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MERCADO DE AUTOMÓVEIS: Crescimento pode chegar a 1,1% em 2014

O presidente da Fecomercio/AC e do Sindicato dos Revendedores de Automóveis, Leandro Domingos, fez as contas e constatou: houve queda no volume de vendas de automóveis no Acre. Pelos cálculos do empresário, aqui, a redução foi de 2,07% comparada à performance de 2012.

“O mercado de veículos automotores no Brasil desacelerou”, constatou o presidente da Fecomercio/AC. “A queda nas vendas foi de 0,9% para o segmento de automóveis, se comparado ao volume de vendas de 2012. Já se somarmos a este segmento, o de comerciais leves, que inclui as pick-ups médias, a queda foi de 1,6%”.

A realidade dos números contrastou com o otimismo construído pelos empresários do setor ao longo de 2013. Embalados pela redução do IPI, eles acreditavam que poderiam crescer 6% e repetir o bom desempenho registrado em 2012. O ano de 2013 serviu para chacoalhar tanto a indústria quanto comércio de automóveis. Mas, os empresários são insistentes.

“As montadoras não desanimam e sua associação de marcas, a ANFAVEA projeta um crescimento de 1,1% para o ano de 2014, colocando o mercado nos mesmos patamares do ano de 2012, quando as vendas bateram recordes”, adianta Domingos.

O empresário atribuiu a queda nas vendas à restrição de crédito imposta pelas financeiras. “Apenas 23% das propostas de crédito são aprovadas”, pontuou. “A exigência de um grande percentual de entradas nos financiamentos tem afastado os clientes”.

Segmento duas rodas
O setor de duas rodas também desacelerou. No Acre, fechou o ano com queda nas vendas da ordem de 3,6%. No Brasil, a retração é calculada em 1,2% de acordo com a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, a Abraciclo.

A estimativa da associação é que esse ano seja fabricado 1,67 milhão de motocicletas. Em 2012, as fábricas registraram a produção de 1.690.187 unidades. Com um detalhe: a retração maior está no segmento de baixas cilindradas. As motos com alta cilindradas registraram aumento de vendas.

Os empresários e industriá-rios do Brasil no segmento Duas Rodas apostam no evento Copa do Mundo de Futebol para retomar volume de vendas satisfatório. “Nossa perspectiva para 2014 é de estabilidade nos negócios, sem grandes mudanças no cenário em relação a 2013, que prosseguiu com a seletividade de crédito e retração da atividade econômica. A Copa do Mundo estimula o consumo de outros produtos, como televisores, o que exigirá mais empenho e ações para atrair os consumidores de veículos de duas rodas”, disse Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo, em declaração feita no press release da instituição.

O Brasil está hoje com a quinta maior produção anual de motocicletas, mas amarga um cenário de instabilidade em função das restrições ao crédito, amparadas na alta inadimplência entre os clientes.

O ano de 2008 é lembrado com saudade pelo setor, quando houve o maior volume de produção, alcançando 2.140.907 motos produzidas no Brasil. Dessas, 1.879.695 foram comercializadas internamente.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

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Notas Econômicas

Águas de abril
Abril é o mês do aperreio para a atual equipe de governo. Secretarias de Estado que têm projetos estratégicos trabalham em ritmo acelerado. Na Sedens, por exemplo, o Complexo de Piscicultura é a bola da vez.

Inauguração
O governador Tião Viana quer inaugurar o empreendimento antes que a lei eleitoral o impeça. O frigorífico é a unidade mais delicada. Dos três megas de energia que o complexo exige (ao menos no projeto inicial) o frigorífico exige boa medida desse montante.

Mais de cem
Atualmente, mais de cem operários trabalham na execução dos trabalhos no Complexo de Piscicultura. De acordo com Brum, o centro de produção de alevinos já está em operação.

Fica a dica
Sem equilíbrio nas contas públicas, não há calendário eleitoral que se sustente no futuro. Talvez resolva para o outubro próximo. Mas, arrebenta as finanças dos futuros gestores. Este ano de 2014 vai ser basilar na relação entre gastos em investimentos e cuidados com o equilíbrio fiscal.

A primeira vez…
Essa situação merece atenção maior do leitor, uma vez que 2014 vai experimentar algo inédito. É a primeira vez que a Sefaz deve passar esse período sem Mâncio Cordeiro blindando as contas públicas de perto. Por um motivo básico: ele mesmo deve cuidar de sua candidatura à Câmara Federal. E, como já se sabe, campanha é “cangaço” dito de outra forma.

… sempre se desconfia
Nos últimos 16 anos, praticamente, Mâncio Cordeiro só ficou longe da Sefaz durante o período em que presidiu o Banco da Amazônia, no auge da popularidade do amigo e ex-governador Jorge Viana. Cordeiro sempre preservou o equilíbrio nas contas públicas. É um capital que faz diferença em momentos estratégicos.

Carbono
Por falar em equilíbrio… Ah! Carbono salvador! Quem diria que um elemento da antipática tabela periódica fosse algo redentor para as finanças públicas?

