Os projetos de expansão da Laminados Triunfo estão mantidos. A garantia foi dada pelo proprietário da empresa, Jandir Santin. “Nós não vamos perder o foco nem um minuto”, assegurou o empresário. “Nossas metas para o setor energético estão mantidas”.
Apesar da insistência da reportagem, Santin não quis adiantar os detalhes sobre a “questão energética” da empresa, que já é autossustentável energeticamente. “Além da prudência, não posso adiantar por questões comerciais, mas isso será feito no momento certo”, prometeu.
A Laminados Triunfo deve apresentar no Acre o mesmo serviço que as usinas de cana de açúcar oferecem no interior de São Paulo, desde o fim dos anos 80. Com a baixa do Pro-álcool, sobretudo no fim dos 90 e na primeira década dos anos 2000, a queima do bagaço da cana passou a ser o grande filão do setor energético, para a salvação do setor sucroalcooleiro e dos usineiros. Esse processo existe em escala industrial na região Sudeste.
O bagaço da cana, antes desprezado e inutilizado pelos usineiros, passou a ser a principal fonte de divisas das maio-res usinas do Sudeste do país. Nas caldeiras, há transformação da energia térmica em energia elétrica.
O produto entra nas linhas de transmissão e passa a fazer parte do sistema integrado compondo o mercado que movimenta milhões de dólares todos os anos e sustentando o maior parque industrial do país, instalado no estado de São Paulo.
Quase trinta anos após, o processo chega ao Acre. Com uma diferença: ao invés da queima do bagaço da cana, a energia vem da queima de restos de madeira. Em qualquer pequena marcenaria, acumula-se uma pequena montanha de “pó de serra”, como normalmente se chama. Aquele material, na verdade, é dinheiro apresentado de outra forma.
Essa alternativa é um fator que pode melhorar a confiança da incipiente indústria local no setor energético. Os “apagões” (ainda presentes) afastam a possibilidade de expansão de empreendimentos. Ou de atração. A futura expansão dos serviços da Triunfo muda o cenário no setor energético.
Prejuízos
Durante dois anos, Santin acumulou dois milhões de metros cúbicos de madeira no pátio da empresa. Era resíduo da madeira manejada e beneficiada da própria Triunfo e também resíduo de outras indústrias que Jandir Santin comprou durante o período.
O prejuízo divulgado pela empresa foi de R$ 5 milhões. Mas, duas pes-soas ligadas ao setor madeireiro com quem a reportagem teve contato estimam que ali na Triunfo tinha bio-massa calculada em torno de R$ 10 milhões.
Foi em uma área próximo a esse material residual acumulado que iniciou o fogo no último domingo. Foram quase três dias de tensão. A normalidade só foi completamente restabelecida na terça-feira. As causas do incêndio ainda são desconhecidas.
Mas, a ação dos funcionários da empresa evitou prejuízo maior. A maior parte da bio-massa acumulada foi preservada. Os tratores mobilizados para fazer o assero evitaram o alastramento do fogo. Era necessário abafar com água a superficialidade do fogo queimando o pó de serra.
Santin já adianta o que vai fazer após o incêndio para evitar problemas semelhantes. O acúmulo de biomassa não será mais permitido por uma norma da própria empresa. Dois milhões de metros cúbicos juntos não será mais possível. A ideia é dividir pequenas quantidades de bio-massa espalhada pela sede da empresa.
Agradecimento
“A situação expôs uma solidariedade que eu não tenho palavras para expressar”, diz o empresário com a voz embargada e se esforçando para conter a emoção. “Eu preciso agradecer ao governador Tião Viana de uma forma especial pela solidariedade que ele e a equipe dele prestaram a mim nesse momento difícil”.
Durante os momentos de maior tensão, Jandir Santin lembra de uma participação que o surpreendeu. “Mesmo que eu viva eternamente, eu não vou conseguir expressar o agradecimento justo ao vice-governador César Messias”, recorda. “Ele ficou aqui em todos os momentos e resolveu junto a situação. Eu achei que ia enfartar de tanto nervosismo”.
