Será que se todos os adolescentes conhecessem como funciona o sistema de privação de liberdade, eles continuariam a cometer atos infracionais? Pensando nesta situação, o Instituto Socioeducativo do Acre (ISE) começou ontem, 1º, um trabalho de prevenção na Escola de Ensino Fundamental Raimundo Gomes de Oliveira.
Estudantes do 7° ano assistiram atenciosos às palestras sobre as doutrinas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e vídeos selecionados pela equipe sobre a realidade de um Centro Socioeducativo. Eles aprenderam que, por trás de todo um trabalho multidisciplinar e pedagógico, existe o terror de precisar conviver internado com pessoas estranhas, capazes de tudo.
Um vídeo com o relato de um adolescente em conflito com a lei de outro Estado apontava situações inimagináveis. O jovem explicava que o garoto ‘brigão’ da escola na unidade vira ‘Maria Bonita’. Lá, as regras são as da casa. Ninguém manda em nada. Quando o agente socioeducativo, responsável pela integridade física e mental do interno, não está por perto, possibilita que os mais fracos sejam espancados pelos mais fortes.
De acordo com o assessor da Divisão do Meio Fechado do ISE/AC, Walderlan Lima, a proposta é mostrar aos alunos que ainda não tiveram nenhuma experiência de privação de liberdade como funciona a relação de um adolescente com o outro colega dentro da unidade. “A mensagem principal que estamos trazendo é ‘a educação me tira da socioeducação’; e de que quem quer os seus direitos deve cumprir os deveres”, afirma.
Esta é a 1ª edição do Socioeducação Preventiva realizada em Rio Branco. Outras 12 escolas públicas e privadas aguardam a apresentação. A estimativa é de que até outubro de 2014, quando o projeto deve ser encerrado, pelo menos 100 escolas tenham sido atendidas.
O trabalho foi realizado com a parceria do Ministério Público do Acre (MP/AC), que reconhece a importância da iniciativa para contribuir na redução do número de adolescentes em medidas socioeducativas. Segundo a assessora do órgão, Priscila Torres Rangel, o promotor Francisco José Maia Guedes é receptivo à ideia. Ela revela que metade dos casos que resultam em sentença de medida é oriunda de conflitos nas escolas. “Todos os dias recebemos situações de adolescentes que brigam ou cometem algum outro ato infracional nos locais de ensino”, aponta.
Para o diretor da escola beneficiada, Osleno Freitas da Silva, os locais de ensino precisam focar no trabalho de prevenção da violência. “Tem dias em que a gente não faz outra coisa a não ser tentar intermediar conflitos entre os alunos. Às vezes, eles começam as discutir aqui e levam a briga para fora da escola, achando que não vão ser penalizados. Quando sabemos do fato, independente de onde aconteça, chamamos os pais, fazemos o relato e lançamos uma punição. Mas, antes de qualquer coisa, precisamos trabalhar a prevenção. E é aí que entra esta parceria com o ISE”, declara..
Entre os estudantes que participavam do projeto estava ‘João Paulo’ (nome fictício), de 14 anos. Devido a uma briga na escola e o fato de ter sido pego portando maconha, ele foi sentenciado a cumprir Liberdade Assistida (LA) no sistema socioeducativo. Apesar disso, o jovem continua mantendo o vício da droga.
Ele conta que começou a usar o produto quando tinha 11 anos. Como não possui emprego, os amigos do bairro, também usuários, lhe dão o entorpecente. Há 1 mês, após vários apelos da mãe, o menino resolveu suspender o fumo.
Após assistir a edição do projeto, ele confessa que ficou impressionado com a realidade de um centro socioeducativo. “Alguns amigos meus já passaram por lá, mas não quero isso pra mim. Só que parar não está sendo fácil. Estou tentando mudar. Até porque ninguém quer perder a vida assim”, justifica ele. (Foto: Odair Leal)