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Escola vence desafios com apoio do IDM

Alunos do Pronatec em atividades Foto Alexandre Bandeira IDMDesde 2012, o Instituto Dom Moacyr (IDM) oferece cursos no âmbito do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Muitas escolas onde o IDM oferta cursos estão localizadas na zona rural, em localidades de difícil acesso. É o caso da Escola Cumaru, que está dentro da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no Seringal Macapá, em Rio Branco.

A Cumaru trabalha com turmas nos turnos matutino e vespertino. Com 30 alunos de 1° ao 5º ano matriculados de forma multisseriada, e com 21 alunos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), ofertando pelo IDM cursos profissionalizantes, como o de Agricultor Florestal, que ocorre por meio do programa Formação para o Mundo do Trabalho (FMT).

O curso de Agricultor Florestal é pré-requisito para os alunos concluírem o ensino fundamental pelo EJA. Ele desenvolve conhecimentos sobre agricultura orgânica, plantio, colheita, adubação orgânica e práticas de subsistência, com ações que visam à sustentabilidade.

Na Escola Cumaru havia alunos que repetiam há cinco anos a 4ª série, por não ter séries seguintes. Com a chegada da EJA, aumentou a quantidade de alunos nas séries posteriores e diminuiu a desistência, havendo maior interesse pelos estudos.

Horta cultivada por alunos eleva qualidade da merenda
 – Na escola, já havia uma pequena horta e, com a inserção do curso de Agricultor Florestal, a horta foi ampliada e diversificada, começando a produzir, sem agrotóxicos, legumes e verduras, com maior intensidade, sendo utilizados para o consumo interno, no cardápio das crianças que antes era formado basicamente por enlatados.

A horticultura está incentivando a comunidade a plantar para complementar a alimentação familiar. A produção qualificada que agrega valor já começou a mudar os hábitos da comunidade, possibilitando a produção de berinjela, couve, alface, tomate, repolho e cebola, entre outros.

Para chegar à escola, há alunos que caminham quatro horas pelo varadouro (trilha na mata). Ela é localizada às margens do Igarapé “Vai se Ver”. No período das chuvas, os caminhos de acesso ficam alagados, tornando os estudos inviá-veis, paralisando as aulas. Antes de ser construída a escola, o local era utilizado para a extração da borracha.

Pela jornada longa para se chegar até à escola, não é possível oferecer apenas lanche para os alunos, mas um almoço reforçado, com feijão, farofa de jabá, carne de caça, peixe, arroz, verduras e legumes.

Ensinamentos escolares mudam hábitos da comunidade – Maria Antônia Oliveira de Araújo é aluna da Cumaru, tem 18 anos, mora no Seringal Macapá, Ramal Cachoeira, Colocação Boa Vista. Segundo Antônia, “o curso está me ensinando a trabalhar melhor, acordo às quatro horas da manhã e cuido do roçado. Antes, para fazer o plantio, a gente fazia queimada e a caça estava diminuindo. Com o curso, a gente não utiliza mais a queimada e com a horta veio a mudança na nossa alimentação”.

Mateus Ripardo da Costa, aluno do ensino fundamental, 17 anos, cursista de Formação para o Mundo do Trabalho, disse que pretende ajudar as outras famílias da localidade. “O curso é uma novidade para a gente, uma boa oportunidade. Fiz uma hortinha em minha casa, hoje o nosso meio de sobrevivência é a caça e a pesca, vendemos também farinha, arroz e feijão. Pretendo um dia cursar a universidade”.

Investindo em infraestrutura – O recurso de comunicação utilizado no local é o rádio. Por meio da Rádio Difusora Acreana, os moradores recebem mensagens. Na localidade, a energia é produzida por meio de geradores a diesel. O governo está realizando a abertura de estrada por meio do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura (Deracre), para que se efetive a instalação de energia elétrica pelo programa Luz para Todos.

Francisco Barbosa Leite, pedagogo e teólogo, administra a instituiçãoe dá aulas para todas as séries, inclusive para os alunos do curso de FMT. Atua também como Agente Comunitário de Saúde, dá suporte de medicamentos básicos a mais de 250 pessoas. A escola é muito bem cuidada, é limpa, é até encerada, os alunos ajudam a cuidar e Francisco mora nela.

Os saberes tradicionais que os alunos já possuem são reforçados pelos conhecimentos adquiridos pelo curso, produzir sem degradar a floresta, diversificar a produção, influenciar as comunidades a mudar os modos de produção, levar um novo conhecimento.

Levando cidadania aos alunos – Os alunos do EJA não possuíam documentos, como identidade e CPF, para formalizar as matrículas no sistema do MEC/Sistec e participar do Curso de Formação Inicial e Continuada de Agricultor Agroflorestal. Os profissionais da rede IDM acompanharam os alunos para a viabilização da documentação junto á OCA, tornando-os cidadãos de fato e de direito.

Na escola onde funcionam as aulas multisseriadas havia crianças que não estavam registradas, não tinham sequer nomes civis, os pais colocavam um apelido do tipo “Coxinha”, e assim era conhecida a criança. O professor Francisco teve que dar nomes às crianças para fazer o registro na caderneta escolar e começou a chamá-las pelo nome, em consenso com os pais, mas elas não atendiam, pois não estavam acostumadas.

Idealizador da escola pode ser homenageado – Um dos grandes incentivadores do início da escola foi Luiz Magalhães da Costa, o “seu Lula”, que doou a área de terra para a sua construção. O sonho de Lula era que a escola ajudasse a desenvolver a comunidade. Durante cinco anos, ajudou no transporte da merenda e outros utensílios para ser entregue na escola. Luiz faleceu de câncer este ano, aos 77 anos. Diante da contribuição prestada por Lula, uma comissão da Secretaria Estadual de Educação estuda a viabilidade de homenageá-lo colocando o seu nome na escola.

Marco Brandão, diretor-presidente do IDM, esteve com os alunos e o responsável pela escola e afirmou: “A formação que o governo tem levado para as comunidades mais distantes causa impacto na vida das pessoas, muda hábitos de produção, consumo e cultivo, traz melhoria de vida para as famílias das localidades mais distantes do nosso Estado”. (Tamara  Smoly / Foto: Assessoria IDM)


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