Brigada é investimento
A equipe da Laminados Triunfo fez o diferencial no combate ao incêndio. “Sem minha equipe, poderia ter ocorrido o pior aqui”, diz o empresário. “A situação mostrou que precisamos intensificar o nosso investimento na nossa brigada anti-incêndio”.
Já existem trabalhadores com treinamento específico para combater incêndios na empresa. “Mas, nós vamos treinar mais. Isso é investimento. Não é custo”, entende.
Jandir confirma cenário de crise no setor
O empresário reforçou as informações divulgadas em agosto pela reportagem do Acre Economia que tratou do cenário de crise no setor madeireiro. “Você não pode esconder os fatos. Se você é transparente, a sociedade entende melhor os problemas”, relata. “O setor madeireiro do Brasil e do Acre também está vivendo a sua maior crise”, admite.
A crise de 2008 modificou o cenário do comércio externo no setor madeireiro. “Em 2011, as portas se fecharam todas praticamente”, diz. “Estamos há seis anos em uma situação crítica”.
Uma das “portas” a que o empresário faz referência é o mercado europeu. A Inglaterra era um país estratégico para a Triunfo. Reduziu as compras praticamente a zero. Estão sendo retomadas agora, mas o empresário resistiu em adiantar em que níveis. O reaquecimento da economia norte-americana melhora as expectativas do setor.
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Políticas públicas complementares garantiram empréstimo do Bird
ITAAN ARRUDA
A chefe do Gabinete Civil do Governo do Acre, Márcia Regina, garante que uma das prio-ridades dos US$ 250 milhões do empréstimo do Banco Mundial (Bird) é a melhoria na gestão dos programas já desenvolvidos.
Não haverá mudanças bruscas na condução das políticas públicas. Segundo a chefe do Gabinete Civil, as ações já desenvolvidas pelo poder público continuam, fundamentadas no Zoneamento Ecológico-Econômico e nas políticas de inclusão sócio-produtiva.
“O grande objetivo é que eu possa complementar os investimentos da piscicultura, da infraestrutura urbana, na questão da saúde ao mesmo tempo em que nos possibilita melhorar a nossa gestão”, explicou.
O governo pretende criar indicadores das políticas já implantadas no Estado. “Eu preciso criar indicadores que mensurem o efeito e a eficiência dessas políticas”, afirmou Regina. Incentivo à atividade marceneira, piscicultura, pecuária são segmentos em que há intervenção do Governo.
De acordo com a chefe de Gabinete, é preciso quantificar o impacto dessa ação de governo em toda cadeia produtiva, da extração, passando pela indústria e chegando até o comércio. “É preciso ter o domínio de como cada política pública está gerando na população”.
A sanidade fiscal é o argumento usado pela chefe de Gabinete do governo para defender o empréstimo e a capacidade de endividamento do Acre. “Pelas regras do Senado Federal, um estado só pode se endividar até o limite de dois por cento da sua receita corrente líquida”, ensina. “O Acre tem hoje 0,8% disso. Ainda tem 1,2% de sua capacidade plena de contrair empréstimos”.
A contrapartida do governo é o FPE, norma prevista em lei pelo fato de que a União é o ente que avaliza os empréstimos feitos pelos estados. Traduzindo: se no futuro o Acre não pagar o empréstimo, o Bird vai bater na sala do ministro da Fazenda e vai pegar a mesada mensal do Acre na boca do cofre. É assim mesmo que funciona.
A aposta do governo com essa injeção de recursos é que a economia se aqueça e que os US$ 250 milhões possam ser multiplicados com geração de renda e riqueza. Esse é o objetivo final.
