“A diversidade humana é a riqueza de qualquer coisa.” A frase foi dita por José Carlos Meirelles, que chegou ao Acre em 1976, com a missão de atuar em benefício da população indígena, por meio da Funai, período em que muitos, incluindo autoridades, tentavam desqualificar a causa, ao afirmarem que “estavam pintando cearense de urucum”, já que não havia mais índios na região. Mas é claro que a história era outra bem diferente.
Após se instalar, a Funai realizou a identificação desses povos e, ainda, o processo de legitimação de terra. “Um dos mais rápidos do país, feito em cerca de 30 anos”, recorda Meirelles. Foi o início de uma mudança de mentalidade em relação aos indígenas, que se fortaleceu na década seguinte, com o Movimento dos Povos da Floresta.
O indigenista comenta que, somente em 1999, quando Jorge Viana se elegeu governador, com o apoio da FPA, é que os direitos dos indígenas foram incluídos e, de fato, reconhecidos pelo Estado como parte da nossa história e cultura. Assim, iniciou-se a prática do conceito de Florestania, que trouxe um sentimento de pertencimento e orgulho ao olhar do acreano para sua identidade amazônica.
Em 2003 ocorre a grande mudança, quando implantada a Secretaria Especial dos Povos Indígenas (Sepi), que hoje ocupa hierarquia de assessoria. Um momento histórico para o Brasil. A medida dizia respeito ao compromisso que Jorge Viana assumiu com lideranças indígenas. Na prática, a secretaria deveria intermediar, coordenar e executar as políticas públicas do Estado dentro das áreas de residência dos índios. “O governo da floresta agora é, também, o governo do povo da floresta”, afirmou Jorge Viana, durante a cerimônia de posse do secretário da Sepi, Francisco da Silva Pinhatã, pertencente à etnia ashaninka.
“Não existe nenhuma política pública perfeita, que não precise de ajustes. Mas acho que quando existe conversa, antes de bater no cacho de cabas com a vara, a gente vai primeiro debater. Atualmente, os índios têm acesso a investimentos e são contemplados com execução de projetos, coisa que antes era impensável, como ocorre em RO e RR, que são casos bem próximos e que não evoluíram. Abriu-se um canal de diálogo com as comunidades indígenas do Acre. E esse canal permanece aberto”, afirma Meirelles. (André Gonzaga / Agência Acre)