ITAAN ARRUDA
O corte de R$ 10 bilhões no orçamento do Governo Federal chega ao Acre. Ninguém sabe exatamente quanto e nem de que forma isso vai repercutir. Mas, consequência natural, o fato é que haverá cortes também na administração estadual.
Informal e extraoficialmente, cogita-se a possibilidade de haver cortes no orçamento de algumas secretarias da ordem de até 50%. Na prática, isso pode ser traduzido, em pouco tempo, por imagens de aparelhos públicos sucateados divulgados em redes sociais e jornais.
Quem está elaborando um estudo que vai dizer o que cortar e quanto cortar é o secretário de Estado de Fazenda, Mâncio Cordeiro. Ele falou com a equipe do Acre Economia por telefone.
Admitiu os problemas com a diminuição de receitas e as consequências para a manutenção do custeio da máquina pública reaparelhada nos últimos 14 anos. A combinação perigosa de diminuição de receita com a sazonalidade (de julho a agosto a arrecadação sempre diminui) exige atenção. “Estamos em alerta”, disse o secretário.
Acre Economia: Secretário, haverá cortes nos projetos executados pelas secretarias?
Mâncio Cordeiro: Haverá. A estrutura pública está passando por um período de ajustes em função da crise instalada em todo país. Isso não é uma exclusividade do Acre, mas afeta todo o Brasil. Tenho conversado com secretários de Fazenda de outros estados e a situação tem exigido ajustes.
Acre Economia: Que relação esses ajustes têm com a capacidade de endividamento do Acre? Se o Acre tem uma condição de endividar-se razoável, por que os cortes?
Mâncio Cordeiro: Se você entendeu as nossas conversas anteriores, você já deveria ter entendido isso.
Acre Economia: Mas, é preciso ficar melhor explicado para o leitor.
Mâncio Cordeiro: Olha… Nós temos um Estado equilibrado do ponto de vista fiscal, assim como a capacidade de endividamento que está preservada. A questão dos cortes tem outra natureza. Em 1999, a receita própria do Estado do Acre girava em torno de 6 a 7 por cento. Hoje, está em torno de 30, 35 a 40 por cento. Mesmo assim, os volumes de investimentos exigem ampliação do custeio.
Acre Economia: Como assim? O que isso quer dizer?
Mâncio Cordeiro: Quer dizer que o Estado do Acre aumentou o aparelhamento da máquina, colocou salário em dia, aumentou o número de escolas, de postos de saúde, número de hospitais. Isso tudo tem um custo de manutenção [custeio da máquina pública]. Se eu asfalto uma estrada, eu tenho que garantir recursos para mantê-la asfaltada. Uma escola, dependendo de quantos turnos ela funciona, custa ao Estado, por ano, o mesmo valor necessário para construí-la.
Acre Economia: E com a perda de receitas…
Mâncio Cordeiro: Exato: nós perdemos receita [repasses federais]. A situação exige atenção. Nós estamos em alerta. É preciso diferenciar que os meses de julho, agosto e setembro são os piores meses para arrecadação. Repito: não é o Acre que está em dificuldade. A situação de ajuste está exigindo nova postura de todos os governos.
Acre Economia: E de quanto será o corte? Quais setores serão mais sacrificados?
Mâncio Cordeiro: Eu não quero antecipar. Mas, estamos trabalhando com a ideia de que isso seja um ajuste pontual.
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NOTAS ECONÔMICAS
Mâncio I
As declarações do secretário de Estado de Fazenda Mâncio Cordeiro são como oásis no meio de tanta retórica sobre desenvolvimento. Mâncio é incisivo ao expor o am-biente de crise. Não se trata de falha de gestão. É uma questão conjuntural.
Mâncio II
Assumir isso não é demonstração de fraqueza. Ao contrário. Além de ser uma conduta que fortalece a transparência, rebate a já desgastada (e nada convincente) estratégia de alguns colegas em mostrar um ambiente de aquecimento econômico irreal.