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Governo garante investimento de mais R$ 6 milhões para a agricultura familiar
O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) está mudando a realidade dos produtores rurais que vivem no Acre. Nesta etapa, os governos Federal e do Estado estão investindo R$ 6.820.482, 02 para a compra da produção agrícola nos 22 municipios, na modalidade Doação Simultânea a serem gastos até dezembro. Do outro lado pessoas são beneficiadas e garantem uma alimentação com produtos de qualidade. Cada produtor pode vender até o limite de R$ 4.500,00.
“O governador Tião Viana tem sido incansável na busca por investimentos para o setor rural desse Estado. Sua precupação vai desde a construção e manutenção dos ramais, a fomento da produção com distribuição de insumos que substitui a força de trabalho de homens e mulheres que antes só tinham a enxada para plantar e as mãos para colher, e principalmente com o mercado para que o produtor possa ter uma renda”, garantiu o secretário de Produção Lourival Marques Filho.
O volume de recursos destinado a compra da produção da agricultura familiar no Acre é maior que a soma de todos os recursos que o Governo Federal destinou ao municipio de Capixaba para investimento nos diversos setores daquela administração municipal, por exemplo. E lá será injetado R$ 391,5 mil. São 87 produtores cadastrados pelo programa e 20 entidades beneficiadas.
Em Marechal Thaumaturgo são 72 produtores que passaram a vender diretamente para o governo a sua produção que é destinada as escolas públicas das redes estadual e municipal, Pastoral do Idoso, Pastoral da Criança, programas sociais (Peti, Cras e Projovem Adolescente) em um total de 27 entidades. E para o municipio foi destinado R$ 315 mil.
Ozenir de Lima Saraiva, da instituição Missão Familia Irmã Demétria, em Cruzeiro do Sul, disse que o programa é importante para a complementação alimentar das 360 crianças que são atendidas diariamente. Para Cruzeiro do Sul o PAA leva R$ 765 mil e 170 produtores estão vendendo sua produção de frutas e verduras assim como farinha, mandioca, galinha, tudo produzido na região que são distribuidos para 62 entidades socioassistenciais que atendem diretamente cerca de 8.264 famílias.
Com uma população estimada em 357.194 habitantes, a Capital Rio Branco recebeu mais de R$ 1,1 milhão para a compra da produção agricola destinada a atender 390 produtores. A rotina de recebimento e
distribuição dos produtos é a mesma em todos os municipios. No caso de Rio Branco todas as terças-feiras os produtos são entregues pelos produtores na Central de Abastecimento, a Ceasa logo cedo. Em seguida os representantes de entidades fazem a retirada do que foi acordado levando em conta as necessidades individuais de cada uma.
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds) informa que em Rio Branco cerca de 30 mil pessoas recebem diariamento alimentos fornecidos por essas entidades socioassistenciais que são cultivados pelos produtores rurais do Estado.
Outra novidade do PAA é a simplificação das regras para o acesso dos agricultores familiares. A partir deste ano a celebração de convênio foi dispensada, dando lugar ao Termo de Adesão. O modelo garante o pagamento dos produtos diretamente ao agricultor familiar por meio de cartão bancário. No Bujari, por exemplo, os cartões já estão à disposição dos produtores.
Para o MDS, o objetivo é transformar o PAA em um instrumento de abastecimento das redes de assistência social que, ao mesmo tempo em que oferta alimentos saudáveis, favoreça a produção dos agricultores. (Terezeinha Moreira / Assessoria Seaprof)
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Empréstimo gera polêmica entre parlamentares
JOSÉ PINHEIRO
O empréstimo obtido pelo Governo do Estado na ordem de R$ 550 milhões teve repercussão durante toda semana na Aleac. Os deputados governistas alegaram que o Acre está adimplente e propício para receber a ajuda financeira do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD).
O líder do governo na Casa, deputado Astério Moreira (PEN), ressaltou que o Acre vive um novo momento. Ele lembrou que estados que não tem capacidade de endividamento são impedidos pelo Tesouro Nacional a contrair empréstimos, o que não é o caso do Acre.
