moveleiro de Xapuri tem um significado especial que vai bem além do incentivo ao Setor Marceneiro do Acre. Os investimentos feitos pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), mudam a realidade da economia do município.
Além da construção do Polo Moveleiro, com sete galpões para os marceneiros de Xapuri, o governo também decidiu reformar todo Parque Industrial da Cidade, possibilitando assim, a instalação de novas indústrias.
Com o Polo Moveleiro, os marceneiros de Xapuri, que estavam praticamente sem condições de trabalho, agora iniciam uma nova fase, melhorando a qualidade, aumentando a produção e possibilitando atender à demanda do mercado local com oportunidade de realizar novos negócios.
“O governo está investindo alto, garantindo o fortalecimento da economia florestal, possibilitando a melhoria da qualidade de vida das famílias. Agora os marceneiros podem colocar o sonho na frente do negócio, fazer novos investimentos e novos negócios”, comemora o secretário Edvaldo Magalhães.
Para se ter uma ideia do que representam os investimentos, na construção dos sete galpões e na reforma do Parque Industrial foram investidos cerca de R$ 2 milhões, agora os marceneiros de Xapuri poderão ampliar seus negócios, contratar novos funcionários e aumentar a produção.
Animados com o Pólo Moveleiro, os marceneiros já começam a sonhar com novos empreendimentos. Muitos já decidiram contratar mais funcionários e fazer investimentos em equipamentos.
Eles acreditam que, com os modernos galpões, as facilidades no acesso a madeira legalizada e o apoio do Poder Público, os produtos serão altamente valorizados. Seguindo o exemplo do Governo do Estado e de outros órgãos, o prefeito de Xapuri, Marcinho Miranda, anunciou que todo mobiliário da Prefeitura será comprado dos marceneiros do município.
A construção de Polos Moveleiros faz parte do Programa de Fortalecimento do Setor Moveleiro/Marceneiro do Acre, que está sendo executado desde 2011, com a realização do primeiro Encontro de Marceneiros do Acre.
Além de oferecer um local adequado para que os marceneiros possam trabalhar, o governo está oferecendo o licenciamento das marcenarias, sem nenhum custo, facilitando ainda o acesso à madeira legalizada, por um preço acessível.
“Esse Programa de Fortalecimento do Setor Marceneiro e Moveleiro está dando um novo gás para a economia florestal do Acre. Além dos marceneiros, estamos valorizando nossa madeira, garantindo uma melhor qualidade de vida para centenas de famílias que hoje conseguem sobreviver com aquilo que nossa floresta oferece, sem nenhum prejuízo”, destaca Magalhães.
O Polo Moveleiro de Xapuri foi o segundo a ser inaugurado pelo Governo do Estado. O primeiro foi o de Cruzeiro do Sul. Outros oito Polos estão em fase de construção, totalizando um investimento de aproximadamente R$ 40 milhões.
O governador Tião Viana lembrou que o governo está oferecendo a infraestrutura necessária para melhorar a economia florestal de Xapuri, garantindo uma melhor qualidade de vida para centenas de famílias. (Assessoria da Sedens)
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Notas Econômicas
Bertha
Essa semana, o Brasil teve uma importante perda. A morte da geógrafa Bertha Becker deixa um vazio grande. Ela era umas das pesquisadoras brasileiras de maior reconhecimento internacional, com destaque para a reflexão sobre a Amazônia e a relação entre Economia, Desenvolvimento e os impactos dessa relação diante das condicionantes humanas. Fará falta.
Égua!
Fernando Gabeira esteve por aqui de forma quase clandestina. Veio fazer uma reflexão junto aos alunos da Ufac sobre o Junho de 2013 (com letra maiúscula mesmo). Nessa, a assessoria da Ufac comeu mosca. No momento de uma fala tão necessária quanto a de Gabeira sobre o assunto, o evento não teve a divulgação necessária. Como diz o bom acreano, “Égua!”
E tudo o mais
E o pior é que teve até transmissão ao vivo pela internet e tudo o mais. Às vezes, tem-se a impressão que a Ufac se basta dentro dos próprios muros.
Normalidade
O panorama de crise porque passa o setor industrial no Brasil é evidente, apesar do esforço do Governo Federal em demonstrar o contrário. As heróicas indústrias que anunciaram abertura de empreendimento na ZPE do Acre não estão imunes a esse ambiente. Portanto, é mais que natural que adie projetos planejados. Não há nenhum problema nisso. Faz parte.
Faca
É injusto querer que o Governo coloque uma faca no pescoço do empreendedor e o obrigue a instalar a indústria a qualquer custo. O Governo oferece as condições. Quem se adequar e quiser vir, será bem vindo certamente.
ZPE I
O suplemento Acre Economia sempre se posicionou a favor do projeto da Zona de Processamento de Exportação. Sempre. Sem se esquivar de falar dos problemas, como reza a cartilha do jornalismo minimamente responsável.
