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O Acre que Márcio Bittar não vê

O deputado federal sul-mato-grossense, Márcio Bittar (PSDB),  primeiro secretário da Câmara dos Deputados, assinou outro artigo escrito por sua assessoria, dessa vez sobre o atual momento econômico do Acre. Com o título “Um engodo chamado florestania”, o assessor, ou melhor, o parlamentar diz que há, no Estado, um suposto “marasmo econômico”, fruto da opção dos governos do PT de investir num modelo de desenvolvimento compatível com a vocação florestal. E, contra isso, oferece a falácia da “verdadeira e honesta” parceria com o setor produtivo e os trabalhadores, e mais bois no pasto.

Ao velho estilo dos políticos oportunistas, Márcio Bittar materializa o despreparo do agrupamento oposicionista que tem se dedicado, nos últimos tempos, não em discutir projetos para o Acre, mas em encontrar um jeito de atrapalhar a reeleição do governador Tião Viana e do senador Aníbal Diniz. Para tanto, não é preciso reunir esforços na formulação de novas ideias de desenvolvimento. Isso, nem pensar. O importante agora é saber como tomar o poder do PT, aí, sim, depois se discute o que fazer com as principais demandas do povo acreano. Esse negócio de projeto de governo é perda de tempo, se precisar de um para apresentar ao eleitor, encomenda-se aos escribas de plantão, como faz com os artigos, ou se copia da internet.

Dizer que a economia acreana está estagnada desde 1999 é brigar com a realidade. Nos quase 15 anos de governos da Frente Popular, liderados pelo PT acreano, o compromisso ético com o combate às desigualdades e injustiças mudou profundamente a realidade do Estado. Hoje, está muito diferente e melhor. O Acre ficou menos desigual, a economia está mais forte e suas instituições, mais democráticas. Acompanha as transformações que se verificaram nos indicadores de desenvolvimento econômicos e sociais do Brasil, nos mais de dez anos de governos dos presidentes Lula e Dilma.

Como líder de uma oposição míope, Márcio Bittar não consegue ver esses avanços. A miopia política não permite que ele veja, por exemplo, os indicadores do IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) que mostraram a evolução do desenvolvimento humano no Acre, que há duas décadas tinha todos os municípios classificados na faixa de “muito baixo desenvolvimento humano”  e, hoje, apenas Jordão ainda se encontra nessa condição. Não percebeu que o IDHM do Acre cresceu 61%, maior que a média do Brasil, que foi de 47%.

Talvez o estresse de Brasília e a cabeça voltada para o Mato Grosso do Sul, sua terra natal, sejam as causas dessa cegueira, não permitindo ao parlamentar ver de perto os avanços que estão ocorrendo em todos os setores da economia. Isso explica, em parte, o porquê de ele não enxergar os investimentos em infraestrutura, como os que asseguram a abertura da BR-364 até Cruzeiro do Sul, o ano todo; em ramais, garantindo o escoamento da produção; em polos moveleiros, beneficiando a madeira e gerando emprego e renda em diversos municípios; e na piscicultura, que vai se consolidar com a inauguração do complexo industrial do peixe, uma área de 60 hectares localizada no quilômetro 35 da BR-364, sentido Rio Branco-Porto Velho.

Mas isso tem jeito. É só Márcio Bittar olhar o Acre com mais carinho, tirar o assessor que escreveu seu artigo do ar-condicionado de Brasília e visitar os municípios acreanos. Verá muito mais coisas boas acontecendo. Com certeza, ele não dirá mais que o programa Ruas do Povo e o projeto Cidade do Povo são apenas marcas. Saberá que o programa Ruas do Povo está mudando a infraestrutura urbana da Capital e dos municípios do interior, e que o projeto Cidade do Povo é o maior e mais ousado programa habitacional que definitivamente resolverá o problema das famílias que moram em áreas de risco em Rio Branco.

Vale ressaltar, no entanto, que não se cobra aqui um reconhecimento da oposição de que as mudanças são fruto dos investimentos feitos nos sucessivos governos do PT e da Frente Popular. Aliás, o papel da oposição é apontar erros e apresentar alternativas, mas isso não tem nada a ver com mentir e negar a realidade.

Mas não daria para esperar outra coisa. Afinal, além da cegueira política, Márcio Bittar faz parte de uma espécie cujo modelo mental acredita que na política cabe qualquer coisa, inclusive a mentira. São esses que fortalecem o senso comum de que a política é sinônimo de tantas bandalheiras, quando, na verdade, é o melhor instrumento de construção e afirmação da cidadania.

Por fim, o Marcio Bittar não deveria esquecer que o Acre tem um povo generoso, que costuma acolher bem aqueles que a aqui decidem viver, mas é implacável com aventureiros e aproveitadores.

* Jornalista, cientista político e acadêmico de direito.
bsbduarte@gmail.com


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