“O resultado desses empréstimos é a melhoria nos indicadores. O retorno é muito satisfatório. Nem todos os estados têm o respeito que o Acre tem. O respaldo legal. Temos a capacidade de melhorar os serviços. Esse empréstimo vem atender aquilo que está previsto no Plano Plurianual”, ressaltou.
Já o líder da oposição deputado Wherles Rocha disse que o empréstimo é mais um modo de endividar o Estado, além de comprometer os recursos federais ao empenhar como garantia os repasses federais como o FPE.
“Cada acreano passa a dever, com esse empréstimo, R$ 736. Estamos endividando Acre. Estou pensando em ir morar em outro lugar”, disse ironicamente o parlamentar tucano.
Walter Prado argumentou que todos os governadores anteriores a Tião Viana contraíram empréstimos. De acordo com ele, os que não o fizeram foram porque não tinham crédito juntos aos órgãos financiadores.
“Sendo sincero, nesse momento que a economia mundial vive, o Acre tem capacidade de endividamento. Isso demonstra que o Estado está organizado, o Bird não iria financiar sabendo que o Acre não iria poder pagar”, acrescentou o parlamentar.
Walter Prado criticou a oposição. Disse que essa não cumpre seu papel de fiscalizar, mas “faz cena na Aleac”. “A oposição não fiscaliza e faz cena aqui na tribuna. Para a oposição quanto pior melhor e critica o empréstimo”.
Para o deputado, José Luís Tchê (PDT), os empréstimos não devem ser feitos quando não há uma finalidade específica. “Sou contra empréstimos quando não vai dar retorno. A culpa disso é a presidenta Dilma que não discute o pacto federativo e aí os prefeitos e governadores têm que ficar com o pires na mão em Brasília ou buscar outras fontes”, finalizou Tchê.
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NOTAS ECONÔMICAS
Questão de imagem I
Via Verde Shopping abre nova frente de relação com o público. Discretamente, percebe-se um esforço por parte da administração de criar empatia com o consumidor, desta vez tendo ações focadas na cidadania.
Questão de imagem II
As parcerias com TRE para realização do cadastro biométrico; com o Governo do Estado por meio da Central de Notificação, Captação e Notificação de Órgãos ou com o Detran, na Semana Nacional de Trânsito, podem ser lembradas.
Questão de imagem III
Isso é ruim? Ninguém em sã consciência diria que é ruim. Mas o cenário por traz do pano é a velha e boa crise e a relação com os empreendedores do condomínio. A relação entre os empresários e a administração do Via Verde nunca esteve tão tensa.
Mas…
Mas, vai mudar. Os problemas de ordem jurídica que estão em trâmite devem definir novo tom entre essas forças. No limite, a equação é simples: todos querem que o shopping se consolide. Que os produtos tenham qualidade e bom preço. O que tiver pelo meio que seja resolvido com a transparência que o consumidor exige e tem direito. Ponto.
Por falar…
E por falar em Via Verde e crise no comércio, a assessoria de imprensa das Lojas Americanas esclarece que não procede a informação de que o empreendimento estaria saindo do shopping para se instalar no centro de Rio Branco. “Não procede nem uma informação e nem outra. Permanecemos no shopping”, assegura, por telefone, uma das integrantes da equipe.
Parcerias
A queda nas vendas tem feito empresas buscarem parcerias para poder atrair consumidores. Aqui no Acre, a TIM anuncia que se alia a Gazin com foco na comercialização de chips e aparelhos celulares. As 131 unidades da loja de eletrodomésticos espalhadas pelo Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Rondônia já têm condições de ativar os chips da operadora.
Nos 30
As 13 lojas Gazin do Acre podem não fazer diferença ante as 7.842 lojas da TIM no “grande varejo”. Mas, o que está em jogo é a união da credibilidade de marcas e aumento de possibilidade de consumo. É isso o que conta. Fica sempre a boa impressão de que a iniciativa privada “se vira nos 30” para driblar as dificuldades.
