O Projeto de Valorização da Pessoa Idosa, desenvolvido pelo Centro de Apoio à Semiliberdade, ao Egresso e Família (Casef), foi trabalhado com os adolescentes nas salas de aula durante um mês. A visita foi programada como encerramento da atividade.
Segundo a diretora do Casef, Cíntia Pontes, o principal objetivo da visita é despertar o sentimento de altruísmo nos adolescentes. “Infelizmente, a sociedade está massificada com a falta de emoção. Acreditamos que trabalhos assim fazem parte do processo socio-educativo, pois desperta nos adolescentes a empatia pelo outro. É uma tentativa de tocar os meninos, mudar essa característica de eles só olharem para si, algo particular da adolescência”, explica.
Ainda de acordo com diretora, os socioeducandos foram marcados com a indiferença e a frieza de uma criação geralmente pouco afetuosa. “Aconteceu uma coisa interessante antes de a gente vir para o Lar Vicentino. Eu abracei um dos meninos e disse que era aquilo que precisávamos levar para lá: o nosso abraço. Ele me olhou assustado e disse ‘dona Cíntia, assim a senhora me faz chorar’. Ou seja, eles não estão acostumados com o contato físico. Na maioria das vezes, foram tratados com indiferença e frieza”, relata.
Para muitos dos socioeducandos, conhecer o Lar Vicentino foi a primeira experiência mais próxima com a pessoa idosa. Na ocasião, os meninos presentearam os idosos com origamis, arte de fazer objetos com papéis dobrados. Os produtos foram confeccionados pelos adolescentes dos Centros Socioducativos Aquiry, Santa Juliana e entregues pelos jovens do Casef. Em uma das embalagens havia o seguinte recado: “É apenas um presente de papel e se eu tivesse mais alguma coisa daria, mas é de coração”.
A atual diretora do Lar Vicentino, Gislene Chalub, nutre um sentimento de amor pelos moradores do local. Conhece a história e o humor de cada um. Segundo ela, as visitas são alimento para a alma deles. “A maioria dos idosos são aqueles que não podem caminhar ou sair da casa. Então, ficam muito satisfeitos em ter o contato com pessoas de fora, que trazem novas histórias. As pessoas devem valorizar mais o idoso, que já contribuiu tanto para o nosso Estado”, recomenda.
Um abrigo com toque de casa
Fundado em 1° de abril de 1953, o Lar Vicentino iniciou os trabalhos abrigando moradores de rua. Atualmente, recebe apenas pessoas com mais de 60 anos de idade. Hoje, o local atende 63 idosos e conta com 16 funcionários.
Alguns dos moradores estão lá por conta própria, outros não tiveram outra opção, ao serem esquecidos pela família. Os que podem contribuem financeiramente, com o dinheiro da aposentadoria, para permanecer na casa.
Para o aposentado Filomeno Andrade, 87, morar no local é uma diversão. Ele declara que é bem acolhido e que não há lugar melhor no mundo para viver nas condições em que está: “A diretora é como uma mãe pra gente”, afirma.
Além de apoio de alguns órgãos e de voluntários, o Lar funciona com as doações das pessoas.
O amor não tem idade – Atanagildo Brito, 85, não lembra como chegou ao Acre. Com poucas memórias sobre o passado, o homem deu entrada no Pronto-Socorro de Rio Branco e a única coisa que sabia era pedir para ser levado ao Lar Vicentino. Com o pedido atendido, ele conheceu no local uma pessoa a quem chama de “o último cartucho encontrado”.
É Marina Pereira, de 65 anos, que apresenta um comportamento reservado. Não fala com ninguém, exceto com Atanagildo. Essa atitude e parceria fez surgir um romance entre eles. Para onde um vai, o outro está “na cola”, de mãos dadas. “Pedi a mão dela em casamento para a diretora do Lar”, conta.
Nova amizade – Outro idoso do Lar Vicentino é o aposentado Luiz Pinto, que aos 92 anos de idade, é muito lúcido. Ao receber a visita dos socioeducandos não demorou a fazer amizades. Aproveitou seu dom de contar piadas para chamar a atenção dos meninos.
Luiz veio do Ceará para o Acre há 70 anos, para cortar seringa, e por aqui ficou. Cheio de histórias, gaba-se da habilidade de ler a Bíblia e ser comunicativo. Com esse comportamento, despertou no socioeducando Marcelo (nome fictício), 17, a vontade de retornar para vê-lo. “Pensei em vir outras vezes e quem sabe ser voluntário. Quero manter o contato, pois ele é muito engraçado”, promete o jovem. (Texto: Brenna Amâncio-Agência Acre/ Foto: Diego Gurgel- Secom)