Ele foi recebido com o tradicional “Olê! Olê! Olê! Olá!. No Complexo de Piscicultura, localizado no quilômetro 37 da BR-364, o responsável pelo maior volume de investimentos de recursos públicos no Acre foi recebido por piscicultores de todo Estado.
Foi um evento com o jeito popular de Lula. Cânticos de índios, oferta de um pirarucu “com 40 quilos” como presente, alusões a times de futebol, bênçãos de padre, pastores, gritos de militantes entusiasmados e, como não poderia deixar de ser, a narrativa do início da história do líder sindical com o Acre há 33 anos.
O ex-presidente, acompanhado do governador Tião Viana, dos senadores Aníbal Diniz e Jorge Viana e pelos deputados federais Perpétua Almeida, Taumaturgo Lima e Sibá Machado, inaugurou a primeira fase do Complexo de Piscicultura, composta pelo Centro de Reprodução de Alevinos.
O investimento total do projeto do Complexo de Piscicultura deve alcançar R$ 100 milhões, incluindo financiamento de bancos públicos. A expectativa é de que a unidade esteja completamente finalizada no primeiro semestre de 2014.
“Podem ficar tranquilos que eu vou falar para a presidente Dilma e dizer para ela vir em dezembro ver o que esses meninos estão fazendo aqui no Acre”, afirmou, se referindo ao governador Tião Viana e ao irmão e vice-presidente do Senado, Jorge Viana.
O ex-presidente, em todas declarações, faz questão de reforçar a ideia que se tornou até slogan usada em campanhas publicitárias: “Sou brasileiro. Não desisto nunca”. Na fala de Lula, essa lógica está presente a todo instante.
“O Brasil de agora é muito melhor. O povo trabalha mais. O povo tem mais esperança”, avalia. “Esse projeto de envolver pescadores artesanais em um projeto empresarial é a demonstração que somente o exercício da democracia, a convivência pacífica entre ricos, classe média e pobres é necessário para que a gente construa o mundo justo que nós queremos construir”.
Para o ex-presidente, esse entendimento do papel do poder público em incluir famílias não é compreendido. “É importante que se saiba que nós não queremos ser pobres a vida inteira. É importante as pessoas saber (sic) que o pobre quer virar classe média. O pobre quer ter acesso a uma casa boa. Ele quer ter acesso a um carro. Ele quer ter acesso a uma universidade. Ele quer ter acesso a um emprego a um bom salário, a uma oportunidade, a uma saúde de qualidade. Ora, porque se não tiver isso, por que viver?”, pergunta.
Na tentativa de valorizar a política como instrumento de mudanças econômicas e sociais, a fala do ex-presidente foi direta. “Se você não entra na política porque acha que todo mundo é ladrão; se você acha que o Lula é ladrão; que o Tião é ladrão; que o Jorge é ladrão, então, seu babaca, entre você na política porque o político que você quer está dentro de você”, ensinou. A plateia vibrou e aplaudiu.
O ex-presidente disse ainda que a gestão do atual governador Tião Viana está sendo injustiçada. “O que estão fazendo contra o Tião nesse momento é o que fizeram comigo durante oito anos. É a tentativa de denegrir a imagem de um homem como esse”, disse apontando para o governador do Acre, cujo governo foi envolvido em um escândalo que apontou indícios de desvio de verbas públicas (incluindo participação de secretários de Estado), fraudes em licitações e formação de cartel em seis contratos de obras realizadas pelo Governo do Acre.
As investigações foram conduzidas pela Polícia Federal e a operação foi batizada de G7, referência às sete empresas envolvidas nos supostos crimes, ainda não comprovados.
Sobre a Zona de Processamento de Exportação, Lula foi direto. “Os empresários de São Paulo e do Sul e Sudeste que quiserem exportar para a Ásia têm que se instalar no Acre”, sugeriu, valorizando a localização geográfica do Acre e a integração com o Pacífico, via Estrada Interoceânica.