Resultado
Esse “jogo de cintura” tem objetivo de consolidar o crescimento da operadora. De acordo com a assessoria da TIM, no mês de julho, “a empresa apresentou o maior crescimento no setor de telefonia móvel. Segundo dados divulgados pela Anatel, a operadora registrou adição de 482,8 mil novas linhas em sua base nacional, totalizando 72,678 milhões de clientes”.
Mais um
A notícia da semana foi a aprovação, pela Assembleia Legislativa, de mais um empréstimo pretendido pelo Governo do Acre. Dessa vez, junto ao Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). Mais conhecido como Banco Mundial, a instituição é velha conhecida do Acre. Acompanha as ações de governo desde a gestão de Jorge Viana.
Críticos
A ladainha sobre a “capacidade de endividamento” que “o Acre não tem” não é ouvida pelo Palácio Rio Branco. Por um motivo simples: ou faz isso ou a capacidade de geração de riqueza despenca. Vai à lona.
Sem saída
Não tem jeito. Não há gestor público no mundo que, tendo a possibilidade de contrair empréstimo, não o faça. Se não se faz isso, a atividade econômica é desaquecida a níveis irresponsáveis.
Até tu, Marcos!
Até o Sub-comandante Marcos, lá de Chiapas, no México, faria empréstimos se tivesse condições. De um banco chinês. Por questão de ideologia, claro.
Como aqui
Se aqui no Acre já está desaquecido por causa dos humores da presidente Dilma, imagine se não houver injeção de capital por parte das instituições financeiras! É difícil defender argumentos de revolucionários de boteco quando se tem prazos a cumprir e uma eleição pela frente.
Tolinhos
Ingenuidade de quem achar que a necessidade de fomentar a economia não guarda relação com o calendário eleitoral. É claro que há relação. Alguém duvida? Só há uma ressalva: desde que esteja preservada a coisa pública, nada há de ilegal nisso.
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ENTREVISTA: Salete Lemos
Brasília desautorizada
ITAAN ARRUDA
Ela veio para Rio Branco na última quinta-feira falar sobre ‘O Futuro da Economia Brasileira e os Pequenos Negócios’. Convidada pelo Sebrae, a jornalista Salete Lemos palestrou na sede da Federação das Indústrias do Acre para empresários, estudantes, acadêmicos e trabalhadores.
A segurança na fala e o pensamento crítico tornam cada frase com o peso de uma sentença. Não do tipo que deve ser cumprida. Mas que exige reflexão. Como jornalista, sempre se incomodou com o “economês”.
Com a experiência das maiores e melhores redações do país, Salete mostrou que é possível falar sobre Economia e ser compreendida. Aqui, os principais trechos da conversa para o Acre Economia.
Acre Economia: De que forma a Amazônia está inserida no “futuro da Economia do Brasil”?
Salete Lemos: É impossível falar do Brasil sem falar da Amazônia.
AE: Mas, Brasília parece que não entende muito bem isso.
SL: Brasília hoje merece algumas considerações especiais. Nós temos percebido e temos acompanhado uma desorientação muito grande por parte do governo, por parte do Legislativo e por parte do Judiciário. Essa é Brasília. O que é Brasília?
AE: O que é Brasília?
SL: Brasília hoje é uma desorientação. Então, eu julgo e você vai lá e “retroage” [no sentido de desfazer a decisão]. Julga-se de novo. A ministra da Casa Civil fala uma coisa. A presidente no outro dia fala ‘Não! Não! Não! Isso não é oficial!’ Ou ‘Isso não é do Governo!’, no caso da TIM, por exemplo, [a Telefónica, dona da Vivo no Brasil, anunciou que iria aumentar participação na holding que controla a Telecom Itália, dona da TIM], o Paulo [ministro das Comunicações Paulo Bernardo]… ‘Não! Não! O Paulo está desautorizado… a presidente está P da vida com ele porque ele não tinha que ter falado…’ Quer dizer, você percebe a desorientação na atitude de governo, dos nossos parlamentares e do nosso Judiciário.
