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Segredos da linguagem no mundo do trabalho

Como estudiosa da linguagem cedo percebi que ela move a vida, sob os mais variados aspectos. No campo do trabalho, a expressividade marca o êxito comunicativo entre a pessoa que fala e aquela que escuta. Entre a pessoa que manda e a outra que obedece. A depender da linguagem utilizada, uma ou outra ficará contente, triste, decepcionada, irritada, otimista, feliz. Assim, em qualquer organização, o relacionamento humano e o tratamento entre as pessoas devem ser igualitários. Não é porque um pertence ao setor com pessoas mais qualificadas que vai poder desprezar as pessoas da limpeza, manutenção etc. O ser humano merece respeito, sempre, independente do cargo ou função que ocupe. O trabalho dignifica a criatura humana.

Retomando o valor da linguagem, diz-se que se ela [linguagem] é importante nas relações de trabalho, deve ser à base do sucesso ou insucesso na vida. Assim sendo, é fundamental às pessoas seguirem alguns preceitos, no intuito de melhor adequação ao meio, ao outro, ao rendimento, ao êxito no trabalho e na vida. Isso porque tanto o trabalho quanto a vida devem ser conduzidos com ética, respeito, dignidade. A pessoa humana dignifica o trabalho. Através dele, cada um pode crescer. Pelo trabalho domina-se e transforma-se a natureza para que possa contribuir para a felicidade de todos, construindo a sociedade, a convivência, a solidariedade. A história torna-se obra de mulheres e homens.

No importante campo do trabalho as palavras e as atitudes exercem um poder decisivo  na vida. Podem ajudar  a construir  uma imagem positiva ou negativa. Podem construir sonhos ou desmoronar desejos. Tudo aquilo que o ser humano produz se deve aos estímulos recebidos entre uns e outros, por meio da linguagem. Há ambientes extremamente estimuladores, com uma linguagem positiva. Também há aqueles pesados, fechados, por força que linguagem que ali reina.

Dia desses, numa viagem, observei encontro entre pessoal de recursos humanos, onde a comunicação interpessoal e a linguagem foi o lema principal. A partir dali brotou o germe para este artigo. Mas ele foi ficando no esquecimento, até que, recentemente, aconteceu fato inusitado. Deparei-me com alguém que carrega o “dom da verdade, das certezas, da sabedoria, da autoridade, da vaidade, arrogância”. Enfim, transporta o conhecimento do mundo e, assim sendo, deseja moldar as pessoas, segundo sua vontade. Foi um momento triste. Uma desolação, imensa pobreza humana. Daí, nasceu este artigo. O objetivo é que ele sirva para todos nós, ensejando um convívio mais harmônico, respeitoso, digno, com o uso de boa linguagem. Usar “bom dia”, “por favor”, “obrigada”, “com licença”, “isso é ótimo”, opera milagres! Então, que essas dicas façam algum efeito sobre a vida e o trabalho de muita gente, em especial daquelas que julgam “carregar” os problemas do mundo. Que a linguagem seja mediadora das relações humanas, para haver paz, amor e mais respeito entre as pessoas.

Considerando o valor do assunto, diz-se haver no mundo do trabalho três componentes essenciais: pessoas, realidade e linguagem. Pessoas são diferentes umas das outras e enxergam um mesmo fato de forma única.  Há casos em que a atitude pessoal facilita  a convivência e em  outras ocasiões  torna a interação um encargo nada agradável. E é com essa realidade que as pessoas precisam aprender a conviver, respeitando as diferenças e conhecendo os próprios limites.

Existe, hoje, no mundo do trabalho, uma crença que necessita ser repensada: as pessoas devem ser tratadas da mesma forma. A realidade de cada um é interpretada segundo sua experiência de vida. Daí decorre à necessidade de cada ser humano desenvolver,  sempre mais, a habilidade  comunicativa. Os cuidados com a linguagem, o estilo e o momento de executá-la, de uma ou outra forma, são imprescindíveis. Eis, alguns atos lingüísticos importantes: a) as afirmações – descrevem um fenômeno com neutralidade, sem juízo de valor. É a forma mais imparcial  no processo de comunicação e a que menos afeta emocionalmente as pessoas; b) as declarações – definem a realidade. Declarações feitas por pessoas que não detém o poder formal, tornam-se inválidas. Faz parte do papel do declarante  assumir  a responsabilidade pelo que declarou e suportar  conseqüências das mudanças nas regras do jogo; c) os julgamentos – incluem opiniões pessoais influenciadas por valores e crenças. Além das conversas informais, os juízos  se estendem no ambiente de trabalho, entrelaçando-se nos outros tipos de linguagem. Sorrateiramente, como quem não quer nada, o juízo de valor vai influenciando o comportamento das pessoas, nem sempre de forma positiva; d) as solicitações e ofertas – são  usadas quando se pretende gerar compromissos na equipe; e) as promessas – configuram o futuro. A cada solicitação segue-se uma oferta,  atrelada a resultados negociados.

Feitas essas considerações, é importante para quem manda saber aquilo que pretende de seus colaboradores. Se a pessoa deseja obter adesão às suas ideias e projetos, então deve usar a linguagem de solicitação, evitando  qualquer crítica ou referência a fracassos do passado.  Apontar êxitos, indicar pontos fortes, desafiar para a ação, negociar metas, definir formas de acompanhamento de resultados e  qualificar o potencial das pessoas, são atitudes que agirão como fonte de estímulo. Se o objetivo do processo comunicativo é declarar mudanças, deve-se usar a linguagem de solicitação e ofertas, para que as mudanças sejam compreendidas e aceitas. E para que a pessoa consiga, de fato, o sucesso, a linguagem afirmativa é a preferida. Por ser neutra,  auxilia  todas as outras formas de linguagem. Assim, o desafio maior é utilizar palavras construtivas e imparciais, eliminando os juízos de valor. É preciso compreender, finalmente, que as palavras, no universo do trabalho, podem mudar, completamente, a realidade e transformar pessoas improdutivas em trabalhadores de grande potencial.

DICAS DE GRAMÁTICA

A PÉ, DE PÉ, EM PÉ, como usar essas formas?
* Estar a pé = estar sem carro, “desmotorizado”. Ir (vir, viajar etc.) a pé = deslocar-se sem qualquer tipo de veículo.
* Estar / ficar de pé = continuar firme, subsistir, resistir, manter-se.
* Estar em pé = estar ereto sobre seus próprios pés, sem ser sentado ou deitado. Nesta acepção, também se diz de pé: Permaneci de pé / em pé a missa toda.

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundador da Academia dos Poetas Acreano; Pesquisadora Sênior da CAPES.


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