Ele está aqui
O governador Tião Viana valorizou a atuação de Lula com a seguinte comparação. “O presidente poderia estar participando de discussões sobre economia global em outros fóruns, em outros lugares, mas o espírito de liderança o faz estar aqui, presente entre nós, nesse canto que é tão especial para ele”.
União e esperança
O vice-presidente do Senado, Jorge Viana, expôs o clima que se vive nos bastidores da política acreana. “O Acre estava passando por dificuldades com acusações contra o Tião para tentar interromper esse caminho e graças à sua história com o Acre, nós estamos fazendo um ato que o Estado estava precisando”, desabafou o vice-presidente do Senado. “O Acre estava precisando de união e de renovar a esperança”.
O complexo
De acordo com os técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis, a capacidade instalada do centro de alevinagem é de 10 milhões de alevinos anuais. Isso oferece suporte de até 20 mil toneladas de peixe por ano.
“Esse complexo de piscicultura foi um desafio posto pelo governador Tião Viana à sua equipe de governo. Ele não queria apenas um frigorífico com uma fábrica de ração”, lembrou o secretário de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis, Edvaldo Magalhães. “Ele queria o melhor arranjo para que nós pudéssemos nos transformar no estado mais competitivo da piscicultura”. A próxima etapa será a finalização da fábrica de ração.
No evento da inauguração da primeira etapa do Complexo de Piscicultura, foi formalizada a inserção da Central de Cooperativas entre os cotistas da Peixes da Amazônia S/A. Os trabalhadores terão 25% das cotas empresariais. É essa participação dos pequenos produtores que tornou o arranjo empresarial classificado como “inovador” pelo Ministério da Pesca.
No Juruá, os pescadores tiveram que comprar alevinos de Porto Velho para garantir produção em escala. E isso aumenta os custos de produção. “Um milheiro de tambaqui que aqui vai custar algo como oitenta reais, nós compramos em Porto Velho por duzentos o oitenta reais”, compara Sansão Nogueira de Sena, presidente da Central de Cooperativas dos Piscicultores do Acre, a voz dos trabalhadores entre os cotistas, donos da Peixes da Amazônia S/A, a empresa que administra o Complexo.
Um milheiro de matrinxã é comprado pelos piscicultores do Juruá por R$ 1 mil. “No Centro de alevinagem que vai ter lá, vamos poder comprar por duzentos reais”.
O próximo passo é formar o plantel de matrizes e, logo após, o processo de reprodução. Os piscicultores do Juruá já compraram do Centro de Reprodução inaugurado por Lula, 10 milheiros da espécie de peixe pintado.
Anac muda atuação no mercado
A Agência de Negócios do Acre, Anac, foi criada pelo Governo do Acre em 2001 como um instrumento de promoção dos produtos acreanos. Por uma decisão do governador Tião Viana, passou a atuar diretamente no mercado mediando contratos.
A participação do poder público como cotista na sociedade que forma a Peixes da Amazônia S/A, por exemplo, é efetivada pela agência estatal. Da mesma forma, a inserção da Central de Cooperativas como sócia do empreendimento também é resultado da atuação da Anac.
Dois fatos podem ser destacados no evento de sexta-feira no Complexo de Piscicultura que contou com a mediação direta da agência. A integração de um fundo de investimentos privado na Peixes da Amazônia, injetando R$ 15 milhões no projeto e uma amarra contratual que traz mais segurança aos pequenos piscicultores associados ao empreendimento.
Proteção – “Nós construímos uma cláusula que impede a comercialização dos 25% pertencentes aos pequenos piscicultores no empreendimento por um período de 20 anos”, diz o presidente da Agência de Negócios do Acre, Ignácio Moreira. “Essa foi uma maneira que encontramos de proteger e preservar a solidez do negócio”.
Com essa cláusula, uma grande empresa que queira comprar participações não poderá fazê-lo antes de 20 anos, a contar a partir da última sexta-feira. A Anac é uma agência vinculada diretamente à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis.