AE: Essa ‘desautorização’ para a economia…
SL: A maior dificuldade hoje seja exatamente você enxergar esse cenário de curto prazo exatamente em função das contradições. Ao mesmo tempo que nós acompanhamos um cenário estatístico positivo, na outra ponta você tem o mesmo cenário avaliado de forma negativa e com os mesmos argumentos. Não da para você dizer como a presidente ‘Existe uma parte da sociedade que trabalha contra o sucesso do Brasil’. Não é bem isso. É porque hoje você tem estatística para tudo, Você tem índices de inflação para tudo. Qual é o índice que você quer? De três? Eu arrumo. De seis? Eu arrumo também. Existe um desarranjo.
AE: O Banco Central anunciou uma estimativa de fechamento da balança comercial de US$ 2 bilhões esse ano. Em 2012, fechou com US$ 19,4 bi. Que análise que você faz disso? Por que essa redução tão drástica?
SL: Perdemos em competitividade, sofremos um processo drástico de desindustrialização, propagamos e inserimos 40 milhões de novos consumidores na nossa economia… uma demanda estrondosa, sem ter, em contrapartida, o movimento da oferta. Então, nós vivemos de importação. Se você pegar uma cesta básica de consumo, você vai perceber que 35% dessa cesta estão sendo alimentados por produtos importados. Isso é gravíssimo e um grande desestímulo.
AE: Isso é falta do quê?
SL: Da falta de uma política industrial; da falta de uma política agrícola; de artificialismos criados pelo Executivo no sentido de viabilidade política de governo. Você não pode fazer represamento de preço de combustível; você não pode fazer represamento de preço de energia; você não pode fazer represamento de preço de transporte. Quer dizer: é a mesma coisa que a Argentina fez e a Argentina está falida. Nós não aprendemos nada com a crise.
AE: Por que?
SL: Quando nós tivemos aquele bum de crescimento, eu acho que nós perdemos uma chance fantástica que o mundo apreendeu e o Brasil passou de ‘marolinha’ [irônica, em relação às declarações do ex-presidente Lula]. A crise, na verdade, nos impôs uma reflexão muito maior.
AE: O setor privado conseguiu apreender esse cenário efetivamente?
SL: Sem dúvida nenhuma. Você tem hoje, no setor de serviço, um ganho de competência que foi perdido na indústria. Você tem uma propagação imensa de pequenas empresas, de microempresas, de empreendedores individuais… que são empresários. Essa propagação foi muito interessante. É claro que é preciso orientar, formar mão de obra, no sentido do crescimento do microempreendedor. O Acre é exemplo disso.
AE: Não sei se você já ouviu falar sobre a nossa ZPE. A ZPE do Acre foi a primeira a ser alfandegada, mas não foi a primeira a entrar em operação, por uma série de fatores. Essa ideia de expansão da fronteira comercial para o Norte está lá no Sudeste? De que forma você avalia isso?
SL: A ZPE está como pauta lá no Sudeste. Mas, a iniciativa não. Quando você fala em zona de exportação imediatamente você remete à China. Não tem outra forma. A China é um exemplo mundial de estratégia de exportação com as suas zonas de processamento. Impressiona. O Brasil não tem infraestrutura para isso. Não adianta você criar polos se você não da viabilidade, não oferece infraestrutura.
AE: Compromete a viabilidade econômica.
SL: Não tem viabilidade econômica. Então, o que vai acontecer no Acre? Nada. Olha a nossa zona portuária? O que se enfrentou agora com a regulamentação dos portos. Cadê o Brasil nisso? Ao mesmo tempo que você percebe uma expectativa grandiosa… aí você olha para trás e você percebe que não há nenhum fundamento. Há uma contradição imensa. Há uma atitude pequena do governo em relação a isso. Não é um problema específico do Acre. Isso é Brasil.