Segurança institucional I
O crescimento da cooperativa de crédito Capitalcredi, reinaugurada esta semana, merece uma reflexão à parte. Certamente, o empenho e a seriedade com que os trabalhos são conduzidos pelo grupo respondem, em parte, pelo êxito do empreendimento.

Segurança institucional II
Mas, o fato é que, em qualquer lugar, cooperativas de crédito só têm solidez onde há dois fatores: ambiente econômico do setor privado aquecido (o que definitivamente não é o caso do Acre) e segurança institucional promovida pelo poder público. Este fator é basilar em cenários econômicos como os do Acre.

Capital de giro
Às empresas que já utilizam os serviços, a cooperativa ganha em importância por um fator corretamente destacado pelo governador Tião Viana durante a cerimônia de reinauguração. “A cooperativa ajuda às empresas a solidificar o capital de giro, um dos principais gargalos no setor privado da nossa economia”, avaliou Tião.

Acreanas
“Com a sua ajuda…”
O empresário Ádem Araújo chegava para participar da reinauguração de uma cooperativa de crédito em Rio Branco, com anunciada presença do governador Tião Viana.

Ainda na calçada, veio cumprimentando os amigos de rotina empresarial. Topou com o secretário de Estado de Desenvolvimento, Edvaldo Magalhães. “Meu deputado federal, como vai essa força?”, brincou o empresário. Abraçaram-se.

Rápido, Magalhães não perdeu o latim: sussurrou entredentes e espremendo os olhos. “Com a sua ajuda…”

Ádem sorriu amarelo; fingiu ‘não ter escutado direito’ e entrou no recinto. Quem viu a cena parece ter ouvido o grito do pensamento do empresário: “Sabe nem brincar, o Edvaldo!”.

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Governo garante: reduziu extrema pobreza

Dar sustentabilidade à emancipação apresentada pelos números é o desafio. Um dos gargalos a ser superado é incluir famílias em alguma cadeia de produção. De acor de mil famílias devolveram voluntariamente o cartão do Bolsa-Família por não mais precisarem do benefício. Texto da jornalista Brenna Amâncio mostra como nem as pessoas, como no caso da aposentada Sônia da Silva. Ela não é extremamente pobre, mas fica evidente que a miséria tem muitas caras. A vitória do poder

ITAAN ARRUDA

Os dados mais recentes do Ministério do Desenvolvimento Social foram comemorados discretamente pelo Governo do Acre. Do ponto de vista aritmético, houve redução praticamente a zero no número de famílias miseráveis (extremamente pobres).

Mas, tanto o Governo Federal quanto o Governo do Acre sabem que a extinção de miseráveis ainda não é uma realidade em todo Estado. “Nós conseguimos alcançar o índice de zero, como o Governo Federal também alcançou”, comparou o governador Tião Viana. “Mas, tem a parte residual que não podemos desconsiderar”.

A “parte residual” são famílias ainda miseráveis que o poder público tem que procurar para poder efetivamente extinguir a miséria. É o que os técnicos chamam de “busca ativa”.

“São pessoas que não procuraram os serviços sociais para o acolhimento, para ter a proteção do estado, mas que, pela busca ativa, temos que incluí-las também”, explicou Tião.

Em maio de 2013, a Secretaria de Desenvolvimento Social tinha 113.560 famílias registradas no CadÚnico. Dessas, as que são contempladas pelo Bolsa Família são 94.980 (famílias que têm renda per capita mensal de R$ 140).

Desse total, 69.519 famí-lias estavam abaixo da linha da pobreza em maio do ano passado (famílias com renda per capita mensal de até R$ 70). São cerca de 300 mil pessoas. São quase 40% da população do Acre, estimada pelo IBGE em 776,5 mil habitantes.

“Muita gente fala do aumento da pobreza. No entanto, esse ‘aumento’ está muito mais relacionado ao aperfeiçoamento da busca ativa do que ao aumento da pobreza em si”, explica o técnico do departamento de gestão e informação da Secretaria de Desenvolvimento Social, Ilde de Paula.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Qualidade do Cadastro aumenta eficiência do Bolsa Família
O técnico Ilde de Paula chama atenção para a qualidade do cadastro praticado aqui no Acre. “O cadastro me diz que eu tenho um determinado número de famílias necessitadas e esse número é praticamente o mesmo da folha de pagamento do Bolsa”, detalha De Paula. “Essa aproximação, essa exatidão aumenta a eficácia da aplicação da política pública”.

O cálculo da Seds para provar a diminuição do número de famílias extremamente pobres se baseia na seguinte conta. Em 2004, o Acre tinha 28 famílias beneficiadas pelo Bolsa Família. Em novembro de 2013, já eram 73.896 mil famílias. Dessas 68.501 famílias são extremamente pobres.