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ENTREVISTA: Eufran Amaral
Corte de 28% no orçamento não desanima novo superintendente da Embrapa
ITAAN ARRUDA
Eufran Amaral assumiu na sexta-feira a Superintendência da Embrapa/Acre. Em uma qualificada solenidade de posse, o cientista falou com exclusividade ao Acre Economia.
Assumiu que um dos desafios da empresa é combater a extrema pobreza que é crônica no meio rural acreano e anunciou. “Precisamos estar mais presente no Vale do Juruá”. Leia os principais trechos.
Acre Economia: Qual é a Embrapa que você herda?
Eufran Amaral: O Judson fez um trabalho excelente nos últimos cinco anos. Avançou. Aumento a infraestrutura. Aumentou recursos humanos. Hoje, nós temos um quadro de pesquisadores qualificados. Essa Embrapa permite dar saltos maiores. A preocupação nossa é chegar aonde a Embrapa não chegou. Garantir que essas tecnolo-gias que estão sendo geradas aqui dentro da Embrapa se transformem em benefícios sociais, econômicos e ambientais.
Acre Economia: Aonde a Embrapa não chegou?
Eufran Amaral: Hoje, nós temos um problema. A Embrapa, a missão dela é ter soluções viáveis para os problemas da agropecuária, com ênfase para a Amazônia. E diz-se ‘pecuária’ para uso eficiente dos recursos naturais. Então, hoje, nós ainda temos uma extrema pobreza no Acre persistente no meio rural. E aí, temos: índio, seringueiros, ribeirinhos, pecuaristas, porque nem todos os pecuaristas têm a mesma base de produção. E a preocupação nossa é de como nós fazemos uma ligação eficiente com a área de assistência técnica e extensão rural e conseguir chegar com essas tecnologias. Muitas dessas tecnologias estão aqui dentro. Outros conhecimentos precisam ser produzidos e aí você precisa de tempo para maturação da pesquisa. Então, o nosso desafio é como a gente transforma essa tecnologia que está aqui em benefício para a sociedade. Benefício efetivo. Para todos.
Acre Economia: Com as especificidades do Acre…
Eufran Amaral: Sim. O Acre tem uma condição muito peculiar. Nós temos um meio rural que tem produtor familiar em assentamentos, têm índios, têm ribeirinhos, têm seringueiros. Tem pecuaristas, tem médio produtor, pequeno produtor fora de assentamento. Então, pensar tecnologias para um meio rural, para produção pecuária, agropecuá-ria, agroflorestal eficiente, você tem que pensar em todos esses extratos.
Acre Economia: Como a participação no Governo pode te ajudar?
Eufran Amaral: Isso ajuda muito. Porque me dar a sensibilidade de uma visão de dentro. Dos desafios que o governo tem em efetivamente implementar política pública. Então, hoje, ao pensar, ao ajudar a construir a pesquisa eu já posso, na outra ponta, como essa pesquisa pode se transformar em política pública. E esse é o grande desafio. De tornar a pesquisa a serviço da sociedade. Para que o pesquisador possa efetivamente contribuir com resultado, mas chegar com política pública lá na ponta.
Acre Economia: Pesquisa não se faz com retórica. Faz-se com dinheiro…
Eufran Amaral: Cada vez mais as demandas aumentam. A Embrapa está passando por uma crise. Sofremos um corte agora de 28% no nosso orçamento para o último quadrimestre. Mas, eu vejo… Essa crise é uma crise mundial. Atinge o Estado, atinge o Governo Federal. Eu vejo a crise como oportunidade. Com recursos mínimos aparecem as soluções, a criatividade. E o que nós queremos é buscar parcerias para ter mais recursos. E eu vejo cada vez mais a possibilidade de buscarmos esses recursos externos. A Embrapa/Acre trabalha muito, por exemplo, com emendas parlamentares.
Acre Economia: Empresa privada pode investir?
Eufran Amaral: Sim. É permitido.
Acre Economia: Que meta tu poderias adiantar para nós?
Eufran Amaral: Ampliar as ações da Embrapa no Vale do Juruá.
