O Programa Mais Médicos anunciado pelo Governo Federal na segunda-feira, 8, que torna obrigatória a atuação dos acadêmicos no Sistema Único de Saúde (SUS) por 2 anos, pegou os estudantes de Medicina, da Universidade Federal do Acre (Ufac), de surpresa. A medida vale em todo o país para quem ingressar no curso a partir de 2015.
Com esse Programa, o curso de Medicina passará de 6 anos para 8 anos de duração. Nos últimos 24 meses, os estudantes irão trabalhar na atenção básica e nos serviços de urgência e emergência da rede pública, acompanhados por um supervisor da instituição de ensino.
A proposta diz ainda que os acadêmicos vão receber uma remuneração do Governo Federal e terão uma autorização temporária para exercer a medicina. Os professores responsáveis pela supervisão também receberão um complemento salarial. Esse período de atuação no SUS poderá contar para residência médica ou como pós-graduação, caso o médico escolha se especializar em uma área de atenção básica.
Devido à existência de recursos federais no programa, os alunos de escolas particulares ficarão isentos do pagamento da mensalidade. Ainda assim, o internato, no 5º e no 6º anos, continua a valer.
No Acre, a medida foi recebida de forma positiva pelo atual coordenador do curso de Medicina da Ufac, Thor Dantas. Porém, ele faz algumas ressalvas a cerca da realidade na saúde do país.
“Vejo isso como uma tentativa de solucionar a carência de médicos nas regiões mais afastadas. O problema não é número desses profissionais no Brasil, mas sim a redistribuição deles. Por exemplo, tem mais médicos na capital São Paulo do que no interior. O Brasil tem 1,8 médicos para cada mil habitantes. Se compararmos esses números com o de um país pobre na África, que é de 0,4, e com o de países ricos, que é de 2,5 médicos para mil habitantes, veremos que não estamos tão mal. A solução é saber redistribuir”, afirma.
Ainda segundo o coordenador, os médicos deveriam ser visto com tanta importância para os pequenos municípios quanto os juízes. Ele sugere a criação de uma carreira de estado para a categoria.
“Seria bom se esses 2 anos fossem parte da carreira de estado. O Programa me parece um auxílio civil obrigatório. É uma ideia boa. Melhor do que obrigar o jovem a servir ao Exército, levando em consideração que estamos longe de um conflito armado, é ajudar na saúde da rede pública. Mas como nada foi discutido ainda, nós da Ufac teremos que nos preparar para as mudanças”.
Por outro lado, o acadêmico Victor Millomem, que está no 3º período, desaprova a medida. De acordo com ele, o fato dos 2 anos de serviços serem obrigatórios está causando pânico entre os colegas. “Eu consigo entender os motivos da presidenta, em querer melhorar a saúde nos locais de difícil acesso. Só que é uma medida extremamente autoritária. A proposta quer nos obrigar a trabalhar por 2 anos, do jeito que eles quiserem, onde eles quiserem. Essa parte da obrigação é que não é legal. Afinal, não são 8 anos de curso, mas sim 6 de estudo e 2 de trabalho forçado. Eles usam a desculpa de que a sociedade paga o curso para gente, porque esta é uma universidade federal, mas esquecem que a gente ralou para passar no vestibular, rala no curso, que já é longo, pois tem vários anos de residência, e que a vida do estudante de medicina, do médico, é muito difícil. Não é de graça. Eu não ganhei isso da sociedade. Estou aqui porque me esforcei. Daí chega essa proposta sem levar em consideração o que nós passamos, não entende as dificuldades financeiras, o fato de muitos de nós morarmos longe da família”, desabafa.
O rapaz sugere uma campanha em que os médicos formados em universidades públicas trabalhem no interior, em troca de bom salário, material, equipe completa, com planejamento estratégico e planejamento de carreira. “Eu encararia trabalhar nessas condições por pelo menos 2 anos no interior do Estado. Mas esse lance de querer obrigar assusta todo mundo”.