Combinação
A combinação de diminuição nos repasses do Governo Federal com aumento do custeio da máquina pública [reajustes salariais, construção de escolas, hospitais, pavimentação de estradas] é uma equação de difícil solução para quem está na Fazenda. Com um agravante: julho, agosto e setembro têm arrecadação historicamente ruim. É menos receita entrando nos cofres do Governo.
Mais uma leva
Mais uma leva de empreendimentos deve deixar o Via Verde Shopping após esse domingo do Dia dos Pais. São estabelecimentos cujos empresários não se planejaram o suficiente para atuar no oneroso cotidiano de um shopping center.
Lição
Os comerciantes (sobretudo os que estão fora do condomínio de lojas) devem tirar uma lição desse problema. Nesse aspecto, o Via Verde qualifica o comércio local. Futuros empreendedores que pensarem em investir em loja de shopping center devem saber todos os detalhes sobre o que isso exige.
Drama
Há situações que beiram o drama. Há empreendedores que treinaram equipes de mais de 20 colaboradores fora do Acre. Passagens, hospedagem e alimentação… tudo por conta da empresa. Dois natais depois, quase nenhum funcionário restou. Os novos colaboradores, sem o mesmo treinamento, acabam exigindo maior atenção por parte do empresário.
Agora, sabe
Um dos empresários, bem humorado, ainda tira sarro da própria situação. “Não sabia o porquê das caras sempre feias e amarradas dos pequenos empresários”, brinca.
Abertura
Enquanto algumas lojas fecham as portas, surge a expectativa de que outras abram as portas. Destaque para a Polishop e (quem sabe…!?) C&A. Na torcida para que dê certo.
Segurança
A reunião da Acisa com os gestores em segurança tem razão de ser. Muitos são os empreendimentos que foram vítimas de roubo. Quase todos ainda sem solução. Alguns empreendimentos foram assaltados mais de três vezes. Já tem empresário que nem formaliza denúncia na polícia.
ZPE na Firjan
Na quinta-feira, deputada Perpétua Almeida participou de um encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. De prático, a reunião saiu com a seguinte definição: a Firjan vai criar um fórum de debates internos para discutir especificamente a ZPE do Acre e as potencialidades de integração econômica via Pacífico.
Eita!
Houve um compromisso por parte dos dirigentes de uma das mais poderosas instituições do setor industrial do país em debater a ZPE acreana. Isso, por si, já demonstra o potencial que o projeto acreano tem. O desafio é tornar concretas as ideias debatidas nesse fórum.
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Mercado Imobiliário
MCM e Sinduscon garantem que preço de venda é um dos mais baixos do país
ITAAN ARRUDA
O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Acre e a MCM, uma das maiores empresas do setor imobiliário do Estado, garantem: o preço do metro quadrado para construir não consegue ser repassado para o preço de venda do imóvel.
“Aqui no Acre não é o lugar onde tem o metro quadrado mais caro do Brasil”, assegura o proprietário da MCM, Marcelo Mendonça. “A média nacional é de seis mil e novecentos reais e aqui no Acre, os imóveis de alto padrão têm preço de quatro mil e quinhentos reais o metro quadrado”.
Para sustentar a argumentação, Mendonça utiliza os índices da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, a Fipe. A fundação reforça a pesquisa do IBGE que aponta o Rio de Janeiro como sendo o local onde o metro quadrado é o mais caro do país e Vila Velha, no Espírito Santo, como o de menor custo (R$ 3.646,00). Na pesquisa da Fipe, não está incluída a Capital do Acre.
“A pesquisa do IBGE não é feita olhando no classificado do jornal, mas fazendo os cálculos nas construtoras; em quanto as construtoras estão comprando o material de construção”, afirma o empresário da MCM. “Como a construtora compra mais caro a mão de obra e o material e o nosso preço não é o mais caro, onde é que está essa diferença? Ela está no custo do metro quadrado do terreno e, com certeza, na margem [de lucro] do empresário que é menor”.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil, Frederico Lemos de Moura Leite, não concorda com Mendonça no que se refere ao preço do metro quadrado praticado no Acre. “Ainda temos, sim, um dos metros quadrados mais caros do país”, calcula, antes de fazer a ressalva. “É um dos mais caros para se produzir”.
