O suplemento Acre Economia inicia a série Empreendedores. A ideia é reforçar o espírito de superação que há na incipiente iniciativa privada local, sobretudo no varejo. São pequenos
e micro-empresários que pagam impostos, se contorcem com a desqualificada mão de obra local, driblam o cenário de crise instalada e conseguem se manter no mercado. Para além do discurso oficial ou dos sofismas de palestras motivacionais, o fato é que está faltando dinheiro no mercado local. O comércio sente isso. Mas, apesar do cenário adverso, tem gente teimosa por aqui. Pessoas que insistem em apresentar algo novo para fazer com que o Acre tenha um ambiente econômico mais dinâmico. Confira!
Os sabores da madeira
O que a Casa da Vovó tem a ver com design minimalista, galhos reaproveitados e a rusticidade calculada por uma das mais sofisticadas indústrias moveleiras do Acre?
ITAAN ARRUDA
A expressão vem do francês. E a tradução é difícil, mas o empresário George Dobré consegue explicar o significado e, ao mesmo tempo, fazer a defesa da concepção do empreendimento. Chez MéMé é Casa da Vovó.
A perspicácia de Dobré e da esposa Mara Regina Braga foi conciliar as sugestões que a expressão carrega com a proposta de trabalho. Portanto: ideias de aconchego, amparo, acolhimento, boa receptividade se harmonizaram com uma ausência sentida pelo casal.
“Nós sentimos falta de um tipo de atendimento e de um ambiente onde nós gostaríamos de estar e de sermos atendidos”, lembra Dobré. “Um local mais reservado, mais tranquilo e com um cardápio menos regional”.
A ousadia de fazer um menu menos regionalizado tem dois motivos básicos: as referências culinárias dos empreendedores e a concorrência. “Já existe muita gente trabalhando com a culinária local e trabalhando com experiência acumulada e talento. Por isso, resolvemos ser uma opção complementar a isso”, explica o empresário.
O casal acertou no tom e na forma. A Chez MéMé foi aberta há três meses e já tem clientela fidelizada no consumo de quiches, bolos, biscoitos, amanteigados e tortas, associados a um café diferenciado.
O ambiente foi cuidadosamente pensado pelo casal. Cada coisa é ofertada como quem chama um amigo para merendar no meio da tarde. Com uma diferença incomum: enquanto o café é servido junto com um bolo, o cliente pode estar ouvindo um vinil de Chet Baker e deliciando-se com as imagens de Cartier Bresson ao alcance de todos.
Um gargalo que o casal já sentiu diz respeito aos insumos para manter o cardápio. “Nós temos um cardápio dinâmico e o modificamos quase diariamente”, explica. “Tentamos alimentar a expectativa no cliente de que não vai haver sempre a mesma coisa e aí o conceito de ‘Casa da Vovó’ se fortalece porque quando íamos à casa das nossas avós nós não sabíamos o que íamos comer. Só sabíamos que iria ser gostoso”.
O negócio deu tão certo que o casal já pensa em montar um pequeno bistrô, com menu ampliado: saladas, queijos, quiches, vinhos. Mas, a ideia ainda está no planejamento. Sempre preservando o diferencial de receber de forma “pessoalizada”.
“É preciso saber o que a madeira quer ser”
Antes de chegar ao espaço Chez MéMé, o cliente passa pela Iiba Decor: um showroom com os móveis produzidos pela indústria Iiba. A empresa de Dobré, em sociedade com o empresário Carlos Moura de Cruzeiro do Sul, reaproveita madeira de áreas de manejo.
É uma das poucas que mantém o selo da FSC. No espaço dos móveis, o cliente da Chez MéMé passa por aparadores, mesas, cadeiras, buffets com requinte diferenciado no mercado regional.
Para reforçar a concepção da Iiba, Dobré lembra uma conversa que teve com um velho luthier em um pequeno sítio do inte-rior de São Paulo. “Esse senhor, já com setenta anos, passou a ser fornecedor de madeira para luthiers. Ele me disse que é preciso descobrir o que a madeira quer ser. Nunca esqueci esse conselho e com ele concebi a Iiba”.
