Além de momentâneas intensões de voto, as pesquisas de opinião oferecem informações muito mais interessantes sobre as tendências de um eleitorado. Isso é o que as fazem úteis e indispensáveis. O Datafolha divulgado domingo passado, por exemplo, mostra que a ideologia interfere pouco na decisão de voto do brasileiro.
Segundo o Datafolha, 49% do eleitorado nacional declara tender à direita, contra apenas 30% que declara tendência à equerda. Apesar disso, é o PT, um partido de esquerda, que recebe o maior percentual de intencões de voto para presidente em 2014.
No sentido clássico, esquerda é uma posição mais identificada com mudanças e a busca da igualdade entre as pessoas, enquanto a direita é mais conservadora e valoriza a individualidade.
A dicotomia surgiu com a Revolução Francesa, no Século 18. Na Assembléia Nacional, à frente da mesa diretora, os deputados que sentavam nas cadeiras à direita eram conservadores e indulgentes com a realeza em desgraça. Já os deputados que sentavam à esquerda da mesa eram os revolucionários mais radicais, sedentos de mudanças.
O conceito de direita e esquerda sobrevive até hoje, em todo o mundo, acréscido da posição de centro.
Durante a ditadura militar que oprimiu o Brasil de 1964 até 1984, se declarar esquerdista era uma “confissão” que dava cadeia. Hoje, saber que 30% do eleitorado brasileiro se diz de esquerda é uma verdadeira afirmação da nossa democracia.
Embora muitos considerem a dicotomia “direita e esquerda” algo ultrapassado, é interessante a convicção com que os entrevistados da pesquisa Datafolha escolhem um lado. Mais ainda quando separam o posicionamento ideologico da opinião sobre o Governo Dilma, com aprovação positiva, e da intenção de voto, com um PT de esquerda liderando em um eleitorado com maioria de direita.
Isso me lembra o saudoso empresário e pecuarista Alemão. Bonachão e conciliador, ele tinha amigos em todas as correntes políticas do Acre. Quando o debate esquentava, elevando a cobrança de posicionamento, Alemão disparava: – “Sou um radical de centro!”.
Gilberto Braga de Mello é jornalista e publicitário.
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