Venda X construção
Leite atua nas duas pontas do setor. Tem uma imobiliária em sociedade com o irmão, a Ipê Empreendimentos Imobi-liários, mas também atua na área de construção em parceria com outras empresas do segmento, com obras inclusive em mercados concorridos, como São Paulo. “O problema, no Acre, é que o custo de produção não consegue ser repassado para o preço de venda”, diz. “Nós não temos o preço de venda mais caro do país. Entre as capitais brasileiras, eu desconheço onde o metro quadrado para venda seja mais barato que o Acre”. Nesse momento, as opiniões dos empresários coincidem.
Existe uma dificuldade metodológica em se estabelecer critérios padronizados nas pesquisas para se quantificar preços de metragem. O mercado imobiliário trabalha com fatores de pressão sob o preço que variam de critérios absolutamente técnicos para outros que beiram a subjetividade.
E tudo isso, variando drasticamente com o tempo. Frederico Leite exemplifica. “Nossa empresa construiu um condomínio de alto padrão aqui em Rio Branco recentemente. Na época, o preço do metro estava em torno de mil e novecentos reais”, lembra. “Hoje, com dois mil reais, eu não consigo, com esse valor, nem construir uma unidade popular com sessenta e cinco metros quadrados”.
Em outra comparação, Leite diz que outro condomínio mais modesto (para classe média) tem atualmente preço do metro quadrado avaliado em R$ 3,1 mil.
Outros empresários ouvidos pela reportagem concordam que, no mercado paulistano, a margem de lucro do empresário é muito maior, comparado ao Acre. Além disso, a rotatividade da mercadoria (ciclo entre início de um empreendimento, conclusão e reinício de outro projeto) é também maior no mercado Sul/Sudeste.
Fornecimento de insumos a custo mais baixo, mão de obra mais qualificada e em maior quantidade também favorecem para aumentar a margem de lucro dos empresários em outras regiões. Mesmo assim, Mendonça, da MCM, é otimista, contrariando muitos outros colegas do segmento.
“O mercado imobiliário no Acre está aquecido”, avalia. “Pode não responder por aquilo que as pessoas pensam ser o mais adequado. Mas, aquilo que se propõe a vender, é vendido”.
IBGE mantém Acre como um dos metros quadrados mais caros
O IBGE, por meio da Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil, mantém rio de Janeiro, Acre e São Paulo como os estados com o metro quadrado mais caro do país. Veja a tabela:
Custo Médio (julho de 2013) Variação percentual (12 meses) R$/m²
Rio de Janeiro 1.026,30 7,71
Acre 992,7 11,24
São Paulo 975,34 6,57
Rondônia 968,68 8,7
Santa Catarina 954,85 10,62
Roraima 952,93 5,04
DF 947,62 4,62
Tocantins 937,03 10,02
Paraná 911,54 5,64
Mato Grosso 892,9 8,39
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Índices de Preços, Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil
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Empresários querem conhecer ZPE e potencialidades do Acre, anuncia Perpétua Almeida
A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB) articulou a realização, nos próximos meses, pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), de fórum de debates com empresários cariocas de vários setores, inclusive da defesa, sobre a Zona de Processamento de Exportação (ZPE) no Acre, Estrada do Pacífico, conhecida como Rodovia Interoceânica, e as potencialidades do Estado. A decisão foi tomada nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro, durante o Fórum Empresarial de Defesa e Segurança do Sistema FIRJAN. Num segundo momento, grupo de empresários deverão ainda visitar o Acre e analisar possibilidades de investimentos na ZPE.