ChezMéMé
Rua Veterano Hernesto Sales, 154; Abrahão Alab (esquina com o Colégio Meta)
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NOTAS ECONÔMICAS
Via Verde I
Bobagem exigir que o empresário Dorival Regini seja o paladino da crise no varejo. Quem tiver a imaginação de que ele venha a público sentenciar: “O Via Verde está em crise! Oh Meu Deus!” pode tratar de pensar outra coisa. Regini é um dos sócios da Landis, empresa que administra o shopping do Acre.
Via Verde II
Ele é o entrevistado da semana do Acre Economia. Como não poderia deixar de ser, fez a defesa do empreendimento. É o papel dele. Quem se sentir prejudicado com as declarações do empresário, basta procurar o jornal que será prontamente atendido. O Acre Economia sempre ouve quem precisa ser ouvido.
Explicação
A explicação é necessária para que o leitor saiba que já procurou inclusive advogado da associação dos lojistas para ouvir o que se tem a dizer. Na ocasião, chegou-se ao entendimento de que “não era hora”. Pois bem, fica aqui o registro que caso a hora tenha chegado, o espaço continua aberto. Como sempre esteve.
Dificuldade I
O Acre é uma terra realmente intrigante. As relações políticas por aqui são tão intrincadas que até pesquisador, com respaldo de instituição de reputação inquestionável, tem receio de falar sobre o que pesquisou para não melindrar o governante de plantão.
Dificuldade II
Falta muito ainda para se ter uma postura republicana que trate os números e os problemas que eles apontam de forma tranquila, sem receios. Desde que respeitados os rigorosos métodos científicos, que mal há em divulgar um problema? É até missão das instituições de pesquisa. Ainda mais quando se analisa investimentos envolvendo verbas públicas.
NET
O desejo de todos os assinantes dos serviços de telefonia celular e internet é que a chegada da NET chacoalhe as empresas que já estavam no mercado local. Com 33 milhões de assinantes em todo o Brasil e investimentos de R$ 10 bilhões, a NET chega com postura agressiva no mercado local.
NET II
Essa concorrência é salutar para refinar o gosto do consumidor e também para oferecer opções. Essa possibilidade de escolher é que o acreano não tinha em quantidade satisfatória. Em nenhum segmento. Como nos tempos atuais o conceito de “cidadão” tem se mesclado muito ao de consumidor, os serviços se multiplicam com as mais variadas formas. Quem paga tem acesso. É a lógica de mercado.
Protesto
Um grupo de estudantes exigiu a democratização dos meios de comunicação e também uma conduta republicana durante a aprovação do marco regulatório que trata da internet. Com faixas e cartazes, a cobrança foi endereçada diretamente ao ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. A coisa transcorreu de forma democrática. Não houve tumulto. Quem quis falar, falou. Quem tinha que ouvir, ouviu. Ponto.
Banda larga
Nem nós da imprensa local e nem os agentes de governo souberam explicar o que de fato foi esse Programa Nacional de Banda Larga que o ministro Paulo Bernardo veio lançar no Acre.
Inclusões
O fato é que o Acre tem urgências mais danadas para se resolver nessa área. Analfabetismo, qualidade de Ensino, acesso às tecnologias digitais, respeito à Lei de Acesso à Informação (com ou sem internet).
Reaquecimento
Com a possibilidade de a China não terminar o ano de forma tão desaquecida como se previu anima vários setores da economia. O mesmo ocorre com os Estados Unidos, mesmo após as últimas derrotas do presidente Obama no Congresso. O fato é que o setor madeireiro já ensaia algumas comercializações.
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Novas análises sobre China e EUA chacoalham bastidores do mercado madeireiro
ITAAN ARRUDA
Novas análises feitas por economistas e institutos de pesquisa de mercados traçam panorama de “retomada” nas economias da China e dos Estados Unidos. Os sinais positivos da China movimentaram o segmento de soja, açúcar de cana (bruto) e carne de frango. Nos Estados Unidos, mesmo com a recente derrota do presidente Obama no Congresso, o cenário macro é de otimismo.