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NOTAS ECONÔMICAS
Suspiro I
O programa Mais Médicos expôs uma das mais sérias crises do Sistema Único de Saúde. Nos 25 anos de existência, o SUS nunca teve a credibilidade tão questionada quanto agora. E o pior é que a importação de médicos, em si, não resolve os problemas estruturantes. Ameniza o drama, certamente.
Suspiro II
Mas, afinal, os efeitos que o Mais Médico proporciona foi o que pesou na balança política. A qualidade da saúde pública foi um dos principais motes das mobilizações de junho de 2013. O poder público precisava apresentar algum movimento de resposta.
No interior
O presidente do Sindicato dos Médicos do Acre, José Ribamar, em recente entrevista coletiva, vociferou. “Coloque um bom cirurgião italiano em um hospital do interior que ele pouco poderá fazer”, disse. Na sequência, falou em “intervenção ética” no hospital Raimundo Chaar, em Brasiléia.
Polos inadequados
O SUS foi criado para oferecer tratamento republicano no que se refere à saúde pública. As polarizações “urbanoXrural”; “cidadeXfloresta” e outras do gênero deixam turvo o cenário para quem formula política de saúde. É preciso superar essa concepção polarizada. O atendimento de saúde com qualidade tem que estar ao alcance de todos. É direito.
Animador
A liderança de Lula é nata. Isso é óbvio. Mas, todas as vezes que vem ao Acre, existe uma espécie de elevador de auto-estima na retórica do ex-presidente que anima a plateia. “Nós não podemos desistir”, esbraveja. “Nós temos que acreditar”. “Eu ainda tenho muita coisa a fazer” São algumas frases naturais, formuladas sem dificuldades diante dos pequenos piscicultores reunidos para a inauguração do Centro de Reprodução de Alevinos.
Esperança
O vice-presidente do Senado, Jorge Viana, não conseguia disfarçar a empolgação com o discurso do amigo e ex-presidente. Na cadeira, tentando esconder a inquietude, chegava a quase se embalar com a performance do líder petista. “O Acre estava precisando desse ato”, reconhece Jorge Viana. “O Acre estava precisando de união e de renovação da esperança”.
ZPE
“Quem quiser exportar para a Ásia vai ter que se instalar aqui”. A fala do ex-presidente fortalece o argumento da localização estratégica do Acre para empresas que têm o mercado asiático como foco.
Lula É isso!
Ele começa o discurso lendo um bilhete de um integrante da plateia que pedia a interlocução junto à presidente Dilma para anistiar a dívida do Flamengo. Mas, em tom de ironia, bronqueia. “Não tenho como fazer isso. O Flamengo precisa aprender a administrar um time como o Corinthians administra”.
Dias nervosos
O leitor foi bombardeado na última semana sobre notícias que dizem respeito “à alta do dólar”. Na televisão, as inúmeras entrevistas tentam dialogar, mas é um tema muito difícil. O Acre Economia desta semana tentou traduzir o economês e respondeu, de forma simples, em que esse sobe e desce da moeda americana pode afetar o seu bolso.
… é menos
Diminuição de PIB, em outras palavras, é desaquecimento da economia. As expectativas dos agentes econômicos se frustram; há menor tendência a investimento e menor busca por crédito. O bicho papão que desperta nesse cenário? Isso mesmo: desemprego.
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Não estuda quem não quer
ITAAN ARRUDA
O Sesi e o Senai estão oferecendo ensino profissionalizante gratuito para alunos de Ensino Médio. A medida faz parte da uma ação estratégica da Confederação Nacional da Indústria que tenta melhorar a qualificação profissional em todo o país.
A Educação Básica de Ensino Profissionalizante é uma ação articulada dessas instituições vinculadas à indústria para melhorar a qualificação da mão de obra. Para o Acre, a oportunidade tenta modificar o atual cenário desestimulante para o industriário. O acreano não passa nem sete anos estudando, em média.