Perpétua Almeida, que preside a Subcomissão de Projetos Estratégicos das Forças Armadas na Câmara, afirmou que vai conversar com o governador do Acre, Tião Viana, os secretários das secretarias de Turismo e Lazer e Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis e diretoria da Federação das Indústrias do Estado do Acre para organizarem juntos à visita. “Vejo esse evento como uma boa oportunidade para que diversas empresas possam se instalar no Acre e, assim, gerar desenvolvimento, emprego e renda para a população acreana”, destacou.
Com o discurso da deputada acreana sobre o Acre, os empresários demonstram entusiasmo para conhecerem a região. Segundo eles, o Acre pode ser um “excelente” acesso, mais rápido e econômico, ao Pacífico. Os empresários acreditam que a região pode ajudar no escoamento da produção até os mercados do Peru, Bolívia, Equador e Chile.
Durante o discurso, para plateia de mais de 200 empresários da indústria de defesa, Perpétua Almeida disse ainda que investir em Defesa gera emprega inovação, conhecimento, tecnologia e empregos. “Já identificamos que nosso maior desafio é garantirmos permanentes fontes orçamentárias para as três forças e condições de financiamento que atendam as necessidades das indústrias de produtos de defesa. Esse é o nosso foco! Com isso, elas poderão crescer e se fortalecer no mercado internacional”.
Segundo a parlamentar acreana, acompanhar e investir no desenvolvimento da indústria de defesa é essencial para garantir também ações governamentais mais efetivas na proteção e vigilância das fronteiras e da Amazônia. “Estamos trabalhando para que a Câmara discuta e acompanhe o trabalho das empresas na área de Defesa. Especialmente, os projetos de monitoramento das fronteiras, por exemplo, o Sisfron, desenvolvido pelo Exército, para que ajude a monitorar as regiões fronteiriças”, destacou.
Participaram do evento no Rio empresários do setor de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de produtos de defesa e segurança, do alimentação, produção de bens de consumo, entre outros, representantes de Centros de Pesquisa, especialistas e representantes das Forças Armadas. Durante encontro com a deputada Perpétua Almeida, na última terça-feira, 6, na FIESP, empresários paulistas também assumiram compromisso de visitar o Acre.
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Suinocultura: o que representa para o povo do Alto Acre?
O Governo do Acre, em parceria com o setor privado, investe cerca de R$ 40 milhões na cultura de carne suína, na região do Alto Acre. Todo este investimento tem mexido até com a rotina de antigos moradores, que pensam em mudar de vida.
Para fortalecer esse setor o Governo do Acre, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comercio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), criaram a Dom Porquito S/A, empresa formada com capital público e privado, a exemplo da Peixes da Amazônia S/A, para tocar os investimentos na suinocultura, que acontece na região do Alto Acre.
Na quinta-feira, 8, o secretário da Sedens, Edvaldo Magalhães, e o secretário de Agricultura Familiar, Lourival Marques, estiveram reunidos com mais de 50 produtores, entre eles, dona Antônia, que desejam entrar para o negócio da suinocultura.
O projeto é animador, mas como é novidade traz alguns medos para os moradores. “Quando a oferta é boa demais o santo desconfia, né mesmo?”, comenta Saulo Ferreira, 71 anos.
Saulo trabalhou a vida inteira na roça, agora, mesmo com a idade avançada, quer investir na criação de porcos. “Vou entrar nesse negócio. Pelo que falam, e a experiência de alguns companheiros, acredito que pode ser uma boa saída. Um negócio que pode render bons lucros”, diz entusiasmado.
Dom Porquito quer exportar carne para China ainda este ano
No próximo dia 19, acontece o lançamento do Programa de Suinocultura do Acre, no qual o secretário Edvaldo Magalhães e o governador Tião Viana estarão assinando ordem de serviço para construção de 55 galpões para engorda dos leitões e um frigorífico com selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), para abate de animais e processamento da carne.
