Adolescentes em medida socio-educativa de semiliberdade visitaram nesta quarta-feira, 2, o Lar Vicentino, em Rio Branco. Um encontro de duas gerações com histórias que se confundem em meio ao abandono. De um lado, os idosos, esquecidos pelos parentes. Do outro, socioeducandos carentes de referências positivas na vida.
O Projeto de Valorização da Pessoa Idosa, desenvolvido pelo Centro de Apoio à Semiliberdade, ao Egresso e Família (Casef), foi trabalhado com os adolescentes nas salas de aula durante um mês. A visita foi programada como encerramento da atividade.
Segundo a diretora do Casef, Cíntia Pontes, o principal objetivo da visita é despertar o sentimento de altruísmo nos adolescentes. “Infelizmente, a sociedade está massificada com a falta de emoção. Acreditamos que trabalhos assim fazem parte do processo socio-educativo, pois desperta nos adolescentes a empatia pelo outro. É uma tentativa de tocar os meninos, mudar essa característica de eles só olharem para si, algo particular da adolescência”, explica.
Ainda de acordo com diretora, os socioeducandos foram marcados com a indiferença e a frieza de uma criação geralmente pouco afetuosa. “Aconteceu uma coisa interessante antes de a gente vir para o Lar Vicentino. Eu abracei um dos meninos e disse que era aquilo que precisávamos levar para lá: o nosso abraço. Ele me olhou assustado e disse ‘dona Cíntia, assim a senhora me faz chorar’. Ou seja, eles não estão acostumados com o contato físico. Na maioria das vezes, foram tratados com indiferença e frieza”, relata.
Para muitos dos socioeducandos, conhecer o Lar Vicentino foi a primeira experiência mais próxima com a pessoa idosa. Na ocasião, os meninos presentearam os idosos com origamis, arte de fazer objetos com papéis dobrados. Os produtos foram confeccionados pelos adolescentes dos Centros Socioducativos Aquiry, Santa Juliana e entregues pelos jovens do Casef. Em uma das embalagens havia o seguinte recado: “É apenas um presente de papel e se eu tivesse mais alguma coisa daria, mas é de coração”.
A atual diretora do Lar Vicentino, Gislene Chalub, nutre um sentimento de amor pelos moradores do local. Conhece a história e o humor de cada um. Segundo ela, as visitas são alimento para a alma deles. “A maioria dos idosos são aqueles que não podem caminhar ou sair da casa. Então, ficam muito satisfeitos em ter o contato com pessoas de fora, que trazem novas histórias. As pessoas devem valorizar mais o idoso, que já contribuiu tanto para o nosso Estado”, recomenda.
Um abrigo com toque de casa
Fundado em 1° de abril de 1953, o Lar Vicentino iniciou os trabalhos abrigando moradores de rua. Atualmente, recebe apenas pessoas com mais de 60 anos de idade. Hoje, o local atende 63 idosos e conta com 16 funcionários.
Alguns dos moradores estão lá por conta própria, outros não tiveram outra opção, ao serem esquecidos pela família. Os que podem contribuem financeiramente, com o dinheiro da aposentadoria, para permanecer na casa.
Para o aposentado Filomeno Andrade, 87, morar no local é uma diversão. Ele declara que é bem acolhido e que não há lugar melhor no mundo para viver nas condições em que está: “A diretora é como uma mãe pra gente”, afirma.
Além de apoio de alguns órgãos e de voluntários, o Lar funciona com as doações das pessoas.
O amor não tem idade – Atanagildo Brito, 85, não lembra como chegou ao Acre. Com poucas memórias sobre o passado, o homem deu entrada no Pronto-Socorro de Rio Branco e a única coisa que sabia era pedir para ser levado ao Lar Vicentino. Com o pedido atendido, ele conheceu no local uma pessoa a quem chama de “o último cartucho encontrado”.
É Marina Pereira, de 65 anos, que apresenta um comportamento reservado. Não fala com ninguém, exceto com Atanagildo. Essa atitude e parceria fez surgir um romance entre eles. Para onde um vai, o outro está “na cola”, de mãos dadas. “Pedi a mão dela em casamento para a diretora do Lar”, conta.
Nova amizade – Outro idoso do Lar Vicentino é o aposentado Luiz Pinto, que aos 92 anos de idade, é muito lúcido. Ao receber a visita dos socioeducandos não demorou a fazer amizades. Aproveitou seu dom de contar piadas para chamar a atenção dos meninos.
Luiz veio do Ceará para o Acre há 70 anos, para cortar seringa, e por aqui ficou. Cheio de histórias, gaba-se da habilidade de ler a Bíblia e ser comunicativo. Com esse comportamento, despertou no socioeducando Marcelo (nome fictício), 17, a vontade de retornar para vê-lo. “Pensei em vir outras vezes e quem sabe ser voluntário. Quero manter o contato, pois ele é muito engraçado”, promete o jovem. (Texto: Brenna Amâncio-Agência Acre/ Foto: Diego Gurgel- Secom)