ZPE II
As eventuais críticas que o governo enfrenta em relação ao assunto podem ser resumidas em uma expressão: falta de transparência. Não se pode esperar que parta do Governo a conduta de alardear as “agendas negativas”. Trata-se, no entanto, de se antecipar e divulgar os fatos. Simples assim.
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Entrevista: Ricardo Torres (Superintendente da Rbtrans)
“Não haverá aumento para o estudante”
ITAAN ARRUDA
Ele é a autoridade em trânsito com maior tempo de atuação ininterrupta no Acre. Desde a gestão do ex-governador Jorge Viana, o engenheiro Ricardo Torres quebra a cabeça para tornar a relação entre trânsito e cidadania a mais harmônica possível.
Em uma demorada entrevista ao Acre Economia, ele afasta qualquer possibilidade de aumento de tarifa para os estudantes. E, para o usuário comum, não chega a negar aumento. Mas, sob o atual cenário politico, indica não haver ambiente para aumento de preço nas passagens.
Sobre a possibilidade de evasão de divisas pelo fato de parte da frota ser “de fora” do Acre, Torres é taxativo. “Hoje, 96% da frota é acreana”. Leia os principais trechos da entrevista.
Acre Economia: O que motivou a antecipação do debate em relação ao preço de passagem?
Ricardo Torres: Inicialmente, foi fruto até dos trabalhos realizados na campanha. Ele fez várias agendas e entre elas, foi feita agenda com os estudantes. Nós temos o desconto de 50 por cento de uma forma geral, como é praticado em várias cidades brasileiras.
Acre Economia: E qual foi o pedido dos estudantes?
Ricardo Torres: O pedido era sempre relacionado ao “passe livre”. E como a gente sabe das dificuldades que cada cidade tem para conseguir custear isso, surgiu a proposta de manter ao menos a tarifa a um real, ou seja, baratear mais ainda, além dos 50 por cento de desconto, que seria um preço dentro da razoabilidade. Uma tarifa que seria melhor suportada pela classe estudantil e, se possível, ao longo de toda sua gestão.
Acre Economia: Esse debate vai voltar à tona em novembro, data base para possível reajuste na tarifa.
Ricardo Torres: O que está acontecendo agora no Brasil é que está todo mundo em stand by, eu diria. Ou seja: o modelo de tarifa praticado em todo país é um modelo que difere do praticado em relação ao restante do mundo. Saiu agora em julho uma Nota Técnica do Ipea que compara com vários outros países. É muito difícil você comparar cidades, países, mas enfim. Existe um modelo que é praticado no restante do mundo, principalmente em países que já têm um nível de evolução maior como na Europa e Estados Unidos. Na Europa, por exemplo, a tarifa tem subsídio do próprio poder público. Às vezes, muita gente faz comparações sem conhecimento de causa. ‘Ah! Porque na Europa é assim ou é assado’.
Acre Economia: Mas, são as comparações que nos criam as referências. Ou não?
Ricardo Torres: Na verdade, são modelos diferentes. E o Brasil adotou um modelo que só o custo da passagem banca a operação do sistema. Você tem uma tarifa fundamentada em uma planilha referenciada pelo Ministério dos Transportes em que você preenche os dados básicos e, no final, você tem uma comparação do número de passageiros transportados vezes aquela metragem operada, mais os custos com mão de obra e manutenção dos veículos. É como se você fizesse uma conta do teu carro, na tua casa. Para que eu continue andando com o meu carro, comprando gasolina, comprando pneu, pagando IPVA eu preciso de quanto por mês em uma média anual? Os outros diversos modelos praticados ao redor do mundo, tem-se uma parte da tarifa ainda para investimentos, sendo que boa parte dessa operação (de 50 a 70%, varia de país para país) ela é custeada pelo poder público.
Acre Economia: As manifestações de junho de 2013…
Ricardo Torres: Então… o que está acontecendo agora? Aconteceu essa explosão de manifestações pelo país, que nasceu com um reajuste de tarifa em São Paulo, um reajuste já menor do que em tese seria praticado. Ele já vinha com desoneração de PIS e Confins que a presidente Dilma já tinha determinado: seria R$ 3,37 e já perdeu 17 centavos indo para R$ 3,20. Mesmo assim, vieram as manifestações A redução real, quem ainda proporcionou, foi o Governo Federal. Se você pegar uma lista de 30 capitais brasileiras e colocar ali uma linha de reajustes anteriores à desoneração, você vai ver que as cidades que baixaram, baixaram porque entre dezembro e janeiro reajustaram. É o caso de Manaus, por exemplo.
Acre Economia: No Brasil, o que seria um preço médio adequado?
Ricardo Torres: Dentro do cenário brasileiro, é consenso que uma tarifa até 3 reais ela já é sufocante para o usuário.