Ano passado, esse programa do Sesi e Senai formou a primeira turma. Apenas 10 alunos chegaram até a etapa final. Diante do investimento feito pelas instituições e do esforço dos técnicos, é número ainda é muito tímido. A expectativa é de que essa situação seja revertida.
Para mais detalhes, os contatos são 3901-4410, Maria Regiana (diretora do Centro de Educação do Trabalhador – CET) do SESI, 3901-4497, Déborah Sheylla, diretora de Educação do SESI.
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O que a alta do dólar tem a ver com você?
ITAAN ARRUDA
A semana que passou foi muito nervosa no mercado financeiro. Mas, ao final das contas, o que a alta do dólar tem a ver com o brasileiro comum? O que esse debate tem a ver para aquele cidadão que não investe em bolsa de valores; que não tem interesse em mercado futuro; que ganha salário mínimo?
Pode parecer exagero, mas, “se a situação apertar mesmo” há reflexos na vida de todo mundo, mesmo para aqueles que não têm nada a ver diretamente com o problema. O Acre Economia vai tentar agora mostrar como isso pode interferir no nosso dia a dia.
Em Economia, a palavra-chave é “confiança”. Há outra também muito importante: “credibilidade”. Mas, as duas giram em torno da ideia de “acreditar”. Pode parecer exagero, mas é dessa forma, quase subjetiva, que muita coisa funciona no nosso dia a dia.
No mercado financeiro, esse raciocínio vale muito. É com ele que os operadores, investidores, empresários, banqueiros tratam de dinheiro. Vamos exemplificar: qual é o problema de o dólar estar “super-valorizado”; “sobrevalorizado” ou qualquer outra expressão. O que isso tem de ruim?
Vamos lá! Vamos por partes. Vamos imaginar que o dólar esteja muito valorizado. Algo em torno de R$ 2,432 ou R$ 2,451. Quando o dólar está valorizado dessa forma, as empresas que trabalham com produtos que são comercializados nos mercados internacionais “crescem o olho”. Elas veem a possibilidade de ter margem de lucro aumentada com o dólar valorizado porque é com o dólar que se realizam as transações comerciais no comércio exterior.
Alta dos preços
Pois bem, o que essas empresas fazem? Priorizam o mercado externo. Então, vamos supor: se a empresa exportadora tem estoque de X toneladas de soja e ela vê o dólar valorizado, então ela passa a priorizar as exportações. Com isso, a oferta interna de soja cai.
Se a oferta de soja cai, todos os produtos derivados da soja na indústria passam a ter menor oferta do “insumo soja” no mercado interno. Qual é a tendência do preço? Subir. Por isso que se diz que “a alta do dólar pressiona a alta dos preços dos produtos”. Em uma palavra (esta bem conhecida): inflação.
A soja é o que os especialistas chamam de “produtos comercializáveis”. Eles dizem isso porque esses produtos têm preços cotados internacionalmente. Fazem parte desse grupo commodities (produtos de extração ou da agricultura) como petróleo, café, ferro, aço etc.
Todos esses produtos sofrem influência do “câmbio” (outra palavrinha muito citada nesses dias). Se raciocinarmos o câmbio como um “mecanismo de troca de moeda” já facilita o nosso entendimento. Quando o câmbio está bom? Pergunta difícil. Porque sempre vai depender de quem se está falando. Bom para quem?
Outros comercializáveis
Há outros produtos que também já registram alta dos preços com a valorização do dólar. São os chamados “bens duráveis”, também classificados de “comercializáveis”. Os especialistas dizem que esse grupo acumulava queda de 5% em julho do ano passado. Hoje, já têm alta de 2,4%. Podem ser citados: bicicletas, chuveiro elétrico, micro-ondas, ventiladores.
Mas, por que esses produtos sofrem influência da alta do dólar? Porque muitas peças são importadas de outros países e também comercializadas em dólar. Se o preço da peça aumenta, o produto final também deve ter, automaticamente, o preço aumentado.
A Confederação Nacional do Comércio, inclusive, avalia que aproximadamente 40% da variação dos preços dos produtos duráveis são consequências da variação do dólar.
