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Ano Velho: realidade estúpida e contraditória!

Neste último artigo do ano velho, nada tenho a dizer sobre o que esperar do ano novo. Não tenho vocação para pitonisa ou quiromante. Não acredito em utopias governamentais e, muito menos, em baboseiras e prognósticos de mães-de-santo, do tipo Mãe Diná, sobre a chegada e perspectiva do novo ano. Estou preso aos acontecimentos nefastos do ano velho, agrilhoado como Ostras em rocha. Portanto, não há euforia do réveillon,  que me faça esquecer tão rapidamente as mazelas acontecidas neste ano que ora finda. Fatos ou  estado de coisas, que estão aí permeando a atmosfera terrena.

A realidade estúpida e contraditória que a humanidade experimenta nas últimas décadas, se fez intensa e de maneira mais cruel, neste ano que ora termina. Este ano, de forma aguda, além da situação socioeconômica que caracteriza tão fortemente o nosso século, ficou mais claro para o incauto, as visíveis e gritantes contradições entre nações do mundo terráquio que revelam a sofisticação e os parâ-metros de Primeiro Mundo com seus abundantes recursos e acentuado custo de vida, onde os seus pobres são em pequeno número. Em contraste com outros povos de qualidade de vida própria de países do Terceiro Mundo, que não conseguem esconder os seus pobres, porque são muitos ou quase todos, e a dor e a fome que os impelem para as ruas no desesperado desejo de saciá-la.

Como este artigo não é uma retrospectiva das mazelas humanas do mundo inteiro ponho de lado os conflitos beligerantes, guerras estúpidas acontecidas, principalmente no Oriente Médio, para falar do nosso quintal, o Brasil. Aliás, no passado era quintal do EUA. Agora é nosso. Por aqui,  a maioria da população está entregue a uma vida desregrada de prazeres, optou por viver à beira do abismo das paixões, isto é: catarse, sentimento ou emoção levado a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão. O mais trágico de tudo é que qualquer alma humana que ousar reagir contra essa inclinação perversa do brasileiro, é nomeada, na melhor das hipóteses, como falsa e  moralista. A insensatez é grande, pois não se concebe mais um modo de vida estético equilibrado, vida de prazeres comedidos, que por si só, se contrapõe, não apenas a dor, mas, sobretudo, o tédio.

Queremos viver intensamente as contradições das paixões humanas. Mesmo que ali, bem perto de nós, existam 60 mil famílias desabrigadas. Não menos trágico é  constatar que o homem deixou, em sua maioria, de ser consciente de si e dos outros. Não tem capacidade de reflexão e de reconhecer a existência do próximo como sujeito ético igual a ele. Perdemos a consciência moral, trocamos a verdade pela mentira. Podemos dizer a verdade, contudo preferimos a mentira, é assim aqui, ali ou em qualquer outro lugar nos quadrantes da terra.

No Brasil, banalizamos o trágico: crime de estupro e o assassinato de mulheres indefesas; vulgarizamos e até contamos piadas sobre as improbidades do executivo, do legislativo e do judiciário; aceitamos passivamente a cultura da morte e a cultura da droga e; continuamos sem solução para o problema da gravidez e por extensão do aborto na adolescência, que  não consegue sair do campo das soluções teóricas. Não julgamos mais à luz dos valores e da ética, por exemplo, essa cultura do crime perverso e da violência de uns contra outros. Ao que parece não temos a capacidade de discernir e compreender essa realidade estúpida em que vivemos

Às vezes, como dizia minha falecida mãe, dá vontade de sorrir sarcasticamente, para não chorar, em ver que os crimes cometidos hoje possuem como protagonistas os mesmo bandidos de sempre; alguns deles com mais de 40 passagens pelos presídios. Meliantes contumazes que deveriam continuar presos, mas que estão soltos por ai, infernizando a vida nossa de cada dia, a revelia da própria lei e da justiça. 

As minhas afirmações não são de alguém de alma envenenada, péssima ou frustrada, não! Sou um ser humano realizado naquilo que propus fazer. As minhas afirmações revelam, na sua essência, uma obviedade total; realidade  transparente, aberta, a todas as pessoas, uma vez que os fatos brutais estão bem perto de nós e recrudesceram em longo deste velho ano. Serve como consolo, a falácia do “já foi pior”. Será?

* Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br


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