Essas duas economias ditam o ritmo do comércio mundial. Sensível a essas mudanças, o mercado madeireiro do Acre já sente algum efeito. Um empresário do segmento (que não quis se identificar) admite que reiniciou contatos com antigos clientes norte-americanos. “Já retomamos, mas nada de divulgação por enquanto”, esquivou-se.
No Acre, em função do mercado externo desfavorável e dos problemas com as obras públicas do Governo, a crise no segmento estava corroendo as empresas por dentro. Demissões foram feitas e a restrição no mercado estava limitando expansão e manutenção da estrutura empresarial.
Internamente, o cenário ainda não é o melhor, mas só em retomar possibilidades de contratos já dá novo ânimo aos empresários. Nesses casos que envolvem mercado internacional o que dá segurança às empresas é que não se trata de relações com governos. “É de empresa para empresa”, diz o empresário.
Esse ambiente de “retomada” já está no poder público. O diretor-presidente do Instituto do Meio Ambiente do Acre, Fernando Lima, estima que dos 42 mil metros cúbicos de madeira extraídos nas áreas de manejo comunitário em 2012 saltem para 200 mil metros cúbicos.
“Isso só no manejo comunitário”, diferencia. “Conversei com o governador para que fosse ampliada a equipe do Imac para garantir fiscalização nos processos com esse volume e ele foi sensível à situação”.
Atualmente, o Imac possui uma equipe de sete profissionais para avaliar os projetos de manejo. Cada um dos profissionais tem a incumbência de monitorar cerca de vinte processos. “É muita coisa e com essa retomada é preciso mais pessoas para garantir a aplicação da lei como sempre fazemos”.
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Governo do Acre fomenta a economia e gera emprego em Sena Madureira
Sena Madureira, distante 144 quilômetros de Rio Branco, está entre os nove municípios do Acre que vão receber em breve um Parque Industrial e um Polo Moveleiro.
Com o objetivo de fomentar a indústria local, para assim gerar emprego e renda para os acreanos, o governador Tião Viana, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), constrói parques industriais em nove municípios.
Em Sena Madureira, as obras seguem em ritmo acelerado. “Nós queremos aproveitar o máximo possível esse restante de verão, para que no final do ano, nós possamos entregar toda a infraestrutura do parque pronta”, comentou Edvaldo Magalhães, secretário da Sedens.
A parte de infraestrutura que inclui drenagem, arruamento e elétrica estão com quase 40% da obra concluídas. Já os prédios de apoio, que são: refeitório, administrativo e estufa estão todos prontos.
Assim como os demais parques industriais que estão em construção, os marceneiros de Sena Madureira também vão ganhar um Polo Moveleiro, que está sendo construído dentro do parque.
Devido o grande número de marceneiros no município, 12 galpões estão sendo levantados. O local abrigará todos os marceneiros locais. “No início poucos acreditavam que esse Polo iria mesmo sair do papel, e hoje vendo mais de 70% desses galpões prontos, não tem como não acreditar”, confessou emocionado Manoel Oliveira, presidente da Cooperativa de Marceneiros de Sena Madureira.
O secretário Edvaldo Magalhães esteve visitando as obras, e acredita que se tudo correr dentro do programado, o polo moveleiro e a infraestrutura do parque poderá ser entregue a comunidade no final do ano.
“Queremos até dezembro entregar a obra. Já temos 17 empresas interessadas em se instalar no parque, são empresários que vão gerar emprego para os moradores do município”, disse Edvaldo. (Jaqueline Teles – Assessoria/Sedens)
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Via Verde rebate críticas sobre crise e estima R$ 200 milhões em vendas para 2013
ITAAN ARRUDA
Dorival Regini só sabe conversar com régua e compasso. Ao seu lado, sempre está o fiel tablet que o conforta com o sobe e desce das vendas nos shoppings administrados pela Landis, empresa responsável pelo Via Verde.
O empresário rechaça qualquer análise que tenha a palavra ‘crise’ como pano de fundo. Nessa entrevista para o Acre Economia anuncia que a estimativa de vendas para 2013 é de R$ 200 milhões.
