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Idosos acreanos buscam cada vez mais o conhecimento

“Enquanto minhas pernas e a cabeça aguentarem, eu vou continuar a estudar”. É assim que a aposentada Artemira Cabral, 69 anos, resumiu sua rotina dos últimos 6 anos. Ao ingressar no ensino superior em 2005, ela concluiu o curso de Serviço Social com louvor. Um ano depois iniciou a pós-graduação e hoje planeja o mestrado.

Após 15 anos aposentada e sofrendo pela morte da mãe, Artemira decidiu que era hora de realizar o sonho de fazer um curso superior. Muito incentivada pelo único filho, Jafér Cabral, a aposentada acredita que a companhia dos colegas de turma e a rotina de estudos a curaram de doenças, inclusive da depressão.

“Depois da morte de minha mãe, fiquei 4 anos em depressão. Após muita insistência de Jafér, resolvi enfrentar este desafio. E hoje dou graças a Deus por isso. Recuperei a vontade de viver. Estou mais ativa do que nunca”, destaca Artemira.

Dos 55 alunos que começaram o curso, formaram 23. Entre eles estava Artemira. “Nunca reprovei um único período. Tentei atuar na área, fiz concurso, mas não passei. Depois disso, decidi fazer a pós-graduação. Encontrei verdadeiros amigos. Até hoje mantemos contato. Voltar a estudar foi a melhor decisão que tomei”.

Após quase 6 anos de estudos, a aposentada confirma que a possibilidade de ingressar no curso superior apareceu na idade certa. “Antes não podia. Meu trabalho era em regime de plantão e não tinha como parar para estudar. Depois, casei e tive filho”, justifica Artemira.

Meu próximo objetivo é o mestrado também na área de Serviço Social. “Infelizmente, as universidades locais não oferecem. Mas, se for preciso sair do Estado para realizar mais esse sonho, eu vou”, avisa a aposentada.

Artemira acredita que, por ter mais idade, as pessoas não devem ficar em casa se isolando do mundo. “Isso não funciona. Minha cabeça é que manda. Estou super ativa. Todos os dias vou dormir por volta de 1h. Gosto muito de ler”.

Ela aconselha aos idosos que estudem. “Não existe idade para estudar. A gente nunca sabe tudo. Todos os dias a gente aprende alguma coisa nova”, conclui.

Do seringal para a sala de aula
Nascida no seringal, dona Francisca de Santana, também de 69 anos, decidiu que era hora de voltar aos estudos há 1 ano. Depois de uma vida toda com dificuldades em ler e escrever, a aposentada que criou 5 filhos e mora na mesa casa há 28 anos, confirma que hoje percebe uma melhora significativa na qualidade de vida.

“Quando criança, eu e meus irmãos faltávamos muito à escola, já que ajudávamos nosso pai nos afazeres da roça. Além de cumprir a rotina de trabalho com prazo, eu procurava aprender nas horas vagas. Acordava mais cedo e tentava ler. Aprendi a escrever meu nome”, confirma a aposentada.

Além disso, o pai de dona Francisca, naquela época, tinha receio que as filhas tivessem contato com professor e justifica que era preocupação normal de pai.

“Sempre falo que não pretendo seguir carreira. Apenas gosto do ambiente escolar e principalmente de aprender. Sofro de esquecimento, mas percebo uma melhora neste problema. A convivência com os jovens é ótima. Para estudar nunca é tarde”, destaca dona Francisca.

Atualmente, a aposentada faz o um dos módulos do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) na escola Ayrton Senna.  “Quero terminar o ensino fundamental. Só quero me manter ativa. Apesar da preocupação dos filhos com minha saúde, quero ir até o meu máximo. Mas não tenho altas pretensões”, confirma.

Expectativa de vida cresce no Acre
Entre as décadas de 1980 e 2010, o Acre apresentou a 10º maior acréscimo do país em expectativa de vida ao nascer para homens e mulheres, segundo revela a publicação “Tábuas de Mortalidade por Sexo e Idade”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre as 3 décadas retratadas pelo IBGE, o Acre elevou sua expectativa de vida ao nascer de 60,34 anos em 1980 para 71,82 anos em 2010, representando um aumento de 11,48 anos, o 10º maior do país e superior ao aumento médio nacional (11,24 anos) e aos aumentos médios das regiões Centro-Oeste (10,79 anos), Sudeste (10,58 anos), Norte (10,01 anos) e Sul (9,83 anos).

O levantamento do IBGE mostra que, em 1980, a expectativa de vida ao nascer dos homens acreanos era de 58,30 anos e das mulheres de 62,88 anos. Trinta anos depois, em 2010, a expectativa de vida ao nascer dos homens cresceu para 68,68 anos e a das mulheres aumentou para 75,44 anos.

Resultados da Pnad apontam que quanto maior a idade maior o problema
Resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados na sexta-feira, 27, apontam que quase 60% dos analfabetos têm mais de 50 anos. Entre aqueles que tinham de 15 a 19 anos, a taxa foi de 1,2%, contra 1,6% entre os de 20 a 24 anos, 2,8% no grupo de 25 a 29 anos, 5,1% de 30 a 39 anos, alcançou 9,8% para as pessoas de 40 a 59 anos e foi de 24,4% entre os com 60 anos ou mais.

Segundo os dados da Pnad 2012, Tocantins, Paraíba, Pernambuco e Bahia são os estados que tiveram os maiores aumentos nas taxas de analfabetismo. Alagoas apresentou o maior índice: 1 em cada 5 (21,8%) habitantes de 15 anos ou mais não sabe ler e nem escrever. A taxa é a mesma registrada pela Pnad 2011.


A Gazeta do Acre: