O garoto Jefferson Raony de Lima Gracini, 16 anos, bem que poderia ser chamado apenas de Raony, por causa do nome que levou do indígena, conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia. O que ambos têm em comum é o potencial para fazer a diferença. O Raony daqui poderá ser o segundo acreano a se consagrar atleta de uma Olimpíada.
O primeiro foi Carlão, capitão da seleção brasileira de vôlei que conquistou o ouro nos Jogos Olímpicos de 1992, em Barcelona.
O evento máximo do esporte mundial está a um passo de se tornar realidade para o estudante do ensino médio do Colégio Barão do Rio Branco, caso ele consiga o apoio necessário para ir à seletiva fechada do Grand Slam, a lista dos sete melhores do Brasil, da qual ele faz parte.
O evento, que acontece nos dias 21 e 22 deste mês, em Betim (MG) servirá para formar a Seleção Brasileira de 2014.
Jefferson Raony vem competindo em nível nacional há dois anos e já acumula vários títulos na curta carreira, apesar das dificuldades de patrocínios, quase nenhum, supridas com sacrifício pelo pai, Claudinei Gracini.
O campeão intercontinental de Taekwondo, 5º lugar no Brasileiro, 4º lugar na Copa do Brasil e 2º lugar no Open Centro-Oeste, não tem patrocínio, nenhum sequer, para participar da tão cobiçada seletiva.
O atleta acreano tenta sensibilizar as autoridades do Estado para o fato de que, em tão pouco tempo o Taekwondo ter evoluído muito mais do que o futebol regional, por exemplo, cujo aporte de recursos, sobretudo da iniciativa pública, pode ter ido de ralo a baixo.
E qual o preço de se ver um acreano brilhar? Cerca de R$ 6,5 mil. O suficiente para que Raony e o seu técnico possa ir, se acomodar num hotel de classe econômica e retornar com medalhas.
“Eu sei que não é pedir muito diante da grandiosidade do espírito esportivo que todos nós temos”, ressalta o técnico do garoto, Francislei Silva, o “Ledinho”, há 13 anos lecionando a arte marcial no pátio de uma escola pública do Bairro Belo Jardim. Ali, ele recruta garotos ociosos, alguns envolvidos no tráfico de drogas, para resgatá-los e fazê-los também campeões.
Acre é celeiro de grandes atletas – Além de Raony, o garoto Elton Dara, 16 anos, treina no Belo Jardim.
Dara é outro exemplo: tricampeão estadual. De 2011 até agora, não perdeu nenhuma disputa na sua categoria: de até 63 quilos – 5 quilos a menos que a de Raony.
Mas o currículo de Elton Dara não para aí: ele foi o 5º colocado na Copa do Brasil do ano passado.
“O problema é que, assim como Raony, toda vez que tenho que viajar para competir, preciso tirar do próprio bolso. Vai chegar uma hora que não terei mais, como nunca tive”, brinca o atleta.
Neste aspecto, diz Jefferson Raony: “Às vezes, o fato de gostar do que se faz nos impulsiona para a conquista por conta própria. Mas imagine você que se tivéssemos o incentivo adequado, como seríamos?”. “Seríamos imbatíveis”, completa ele.
Para o treinador Leidinho, a lógica é simples: “Sem desmerecer ninguém, mas se se gasta muito com times de futebol, que raramente ou quase nunca, fazem nada para alegrar o coração do torcedor acreano no curto prazo. Imagino então que, quem tem potencial para ser campeão olímpico, no curto tempo, merecia uma atenção maior”.
E Raony emenda: “Não é pedir muito. Acho que, se Deus me deu esse talento, o meu objetivo é dar orgulho a minha terra, embora confesse que já fui convidado a representar outro Estado”.
“Mesmo assim, penso que esse é meu lugar. Amo isto (o Acre) e é aqui que vou ficar, seja sonhando com a bem pertinho Olímpiadas ou não”. A sorte foi lançada. Quem puder ajudar esse jovem, o tempo é agora.
(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)