As tabelas e gráficos apresentados contrastam com o desconfortável cenário no chão das lojas: 26 empreendedores em processo de ordem de despejo e o clima tenso com a associação de lojistas. “Eles não têm legitimidade”, calcula o empresário. “As vendas no shopping estão crescendo”.
O otimismo incondicional de Regini acaba defendendo os 1.375 empregos diretos e outros 3,5 mil indiretos do Via Verde. Na tentativa de rebater a falta de circulação de dinheiro fora dos muros do shopping, o empresário busca mostrar o consumo que nem todos conseguem ver. E anuncia abertura de novos em-preendimentos, com destaque para a Studio Z, Comepi Cosméticos e Mr. Cat.
A GAZETA: Há quatro meses, o senhor disse ao Acre Economia que havia 24 ordens de despejo de empreendedores do Via Verde. Como está a situação hoje?
DORIVAL REGINI: Hoje, são 26. Das ações [de despejo] que nós tínhamos estão todas em curso. Então, você vê que não cresceu.
A GAZETA: Há dois a mais.
DR: Alguns nós fizemos acordo. Continuam no shopping. Tivemos alguns fechamentos. Dentro dessas 24 que tinham antes e 26 agora, porque aumentaram duas, nós temos quatro lojas que fecharam. Já não são mais ‘despejo’. Então, eu poderia te dar um número e te dizer: ‘Não são 26. São 22’. Não aguardaram a conclusão de despejo.
Em uma análise com horizonte de curto prazo, é possível admitir que estamos em um cenário de crise. Não é? Porque se não estivéssemos não haveria por que ter loja fechando, condomínio atrasado… A crise existe e está instalada.
A GAZETA: Você fala crise no shopping?
DR: Inclusive. É difícil chamar de ‘crise’. Para nós não é crise. Teríamos crise se efetivamente as vendas no shopping estivessem decrescendo. Aí seria crise. Ao contrário: as vendas no shopping continuam crescentes.
A GAZETA: Mas, há lojas fechando.
DR: O que acontece? É óbvio, e nós não podemos negar, que a gente está vivendo um cenário econômico no Brasil diferente do cenário econômico de dois anos atrás. O que acontece é o seguinte: o shopping continua com vendas crescentes. Então, mesmo com fechamento do Araú-jo, que era responsável por uma parcela dessas vendas, o shopping não só absorveu esse fechamento como ele cresceu.
A GAZETA: O que isso quer dizer?
DR: Isso denota o seguinte: qual seria a conta natural que qualquer pessoa faria? Eu estou vendendo 100 com esse aqui [referindo-se ao Araújo]. Se esse aqui sai, eu passo a vender 98. O que aconteceu foi o seguinte: eu vendia 100, o Araújo saiu (que vendia 2) e minha venda foi para 110. Ou seja: quando eu olho o meu crescimento, eu falo: ‘Olha! Eu tive crescimento de 10 por cento’. Mas, se eu pegar ‘esses dois’ que estavam aqui, minhas vendas foram superiores a 10 por cento. O nosso crescimento do shopping não é crescimento inflacionário e isso é importante se frisar.
A GAZETA: Não cresceu em função do aumento de preços.
DR: Não se cresceu porque houve uma ‘correção’ de preços. Não é isso. O crescimento do shopping é superior à inflação do país. Então, eu desconto a inflação e eu tenho o crescimento. É isso o que está acontecendo hoje.
A GAZETA: Quanto as vendas do shopping cresceram?
DR: Os números que eu tenho são números auditados. Em janeiro deste ano, o crescimento das vendas foi de 19 por cento, comparado sempre ao mesmo mês do ano anterior. Em fevereiro foi de 30 por cento [porque em fevereiro passado houve a enchente e as vendas tiveram uma queda natural]. Em março, 40 por cento, com quinze milhões de reais de venda aqui dentro do shopping. Em abril, 18 por cento. Maio 29 por cento. Junho, 4 por cento. Por quê? A base já era uma base alta. Em agosto, 14 milhões de novo. Em setembro do ano passado nós vendemos 13,5 milhões e em setembro desse ano nós devemos fechar em 15 milhões.