Segundo Paulo Santoyo, diretor-presidente da Dom Porquito, um mês depois que o frigorífico estiver funcionando, já poderá estar exportando carne para China, por exemplo.
“Podem me chamar de louco, mas podemos ser mais competitivos do que a Sadia e a Perdigão, por exemplo, pois temos grãos a vontade no nosso Estado, para produzir ração, e estamos praticamente a margem do Pacífico”, comenta.
Esta afirmação de Santoyo mostra o desejo da Dom Porquito de não somente fornecer carne suína para o Acre, mas principalmente de fornecer proteína animal para Bolívia, Peru e toda a Ásia.
É pensando nisso que a empresa Dom Porquito está investindo pesado em produção de suínos. O Governo do Estado estará construindo 55 galpões, em diferentes propriedades, no valor de R$ 190 mil cada, no total de quase R$ 10,5 milhões, com capacidade para 400 animais.
Cada produtor terá que arcar apenas com a compra dos equipamentos, que poderá ser financiado pelo Banco do Brasil ou Banco do Amazonas, através do Programa Mais Alimento, do Governo Federal.
“O governo não quer que esse produtor seja apenas engordador de porco, nós queremos que ele seja dono do negócio também. Por isso, que depois de tudo pronto, o Governo do Acre estará encaminhando projeto para a Assembleia Legislativa e doará 25% de suas ações na Dom Porquito para a Cooperativa de Suínos. Dessa forma, eles se tornarão sócios da Dom Porquito, com direito a voz, voto e participação nos lucros”, comentou Edvaldo Magalhaes.
O frigorífico da Dom Porquito terá capacidade de processar 90 mil quilos de carne por dia e empregar, somente no frigorífico, cerca de 800 pessoas.
Cada produtor poderá lucrar inicialmente R$ 2 mil/mês, mas a medida que o negócio for crescendo estes números poderão quadriplicar.
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Trabalho infantil atinge pelo menos 3,7 milhões de crianças no país
* Acre tem terceiro maior crescimento do crime na região Norte, de acordo com dados sistematizados pela Fundação Telefônica em parceira com Unicef e Organização Internacional do Trabalho
ITAAN ARRUDA
O número de crianças entre 10 e 13 anos trabalhando aumentou em todo país. Somente a região Nordeste registrou queda. No Norte e Centro-Oeste o aumento foi de mais de 25%. No Acre, entre os anos de 2009 e 2011, houve aumento de 9,11%. Foram mais 1.379 crianças que passaram a contribuir com a renda em casa, de acordo com a organização não governamental Cipó em estudo sistematizado pela parceria com a Fundação Telefônica.
O trabalho infantil é um problema dramático no país. Estima-se que entre 3,7 e 4 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos contribuam sistematicamente com a renda familiar no Brasil. A miséria, a exclusão social, o envolvimento de famílias com drogas são fatores que pressionam a criança ao trabalho.
O Acre não está excluído desse cenário. Com mais de 30% das famílias vivendo abaixo da linha de pobreza e quase metade da população dependendo dos programas de transferência de renda do Governo Federal por meio do CadÚnico, a pressão para que as crianças contribuam na renda familiar é grande.
Em março deste ano, o suplemento Acre Economia denunciou o problema. Foi mostrada uma série de imagens que flagraram crianças manuseando facas muito afiadas durante o manejo da macaxeira no processo de produção da Farinha de Cruzeiro, uma das marcas mais famosas do Acre.
A destreza incomum com que as crianças de seis, sete, oito anos descascavam a macaxeira impressionou os fiscais da Delegacia do Trabalho que flagraram o crime em uma das blitzen realizadas na região do Juruá no início do ano.
O “fator cultural” é um dos argumentos mais usados para, senão defender, ao menos justificar a dificuldade em fiscalizar ou prevenir esse tipo de crime na Amazônia.
O fotógrafo Odair Leal realizou outros flagrantes de trabalho infantil. Em Tarauacá, em Xapuri, em Cruzeiro do Sul crianças são vistas vendendo peixe, engraxando sapatos, catando latas em grandes e pesados sacos. É a imagem de um lugar que violenta a infância e compromete a saúde de uma geração.
Fundação Telefônica aposta na informação como combate ao crime
A Fundação Telefônica, em co-participação com a Unicef e a Organização Internacional do Trabalho, resolveu apostar na informação como forma de combate e prevenção ao trabalho infantil.
A criação da campanha “É da nossa conta!” é uma tentativa de qualificar a informação que chega ao máximo de pessoas possível com três focos prioritários: identificar o problema; fazer com que haja o questionamento sobre o problema; e o terceiro ponto é a atitude de denunciar/combater o trabalho infantil.
“O que nos motivou a desenvolver a campanha foi a necessidade de retirar o tema trabalho infantil da ‘invisibilidade’”, explica a responsável pelo departamento de Infância e Adolescência da Fundação Telefônica, Camila Aragon. “Muitas pessoas não conseguiam reconhecer situações de trabalho infantil ao seu redor”.
A organização não governamental Cipó Comunicação Interativa tem sido o braço executivo da Fundação Telefônica para qualificar a informação em vários estados do país, sobretudo os que têm maior aumento do trabalho infantil.
“É comum a presença de argumentos de que é mais nobre para uma criança pobre estar trabalhando, do que estar, por exemplo, no crime ou desocupada”, analisa o diretor da ONG Cipó Comunicação Interativa. “Outros sugerem que o trabalho enobrece, desenvolve a inteligência da criança. O desafio atual é a compreensão do trabalho infantil como algo negativo”.
Situação do Acre ainda é preocupante
Em números absolutos, o Acre não está entre os piores do Norte. Mas, proporcionalmente, a situação preocupa bastante. O Amapá registrou o maior crescimento do trabalho infantil entre 2000 e 2010, de acordo com o Censo do IBGE: cresceu 3,45%.
Roraima está em segundo lugar, com crescimento de 3,34%. Em terceiro lugar está o Acre, com 2,78%. O Amazonas vem em seguida, com 2,16%. Na sequência, o Pará, com crescimento do trabalho infantil de 2,04%. Depois, o Tocantins, com 1,80%. Rondônia registra o menor crescimento de trabalho infantil com 1,25%.
Os números absolutos, no entanto, camuflam o problema. O Acre, comparado ao Amazonas, por exemplo, possui situação proporcionalmente muito pior. Com uma população calculada pelo IBGE em 3,48 milhões de habitantes, o Amazonas tem 0,62 pontos percentuais a menos que o Acre, com uma população de apenas 733,5 mil habitantes. (Ver o quadro abaixo)
POPULAÇÃO POR ESTADO DA REGIÃO NORTE
Estado População Crescimento
Amapá 669.526 3,45%
Roraima 450.479 3,34%
Acre 733.559 2,78%
Amazonas 3.483.985 2,16%
Pará 7.581.051 2,04%
Tocantins 1.383.445 1,80%
Rondônia 1.562.409 1,25%
Criança sem infância, adulto com baixa remuneração
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2009 já tratou do assunto e fez cruzamento de dados entre remuneração de adultos e prática de trabalho infantil no passado. Os gráficos mostram que os adultos da época que declararam ter começado a trabalhar com menos de 14 anos tinham remuneração abaixo de R$ 1 mil.
A situação piora quanto mais precoce é a inserção da criança no mundo do trabalho. O PNAD 2009 verificou que os adultos que declararam que começaram a trabalhar com menos de 9 anos tinham, na época da pesquisa, renda mensal máxima de R$ 500.
Seds se pronuncia sobre o problema nesta semana
A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social foi procurada pela equipe do Acre Economia para que desse declarações sobre trabalho infantil no Estado. A organização de dados mais precisos sobre o assunto e as ações desenvolvidas pelo Estado para combater o problema serão detalhados pelos gestores públicos ainda esta semana e devem ser motivo de nova reportagem.