Nesse universo matemático, 32.182 famílias deixaram a faixa da extrema pobreza sem necessidade de recebimento do Benefício de Superação da Extrema Pobreza (Brasil Carinhoso). Deixaram a extrema pobreza apenas recebendo o Bolsa Família.

Das 68.501 famílias extremamente pobres já citadas, 36.319 deixaram a extrema pobreza com o recebimento do benefício do Brasil Sem Miséria/Brasil Carinhoso. Resumindo, o programa Brasil Carinhoso elevou a renda per capita a partir de R$ 70,01.

Por isso, a discrição na comemoração oficial. O governo sabe que isso é uma vitória com sabor de fracasso. É como se o Brasil Carinhoso evitasse uma explosão, uma convulsão social.

Desde 2004 até agora o número de famílias emancipadas pelo programa foi de pouco mais de mil. São pessoas que devolveram o cartão do benefício porque, de fato, não precisaram mais dele. Isso resulta em um residual que beira os 0,7% do total de beneficiados. Essas famílias seriam o que o governo gostaria que se multiplicasse.

“Todas as famílias do Bolsa no Acre que são beneficiárias elas não estão mais na linha da extrema pobreza”, contou o técnico Ilde de Paula. “Caiu para zero por cento”. Não são número produzidos pelo Governo do Acre. São dados do Ministério do Desenvolvimento Social.

O governo estadual, no entanto, sabe que os gargalos da estrutura econômica do Acre ainda precisam ser resolvidos.  “O grande desafio é fazer essa emancipação se tornar sustentável”, analisa Ilde de Paula. “Essa é a grande questão: a pobreza não é apenas uma relação com a renda. A renda pode ser causa ou efeito. A pobreza é um conceito multidimensional”.

Para o técnico da Seds, as ações de governo precisam ter eficiência em áreas prioritárias como Educação, Saúde, Segurança, Moradia, geração de emprego, qualificação profissional. “O que acontece de mais imediato em relação a essas famílias? É a questão da qualificação e do emprego. Esse é o desafio, incluir essas famílias em uma cadeia produtiva”, analisou.

Periferia de Rio Branco ainda precisa superar problemas econômicos e sociais

BRENNA AMÂNCIO

Muitos avanços na área do desenvolvimento social já foram alcançados nos últimos anos. Fala-se de novos tempos, de conquista e de vida digna. Mas não sei dizer ao certo se já é hora de comemorar.

Na última terça-feira, a equipe de A GAZETA visitou os bairros Triângulo e Taquari. Para quem está habituado a sempre trilhar os mesmos caminhos (do trabalho para casa) poderia se surpreender com a dura realidade de milhares de acreanos. Visivelmente a ajuda pode ter chegado ali, mas não foi a que eles realmente necessitam.

A nossa equipe se perdeu em um dos bairros. Fomos parar na beira da ponte, em uma barraca de lona. No fogão à lenha improvisado, o prato principal estava sendo cozido: sopa de restos de legumes descartados.

Ao notarem a nossa presença, o grupo formado por seis homens e uma mulher rapidamente escondeu algo, que muito me lembrou aqueles cachimbos usados para fumar crack. Pegamos algumas informações e, percebendo que não éramos bem-vindos ali, deixamos o barraco.

A saga pela parte periférica de Rio Branco continuou. E uma das cenas que muito chama atenção no local é a quantidade de pessoas bêbadas perambulando pelas ruas no meio da tarde de uma terça-feira. Além disso, crianças sujinhas desacompanhadas e adolescentes sempre em bando dão indícios de um futuro incerto, de uma juventude possivelmente perdida.

Nosso destino final era encontrar uma deficiente, que vive confinada na própria casa devido aos limites físicos. A propriedade na qual vive é de difícil acesso. A entrada do beco é quase imperceptível. O caminho é repleto de lama e de madeiras improvisadas, que tornam difícil até o trajeto de uma pessoa com pernas saudáveis.

Ali mora a aposentada Sônia da Silva, 40 anos, atingida pela paralisia infantil desde os 2 anos. A mulher não tem o movimento de parte das pernas. Por isso, para se locomover, precisa se arrastar pelo chão. Sem o apoio da família e com um filho adotivo que cumpre medida socioeducativa, Sônia revela que já ficou sem sair de casa por até 1 ano.

O lugar onde vive é completamente insalubre. O mau cheiro e a falta de higienização na casa atraem ratos, que aparecem com frequência. Na geladeira não havia absolutamente nada. A cama e o sofá desgastado são um dos poucos móveis da casa alugada. Ainda assim, Sônia estampava um sorriso no rosto devido à recente chegada da energia elétrica no local.

A casa, que já é pequena, foi dividida ao meio pelo proprietário e alugada para outra família, o que tornou tudo mais precário. Seu grande apelo é ganhar uma casa.

E assim vive Sônia. Infelizmente, sei que ela não é a única que passa por essa situação. A grande expectativa dela é de receber ajuda e finalmente entrar para as boas estatísticas, deixando de vez as inúmeras dificuldades sociais.

(Fotos: Odair Leal/ A GAZETA)


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