Acre Economia: Em Rio Branco, a tarifa…
Ricardo Torres: Rio Branco está sem reajuste desde fevereiro de 2011. Estamos com dois anos e seis meses sem reajuste. E, nos últimos oito anos, chegamos a 70 por cento de renovação da frota, instalamos, em 2007 uma rede de bilhetagem eletrônica, recentemente, fechamos toda frota com tecnologia de GPS e hoje temos um centro de controla que consegue monitorar toda a frota de Rio Branco instante a instante. O nosso nível de controle e o nosso nível de investimento, diante dos reajustes que tivemos que aplicar ao longo dos anos, ainda foram altos se comparados aos preços praticados. Mas, é um modelo que a sociedade brasileira exigiu reavaliação.
Acre Economia: Então, está sendo ao menos observada internamente, a possibilidade de se rever o modelo?
Ricardo Torres: Na minha avaliação técnica, as cidades, os estados vão ter que partir para um modelo de subvenção e desoneração bem parecido com o estilo europeu.
Acre Economia: Mas, isso passa por investimentos que não se sabe se há disposição nem do governo e nem da iniciativa privada.
Ricardo Torres: Nós não estamos falando apenas de criar só uma subvenção para o modelo que está aí. Estamos falando de mudar o modelo e melhorar expressivamente o sistema de transporte.
Acre Economia: Existe algum risco de o estudante ser surpreendido com aumento de passagem em novembro?
Ricardo Torres: O estudante, não. Nós já estamos com essa marca de manter a tarifa para o estudante em um real.
Acre Economia: Quando você fala que ‘os estudantes, não’… é possível, então que haja para o usuário comum.
Ricardo Torres: Como eu falei, qualquer cenário que nós apontarmos agora será precipitado. A nossa expectativa é que não. Pelos mais diversos motivos.
Acre Economia: Sobretudo político.
Ricardo Torres: A sociedade não aceita mais. Isso é fato. Você está com um cenário de instabilidade. Acreditamos, no entanto, que muitas coisas vão mudar, não só no campo do transporte coletivo. Politicamente, é extremamente arriscado, quando a coisa começa a estabilizar, você criar uma nova provocação. Todas as cidades estão com o desafio de pelo menos manter o preço praticado atualmente.
Acre Economia: Você disse que a frota foi renovada em 70% nos últimos anos. É isso mesmo? A prefeitura entende que carros usados de outros estados trazidos para cá integram a frota renovada?
Ricardo Torres: A frota é zero quilômetro. Isso é a coisa mais simples do mundo… eu já respondo para o Ministério Público Estadual, para a Câmara de Vereadores inúmeras vezes. Você acha que se essa renovação não fosse em veículos compatíveis com os contratos, depois de oito anos da gestão Angelim, nós já não teríamos sofrido alguma sanção legal? É a mesma história em relação às placas de outros estados. Talvez, as pessoas confundam a nossa frota com outras frotas.
Acre Economia: Existe até uma denúncia de evasão de divisas pelo fato de a frota não ser daqui.
Ricardo Torres: Em 99, quando o Jorge [Viana, atual senador] assume o governo e o Fernando [Melo, ex-deputado estadual e ex-diretor do Detran] assume a direção do Detran, isso era uma das coisas que mais se reclamava. Ele chama as empresas e diz. ‘Isso é receita que o Estado e o município estão perdendo. Eu queria que vocês transferissem os carros. Vou dar um prazo para vocês’. Existe uma regra no Código de Trânsito Brasileiro que regulamenta isso. Esse processo começa em 1999. Quando assumimos a prefeitura em 2005, ainda tinha carro de fora. Mas, foi tão forte na sociedade acreana que permaneceu esse sentimento. Hoje, 96% da frota está licenciada e com placa de Rio Branco.
Acre Economia: Os articulados deram certo?
Ricardo Torres: Deram. Nós nunca tivemos muitas dúvidas sobre isso. Nosso primeiro teste foi no Universitário e não deu certo. Ele andou bem, tem pista boa. Não deu certo porque ele transportou pouco. É um carro que tem um preço de operação muito alto, com consumo de combustível de 1,2 a 1,5 quilômetro por litro. Deu certo no sobral e Calafate. No futuro, vamos atender no Santa Maria, Vila Acre e o eixo da BR-364, no Belo Jardim Santo Afonso, Rosalinda.
Acre Economia: O Movimento Passe Livre no Acre faz duras críticas ao Terminal Urbano, mesmo após as reformas.
Ricardo Torres: Um dos piores cenários, em relação a comportamento, vem do estudante. Temos ali, estudantes de 12, 13 anos alguns 18, 20 anos, com uma falta de educação extrema em relação ao embarque, em relação ao respeito em relação ao uso das cadeiras, som dentro do ônibus… Olha a nossa dificuldade: se esse público que esta estudando e está em uma faixa etária que está apreendendo conceitos para viver em sociedade, em respeito ao direito do outro na coisa eu é mais básica, que é o convívio dentro do transporte coletivo, ele sai da escola e não consegue praticar isso. Tu imagina se a gente vai conseguir de fato com uma campanha pontual… é muito difícil.
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