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De caso com Madona

A noite era ainda uma criança. O ambiente de gente bacana fervilhava. Havia tilintar de copos, rock’n roll e outros barulhos. Olhei para o parceiro, à minha frente, que estava de par com uma dessas raras moças que detestam compromisso. Foi aí que dele se desprendeu pergunta cavilosa, sacana mesmo. Afinal, nós somos os típicos personagens meio ilustres enquanto parte ativa desse trotear que é a vida noturna, de boteco em boteco, sempre à procura de um rabo de saia ou de umas contas em boutiques de primeira linha.

– À saúde das mulheres todas que vão para a balada!

Antes, todavia, ele houve por bem ponderar acerca do fato de jamais lhe ter ocorrido um romance com uma dama de certa idade, ou de meia centena de primaverinhas.

– Eu teria razões de sobra para empreender um casamento com a Madona, a super star. O que tu dizes?

– Cruzes! Estás louco mais uma vez! De onde você tirou essa ideia? Porra de quengo dos mil infernos!

Finalmente, este poeta claudicante e pouco tímido havia despertado da surpresa dos sonhos mirabolantes do amigo de copo e de cruz.

Não apenas respondi à quase provocação, como passei a defender com menos unhas e mais dentes postulados profundos típicos das formulações de teses na Academia:

– Eu, que já convivi em meio às damas da alta roda e flertei com as do baixo meretrício, que já fui assíduo dos salões da Estudantina e dos lupanares do Beco das Garrafas, observo-me perfeitamente habilitado a aparar as suas arestas, velho moço de tanto traquejo. Falta em ti apenas algum jogo de cintura dada a robustez das ancas de elefante.

Afianço-vos, senhores, que todas as mulheres, independente de contarem com mais ou com menos de cinquenta voltas, têm as suas qualidades e os seus defeitos. Umas pendem mais pra cá, outras mais pra lá. Umas dão carinho. Outras já dão até porrada, esbofeteiam mesmo.

Mas o problema maior não está exatamente nelas por elas mesmas. Tudo fica pior a partir do momento em que a balança, o psicólogo e o nutricionista lhes impõem comportamentos e atitudes que vão de zero a cem em dois segundos… Aí, ela já virou um foguete atômico. Imagine! Tudo por que eles mal as deixam pensar por si só, principalmente o primeiro elemento  –  a balança  – que exerce uma puta influência nas relações da pós-modernidade. (Eu, por exemplo, já fui sarado. Hoje, sou esbelto e, por consequência, ligeiramente elegante.)

E haja pimenta de cheiro! Agora eu sou o analista de um bêbado contumaz.

Meu bom e astuto Eric-John Counterbury. Eu tenho todo o respeito do mundo pelas balzaquianas e pelas matronas. Por isto, vai o conselho que não é de graça, mas sai ao custo de uma long neck: jamais hás de te importar com a diferença de idade entre você e a dama. Fuja desse assunto imbecil que a nada leva. Nem tente parecer mais velho. Ela sabe que tem mais idade e ponto final. Mesmo com toda a modernidade e a medicina a favor, o fator idade continua sendo um drama na vida das mulheres.

Dentre muitos outros passos a seguir, hás de ter bastante pique. As mulheres mais velhas estão se cuidando muito e têm fôlego de garotinhas. Podem até não gostar de passar horas numa festa, mas, com certeza, vão ter oxigênio de sobra para uma noitada e tanto de amor. Então é bom você se cuidar também. Pegue leve nas baladas. E, acima de tudo, é preciso que tu saibas que existem exercícios que trabalham exatamente os músculos que você mais usa na cama, no sofá, no banheiro, na mesa da cozinha, sobre o vaso sanitário, seja do jeito que for.

Na alcova, na varanda, no carro e onde mais estiver quando o fogaréu dela acender, podes ter certeza que ela vai adorar um bom chamego dentro de um elevador ou numa praia deserta. Observe que, acima dos trinta anos, a mulher já resolveu boa parte dos tabus sexuais e deixou os pudores de mocinha de lado. Ela sabe o que quer, mas não significa que não esteja aberta a novidades.

Sou um especialista, sim. Analiso comportamentos femininos desde há séculos. Pouco aprendi e muito me escapou. Araque em forma de conselheiro sentimental de bêbado. Isso eu sou!

Seria conveniente, ainda, dentre outros truquezinhos mais, que depois eu te digo, um detalhe bem sutil ou sacana. Se tu ainda não tens muitas responsabilidades, pode dar-se ao luxo de ser um aventureiro. Daquele tipo que está aqui hoje e pode acompanhar a dama namorada a uma viagem de turismo ou negócios. Tá gostando? Curte.

Conversa de mesa de bar é mesmo assim. Estranhamente comprida, mas dificilmente chata, a não ser que um dos contendores passe a falar sobre a filosofia de Nietzsche ou sobre as razões de Kant. Aí, vêm as náuseas e os comprimidos…

O Eric-John Counterbury, enfim, depois das minhas viagens ao centro da terra, voltou a tratar, mais uma vez, sobre a sua paixão repentina de alma bêbada por Madona. Nela só viu qualidades.

Passados cinco meses, é este, ainda agora, o seu ponto de vista bem estrábico, é claro. O meu camarada está de quatro patas arreadas pela pop star!

– Ela é bonita, inteligente e atlética, como eu. Um pouquinho vesga, o que me ferve a libido. Manda muito bem no ritmo do bola gato, como poucas, pelo que se pode ver quando evolui em coreografias entre eróticas e pornográficas. É biliardária em ouro e diamantes, E os meus caraminguás não se comparam aos dólares dela. Não é fiel, no que parece demais comigo. Trata-se de um espécime feminino de curvas, reentrâncias e saliências que me fazem fugir o pudor da alma e as roupas do corpo. Melhor de tudo é que gosta de mulher, da mesma forma que eu. – Foram estas as últimas impressões que o Eric-John me passou ontem, agora por intermédio do tal facebook.

Em verdade vos digo, irmãos e irmãs. Está no livro de Josias, o da farmácia. A vantagem que o amor exerce sobre a fornicação é a multiplicação dos prazeres. Quanto mais prazer a carne sente, mais a brincadeira tem o sabor de esporte a que todos devem ter acesso, independente de raça, credo, ideologia… Sexo sempre pode.

Mas porque ficar tenso? Relaxa e vive o momento. Esquece o que o futuro te guarda. É segredo que ainda não te pertence. O risco que corre o pau corre o machado. Ou a língua ou o beiço. Ou nós nos apaixonamos todos os dias, ou não chegaremos a conhecer o amor a esmo, acasalado e besuntado por outras práticas ainda carregadas de tabus…  Digamos assim…

*José Cláudio Mota Porfiro é um cronista desatrelado:  www.claudioxapuri.blog.uol.com.br


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