“Briga” dos ministros
Quando o dólar está muito valorizado, qual é a providência do Governo? O Governo Federal intervém. De que forma? A única instituição autorizada a intervir no mercado em nome do Governo é o Banco Central.
E o que o Banco Central faz? Como o dólar está valorizado, uma maneira de pressionar o preço para baixo é colocando mais dólar no mercado financeiro. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem afirmado que “não vai mexer nas reservas”. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, “não descarta”.
E o que são essas reservas? De forma bem grosseira, é possível explicar que as reservas cambiais são uma espécie de poupança que o Governo Federal tem. Só se mexe nela, atualmente, por meio de uma ordem da presidente Dilma.
O problema é que mexer em reservas cambiais tem várias interpretações por parte dos investidores. A leitura mais rápida entende que se o país mexeu nas reservas cambiais isso é indicativo de fragilidade da economia; isso indica que o país tem problema na gestão dos fundamentos da economia. Logo, “vou tirar meus dólares daqui”, pensam os investidores.
É essa “fuga de capitais” que o Governo treme só de pensar que ela pode vir a acontecer. Na semana que passou, o presidente do BC cancelou uma viagem que faria aos Estados Unidos para conduzir “pessoalmente” essas intervenções no mercado de que se falou anteriormente.
A coisa ficou tão feia que o Governo Federal anunciou na quinta-feira um programa que vai fazer essa intervenção “de com força” (como diz o acreano). Até o dia 31 de dezembro vão haver leilões diários que devem somar ao todo algo em torno de US$ 60 bilhões em contratos de proteção. Dá uma média de US$ 4 bilhões por semana. Foi uma postura agressiva e determinante do BC para não permitir dúvidas ao mercado.
Por que o Governo faz isso? Isso são formas de o Governo mostrar para o mercado o seguinte desejo: “Invistam aqui! Permaneçam aqui! Não tirem seus investimentos daqui! O Brasil é seguro! Os fundamentos econômicos estão preservados!” etc. etc.
Essa conduta já foi utilizada outras vezes pelo governo. O mercado financeiro tem uma expressão francesa para designar essas medidas. Chama-se “guidance”. Em uma tradução apressada, significa algo como “orientação; guia”.
Outra palavrinha difícil de falar que tem sido muito usada recentemente é “hedge”. O que é isso? Quando o investidor percebe o mercado muito instável, ele procura um investimento mais seguro. Os investimentos em hedge são mais seguros, porém menos lucrativos.
Por que tudo isso?
Mas, por que o dólar, de uma hora para outra, “desembestou”? A resposta está nos Estados Unidos. Pós-crise de 2007/2008, o governo de lá resolveu tomar medidas para ajustar a economia norte-americana.
Pois bem, foram feitas as tais medidas e o mercado de lá reagiu bem. Então, o que o banco central de lá fez? (o BC de lá chama-se Fed – Federal Reserve). De forma grosseira, o Fed colocou o “pé no freio”.
Os investidores das bolsas de valores do mundo todo, então, resolveram antecipar as mudanças no cenário econômico. O problema foi que as bolsas mais atingidas foram justamente as dos países emergentes, inclusive o Brasil.
Uma análise superficial, mas não equivocada aponta que todo esse movimento de valorização do dólar nos mercados emergentes é consequência dos remédios econômicos que os Estados Unidos tomaram.
Eles tomam o remédio lá e os efeitos colaterais são sentidos em todo o mundo, sobretudo nas economias que mantém artificialmente suas moedas valorizadas frente ao dólar, como o Brasil.
Papai Noel fraquinho
Essa alta do dólar foi o esvaziamento do saco do Papai Noel que a presidente Dilma não contava. O governo já contabilizava um PIB em torno de 4% em 2013. Ao menos fugiria da piada do “pibinho”.
Mas, o ministro da Fazenda já admitiu que deve fechar 2013 com algo em torno de 2,5%. Essa admissão o ministro não contava ter que divulgar. Um balde de água fria, jamais admitido pelo governo.