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Futuro das florestas no Acre: gargalos e oportunidades

“Para pensar no futuro, precisamos observar a floresta,” disse a Dra. Liana O. Anderson, Post-doc do Environmental ChangeInstitute da Universidade de Oxford (Inglaterra) e Pesquisadora Visitante do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) numa palestra promovida pelo Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MECO) da Universidade Federal do Acre.  A Dra Anderson é especialista brasileira em sensoriamento remoto aplicado as ciências ambientais.A mesma ofereceu uma palestra na tarde de 11 de outubro de 2013 para cerca de 40 estudantes, professores e profissionaisda área ambiental. Ela explicou as observações do clima, floresta e os principais fatores de impactos que estão comprometendo a saúde das florestas. Além disto, apontou alternativas para melhorar a compreensão do papel dessas florestas no atual cenário de mudanças do clima.

Anderson levou os participantes a refletirem sobre as secas severas ocorridas nos anos de 2005 e 2010, quando o Acre foi um dos estados da Amazônia brasileira mais afetado. Ela mostrou que os 70 milhões de hectares de floresta (Amazônia ocidental), incluindo o Estado do Acre, experimentou um forte déficit hídrico (2005), e apesar do aumento das chuvas nos anos seguintes, a floresta apresentou baixa recuperação da seca passada.

Em 2009, uma rede de colaboração internacional, a Rede Amazônica de Inventários Florestais na Amazônia (RAINFOR) que investiga a dinâmica da floresta Amazônica, publicou um estudo do efeito da seca de 2005 na prestigiosa revista Science, mostrando que a floresta Amazônica é sensível à seca, passando de um reservatório para uma fonte de emissão de carbono. Outros estudos, a partir, de dados de satélites, mostraram que durante a seca de 2005 houve um aumento na ocorrência de incêndios. Além destes impactos sobre as florestas, as populações humanas e a biodiversidade na Amazônia também sofreram consequências negativas. Durante junho a dezembro de 2005 o serviço de saúde do Estado do Acre apresentou um aumento nos registros de doenças respiratórias e transmitidas pela água.

Como direcionamentos, a Dra Anderson apresentou algumas possibilidades para melhorar o entendimento do funcionamento dessas florestas na região. Dentre eles, os principais foram (a) iniciativas de pesquisas integradas, direcionadas as regiões onde falta conhecimento científico que apoie decisões sociais; (b) planejamento espacial do uso da terra [mapeamento de florestas secundárias, bordas e fragmentos florestais e das áreas de manejo]; (c) o monitoramento do clima local e regio-nal; (d) controle e monitoramento de desmatamento, incêndios florestais, mapeamento de cicatrizes de fogo e quantificação de áreas queimadas.

Embora, os resultados oriundos das ações existentes tenham contribuído significativamente, como por exemplo, os da RAINFOR, ainda sabe-se pouco sobre a recuperação das florestas amazônicas, especialmenteas acreanas, bem como sobre os serviços ambientais que elas fornecem e a biodiversidade que elas detém. Porém, vale ressaltar, algumas iniciativas das Pós-graduações da UFAC, em especial, do MECO, cujas iniciativas abrangem perspectivas integradas, visando tapar estes “buracos de dados” no Estado.

Ao final da palestra, na sessão de perguntas e discussões, a Dra Liana Anderson foi questionada sobre o “Futuro da Floresta Amazônica” no atual cenário de mudança climática onde a mesma com base em registros de dados observados, sugeriu que uma seca prolongada como a de 2005 e 2010, poderia ocorrer nos próximos anos.  Uma pergunta não feita na palestra, mas serve para reflexão: Estamos preparados para eventos extremos como a seca severa de 2005 no futuro próximo?

Entre 7 a 11 de outubro Dra. Liana Oighenstein Anderson esteve em Rio Branco ministrando a segunda etapa do curso “Conceitos Básicos e Aplicações de Sensoriamento Remoto em Ecologia”, realizado no âmbito do Programa de Cooperação Acadêmica (PROCAD) entre o INPE e MECO, para estudantes do Mestrado e para técnicos da Unidade Central de Geoprocessamento UCGEO-FUNTAC.

* Gisele F. Simioni e Wendeson Castro, Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais da Universidade Federal do Acre;
Irving Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).
A opinião expressa é dos autores e não das instituições. Uma cópia com referências está disponível para os interessados.

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