A GAZETA: É difícil admitir o cenário de crise, não é?
DR: Não se trata disso. Vou te dar um exemplo. Eu gosto de comida japonesa. Sempre que eu vinha aqui, além da loja que tem no shopping, eu ia muito ao Shirakawa. Da última vez que eu vim aqui, eu tentei ir ao Shirakawa. Mas, o Shirakawa fechou. Só que ninguém deu holofote dizendo: ‘Olha! A cidade tá quebrando porque fechou um restaurante!’. Agora, no shopping, o que acontece? Qualquer movimento no shopping, vem pessoas dizer que o shopping não está legal. Eu vejo o seguinte: se as vendas estão crescendo é porque você tem empreendedores que estão indo bem e tem empreendedores que, infelizmente, não acertaram.
A GAZETA: Mas, se não há crise, por que lojas fecharam?
DR: A nossa tendência é sempre ver o lado negativo das coisas. ‘Ah! Fecharam quatro lojas!’. Ok. Fecharam quatro lojas. Mas, abriram quantas lojas?
A GAZETA: Abriram quantas lojas?
DR: O que acontece é o seguinte: abre mais do que fecha. Vamos lá: no dia 10 de outubro, inaugura a Studio Z [calçados e roupas para adultos e crianças], uma loja que vai ter 800 metros quadrados. Essas quatro lojinhas que fecharam, juntando as quatro totalizam 150 metros. Só uma loja que vai abrir aqui, em metragem, vai ter 800 metros. A Mister Cat, que tinha aqui na cidade e fechou, reabre aqui no shopping até o final do mês. Pô! Mas, ninguém falou que fechou uma Mr. Cat lá na cidade! E agora vai reabrir no shopping. Se o shopping é problemático, por que a Mr. Cat vai reabrir aqui? Com um detalhe: agora, quem vai abrir aqui é a Mr. Cat. Não é um franqueado. Eu negociei direto com a Mr. Cat.
A GAZETA: Não tem um empreendedor?
DR: Tem. Mas, a Mr. Cat foi lá e buscou. Não fui eu quem busquei alguém que tinha a marca aqui para trazer para cá. A Sansung Store vai abrir aqui ocupando um espaço de 150 metros. Já está com o tapume. Só a Sansung absorve toda essa metragem de lojas que fecharam. Vamos avançando…
A GAZETA: C&A…
DR: [sorrindo] A C&A você divulgou [fazendo referência a uma reportagem do Acre Economia em que se adiantava as articulações para a chegada marca holandesa no Acre] mas não tem negociação para trazer a C&A.
A GAZETA: Mas, a própria assessoria da empresa não negou.
DR: A assessoria não negou e acabou que… ela te passou uma informação… desgastou uma barbaridade a assessoria. Porque se eu for colocar a C&A eu vou ligar na frente de todos da diretoria e te passar essa informação. Isso gerou um desgaste para mim e para o meu sócio com a C&A. E ela não veio muito em função de um conceito: o equilíbrio de mix.
A GAZETA: O que é isso?
DR: Quando a gente faz um lançamento no shopping, a gente faz uma pesquisa e mapeia toda oferta da cidade. O estudo aponta quanto o shopping pode ter de cada segmento. Eu começo a compor o mix com base nesse norte.
A GAZETA: Na composição do shopping, então, havia desequilíbrio: havia muita loja de sapato, por exemplo.
DR: Não é verdade. Falta loja de sapato feminino no shopping. E a Studio Z vai entrar justamente aí. Vou te dizer onde havia desequilíbrio: frozens [espécie de sorvetes]. Esse estava desequilibrado. Tinha duas lojas quando o mercado poderia absorver uma só. Uma das lojas de fronzens fechou e a outra passou para a parte da frente. Ela estava no corredor de fundo…
A GAZETA: Um corredor ‘morto’…
DR: Não é ‘morto’. O corredor de fundo é um espaço para ‘lojas de grifes’, digamos assim. Kitsch, Stroke e agora vai entrar mais uma: vai entrar ali, Alea-tory [roupa feminina].
