Getúlio Vargas era presidente do Brasil. Em 1935 convidou o escritor Monteiro Lobato, criador do Jeca Tatu, para o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, o Ministério de Comunicação Social daquela época. A resposta pareceu a Getúlio tão fantástica quanto as criaturas do Sítio do Pica Pau Amarelo: – dezenas de páginas sustentando existir petróleo no Brasil. Lobato recusava o cargo em troca de apoio à causa do petróleo.
O presidente não levou à sério. Lobato ficou sem cargo e sem apoio, mas abriu polêmica e acusou Vargas de sonegar o petróleo ao país. Até foi preso por isso. O tempo mostrou que o escritor tinha razão, mas quando o petróleo brasileiro jorrou de um poço na Bahia, era Getúlio quem estava lá, dizendo: “O petróleo é nosso”.
A frase atribuída ao presidente virou lema da campanha nacionalista que fez criar a Petrobrás, em 1953, e colou em Getúlio Vargas, que já era o Pai do Pobres, também a paternidade da luta pelo petróleo – para pesar do já saudoso Monteiro Lobato.
Hoje o Brasil é autossufi-ciente e vive a era do Pré-Sal. Então o petróleo já é nosso? Nem tanto! Sua exploração não pode seguir exclusiva na costa do Brasil, precisa acontecer também no interior, na Amazônia, no Acre – por quê não?
Essa ideia foi defendida pelo então senador Tião Viana com a teimosia de um Monteiro Lobato. Desde o ano 2000 ele fez discursos, debates, dialogou com ambientalistas, incomodou autoridades da Petrobras, da Agência Nacional do Petróleo e do Ministério de Minas e Energia. Exigiu a prospecção de gás e petróleo no Acre.
Governador, Tião Viana colocou o Estado como parceiro do Governo Federal para fazer desse sonho a realidade posta: anuncia-se para novembro leilões para a exploração na região do Juruá.
Mas a política tem suas manhas e se Karl Marx dizia que história se repete como farsa, no debate acreano do petróleo surge uma comédia onde políticos que nem plantaram a ideia (como Lobato), nem trabalharam para fazê-la acontecer (justiça se faça, como Getúlio), tentam assumir a paternidade da sua realização.
O deputado Márcio Bittar espalhou por aí outdoors apelando mais para a apropriação da ideia, que para o debate. Em recente entrevista, o deputado Gladson Cameli bradou “o petróleo é nosso! O petróleo é nosso!”.
Tudo bem! O petróleo é nosso! É de todos! O que não parece certo é a oposição fazer campanha prospectando as ideias do governador Tião Viana.
* Gilberto Braga de Mello é jornalista e publicitário.
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