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Mais médicos e um médico

O programa Mais Médicos, como diz a objetividade quase seca do seu nome, ataca um problema crucial da saúde no Brasil: a falta de médicos. E se o programa foca, o Ministério da Saúde não descarta outros problemas. Estrutura. Equipes multidisciplinares. Medicamentos. Bem ou mal, outros problemas são alvos de outros programas. Cabe discutir. Mas o debate do Mais Médicos tornou-se político, ideológico ou mata-borrão de outros interesses.

Quando essa intriga já cansa o país, surge no Acre a atitude de bom senso que efetiva a possibilidade legal do Mais Médico.

O Conselho Regional de Medicina do Acre emitiu os dois primeiros registros provisórios para médicos estrangeiros, e finaliza outros sete. São os primeiros nove médicos regularizados para o programa: cinco cubanos, um dominicano e três brasileiros formados na Argentina e Espanha. É um bom começo de um bom reforço para a classe médica e demais profissões que cuidam da saúde da nossa população com todo apoio do Governo do Acre, que nos últimos anos não poupou esforços nem investimentos para qualificar a rede de saúde pública no Estado, com mais estrutura, melhores salários e humanização dos processos.

A iniciativa do CRM do Acre tem grandeza e apareceu no noticiário nacional. Talvez pesou na atitude o conhecimento da realidade profunda do Brasil, onde – sem negar outros problemas, como já dito; a falta de médicos é indisfarçável. E nem só nas comunidades isoladas. Em Cruzeiro do Sul falta pediatras, apesar do Estado manter ali um hospital regional de alto padrão e oferecer remuneração muito acima da média nacional.

Parabéns ao CRM do Acre. E bem-vindos doutores vindos de longe para somar com nossos médicos, muitos dos quais já viveram experiências como essa do doutor Eduardo Farias, anos atrás, numa ação humanitária em comunidades isoladas do Rio Tarauacá. Quinze dias de viagem rio acima, já em águas do Rio Jordão, aportou em mais um dos locais marcados para atender ribeirinhos e indígenas.

Em um tapiri à guisa de consultório, o doutor Eduardo recebeu um caboclo já avançado nos anos. A anamnese começou bem. Disse nome, idade, trabalho na seringa, na roça, na criação miúda. Até ser perguntado o que tinha de mal. – Nada! respondeu. Acontece do paciente humilde fica envergonhado. Eu sou médico, pode falar o que tem. – Nada! insistiu o homem. Deve ser doença nas partes, como se diz no seringal. Fique tranquilo, não cabe segredo entre médico e paciente. O que o senhor sente? Nada! confirmou o caboclo. Se o senhor não tem nenhum problema de saúde, por que veio fazer essa consulta?

– Ahhh, “seu” doutor, em mais de 70 anos de vida eu nunca tinha visto um médico. Eu vim aqui foi pra ver um médico!

* Gilberto Braga de Mello é jornalista e publicitário.
E-mail: giba@ciaselva.com.br


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