A estrutura do Centro Socioeducativo Santa Juliana, em Rio Branco, é uma das mais antigas do estado. O local é indesejado pela maioria dos adolescentes em conflito com a lei. As instalações totalmente hostis são como verdadeiras prisões de sonhos. Em dias quentes, estudar nesse ambiente fica praticamente impossível.
Para amenizar este problema, o governo do Estado, por meio do Instituto Socioeducativo (ISE), fechou parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e com a Federação das Indústrias do Estado do Acre (Fieac). Dessa forma, garantiu-se a disponibilidade de salas adequadas para o ensino dos adolescentes internados com autorização judicial para saídas externas.
Além dos socioeducandos, também foram beneficiados com os novos cursos de Frentista e Auxiliar Administrativo, cada um com 160 horas/aula, os familiares dos adolescentes. Com isso, o ISE espera contribuir no resgate dos vínculos perdidos e oportunizar a capacitação profissional como um meio de mudar de vida.
Ao todo, 90 alunos, entre jovens em conflito com a lei, parentes e alguns membros da comunidade, lotam três turmas, duas de Frentista e uma de Auxiliar Administrativo, em salas climatizadas e equipadas no Senac e no Palácio do Comércio.
De acordo com o coordenador da Divisão de Educação e Ações Sociopedagógicas (Deasp) do ISE, Sebastião Ferreira, a equipe técnica da unidade realizou o trabalho de reunir filhos e família como parte de um trabalho psicossocial.
Além disso, uma turma de escolarização exclusiva para os socioeducandos utiliza do espaço cedido pelo Senac, que fica ao lado da unidade Santa Juliana, informou o coordenador.
Para o presidente do ISE, Henrique Corinto, a ação de retirar 47 jovens internados para dar melhores condições de ensino é uma aposta alta. “A ressocialização é acreditar e investir na capacidade humana. E ainda existe o fato de que essa ação ajudará a reduzir o índice de reincidência”, garante.
Segundo o professor do curso de Frentista, Noé Brito, trabalhar em espaços completos contribui no resultado final do conhecimento adquirido pelos alunos. “Aqui eles aprendem a encarar os conflitos que irão enfrentar. Estamos falando sobre ética, relações humanas, dentre outros desafios rotineiros dos postos de combustíveis. Portanto, lecionar isso e contar com essa estrutura, sem dúvida, é novidade para a maioria dos alunos”, afirma.
Luciano Braga, 21, é um dos beneficiados da comunidade. Sem família, o rapaz conta que saiu de casa aos cinco anos, pois era agredido com frequência pela mãe alcoólatra. Passou parte da infância e adolescência em abrigos. Inclusive, fugiu de um deles, o que resultou em uma internação nas medidas socioeducativas.
Quando foi acolhido pela ONG cristã Jovens Com Uma Missão (Jocum), ele começou a buscar empregos, porém nunca obteve sucesso, por não ser capacitado. Ao conhecer a história de Luciano, uma equipe do ISE estudou a possibilidade de lhe conceder a vaga no curso. “Abracei a oportunidade. Acredito que agora ficará mais fácil ser empregado”, planeja.
O socioeducando Grabriel (nome fictício) completou 18 anos na unidade. Segundo ele, os dias passam lentamente para quem está internado em um Centro. Coisa básica como jogar bola a qualquer momento com os amigos e ir ao cinema fazem muita falta a ele. “É por isso que estou amando a chance de estudar aqui fora. Esse já é o meu terceiro curso desde que estou na unidade e as minhas chances de logo conseguir um trabalho só aumentam”, comemora.