A GAZETA: Então, voltando à questão da C&A e do equilíbrio de mix. A C&A está descartada?
DR: Não. Não está descartada. Nós queremos, sim. Mas no momento certo.
A postura da administração do shopping é encarada por muitos empreendedores como austera nas negociações. Em outra conversa com o Acre Economia o senhor disse que ‘não reconhecia a associação dos empresários do Via Verde e que não havia assinado contrato com a associação, mas com cada empreendedor’. O que mudou nessa relação?
Primeiro: qualquer associação tem que representar a maioria. Uma associação, que é criada por uma minoria de lojistas, sendo que esta minoria são os principais lojistas que devem para o shopping… então, ela não tem um caráter de trabalhar junto com o shopping. Ela provavelmente foi criada para defender interesses particulares de alguns lojistas. Qualquer associação tem que ter representatividade. Eu não posso permitir que uma associação de dez, quinze pessoas chegue aqui e queira representar a maioria. Eles não têm legitimidade. Esse é um primeiro ponto.
A GAZETA: Quantos lojistas existem no shopping e quantos estão associados?
DR: De um total de 143 lojas, eu tenho 58 exclusivas do Via Verde e 85 lojas estão em outros lugares de Rio Branco ou em outras cidades. Se eu tenho 143 lojas, como uma associação que tem 30 aproximadamente quer representar a maioria? Segundo: das 143 eu tenho 26 com ação de despejo.
A GAZETA: Dos 30 e poucos associados…
DR: Eu te diria que dos associados, eu te diria que 20 são esses casos de ação de despejo. Eu imagino que a associação foi criada em um contexto de que iria sentar como shopping e discutir questões em comum, mas ela derivou para outro lado. A primeira coisa que a associação fez foi entrar com ação judicial para querer deixar de pagar o condomínio do Via Verde Shopping e pedindo para apresentar a prestação de contas. Sendo que todas as prestações de contas estão aqui. Basta subir e pedir. É contratual. Eu tenho que prestar contas do condomínio. Quem tá querendo diálogo senta e conversa. Eu te garanto o seguinte: os bons lojistas não procuram a imprensa para falar do shopping. A coisa acontece de maneira natural. Trata-se de alguns mal lojistas que ficam o tempo todo procurando achar uma desculpa para o insucesso.
A GAZETA: A negociação de forma coletiva é improvável?
DR: Em qualquer relação existe um contrato e as pessoas têm que entender o seguinte: eu não sentei com dez pessoas para negociar o seu contrato. O que acontece? Passa um período e agora essas pessoas querem negociar em bloco. O que se faz em um momento desses? ‘Espera aí! Quando nós negociamos aqui não havia um bloco negocial. Eu não aluguei loja do shopping para associação dos lojistas do shopping’. Essa é uma confusão que esses lojistas estão fazendo. Eu reconheço a associação não para discutir assuntos particulares de lojistas. Esse não é o caráter da associação. O fórum para discutir se o empreendedor está pagando ou não o aluguel é o contrato que eu tenho. Se o empreendedor quer o diálogo, a gente senta e negocia. Se quer tratar de forma judicial, nomeiam-se os advogados e vamos tratar de forma judicial. Há lojistas que têm débito com a gente, mas são pessoas que sentam e conversam, negociam.
A GAZETA: O argumento é relativamente simples: os custos fixos do shopping são altos e as vendas não acompanham o ritmo adequado para os negócios.
DR: Alguns lojistas aqui que vão bem dizem: ‘Eu não tenho problema nenhum de custo’. O problema, às vezes, não é de custo. É de receita. Só que como não está conseguindo performar [ter bom desempenho] com aquele produto ou com aquela franquia, aí ele atribui ao shopping. O custo fica alto quando você não tem receita, quando não se acertou no produto.
A GAZETA: Existe possibilidade de aumentar o tempo de tolerância do estacionamento? De três para quatro horas, por exemplo?
DR: O tempo médio de um consumidor no shopping e duas horas, duas horas e meia. O consumidor que fica um pouco mais de tempo é o consumidor do cinema. Como o fluxo do cinema é muito à noite…
(Foto: Odair Leal)