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Internautas se reúnem para realizar o ‘rolezinho’ em shopping de Rio Branco

O ‘rolezinho’, encontro marcado pela internet por jovens, geralmente da periferia, pode acontecer no único shopping de Rio Branco, o Via Verde. Uma comunidade criada no facebook intitulada ‘Pereferia em Movimento – Rolezinho no Via Verde Shopping’ indica o encontro para o dia 26 deste mês, às 19h. Até o momento, cerca de 50 pessoas confirmaram a participação no evento.

Desde dezembro de 2013, os ‘rolezinhos’ estão levando milhares de jovens, a maioria negros e pobres, a shoppings centers. A princípio, eram organizados por cantores de funk em resposta à aprovação pela Câmara Municipal de um projeto de lei que proibia bailes do estilo musical nas ruas da capital paulistana. Depois se espalhou pelas redes sociais criando uma proporção bem maior. Os organizadores alegam que o movimento é uma resposta ao preconceito e a segregação social. Em apoio a eles, dezenas de outros ‘rolezinhos’ foram marcados em shoppings de todo o país para os próximos dias.

Incomodados com a prática, alguns shoppings de São Paulo entraram na Justiça e conseguiram liminares a favor deles. Com base nisso, a polícia reprimiu fortemente as aglomerações, com uso de bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes nas últimas semanas.

Durante encontro com jovens camponeses, em Recife, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse ontem, 16, que a melhor medida a ser tomada no momento é o diálogo e não impedi-los. “Não considero a repressão o melhor caminho, porque tudo o que for feito nessa linha vai ser como colocar gasolina no fogo”, declarou.

O advogado Otávio Forte, presidente do Instituto Goiano de Direito Constitucional e da Comissão de Direito Constitucional e Legislação da Seção de Goiás da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/GO), também se manifesta contrário à proibição do movimento, considerando as garantias constitucionais de ir e vir e livre manifestação.  “Qualquer cidadão pode frequentar lugares públicos ou privados considerados públicos, como os shoppings centers. Para isso, não se pode colocar em risco os direitos fundamentais das outras pessoas, considerando as condições como lotação e segurança”, opina o especialista.

Em seu blog, a professora de antropologia do Desenvolvimento da Universidade de Oxford, Rosana Pinheiro, acredita que ir ao shopping é um ato político e que o movimento revela a segregação de classes brasileiras que ‘grita e sangra’. “Esses jovens estão se apropriando de coisas e espaços que a sociedade lhes nega dia a dia. Quando eu vejo aquele medo das camadas medias, lembro daquelas pessoas que se referiram “aos negões favelados”, observa.

A professora defende que o movimento é uma tentativa da classe pobre em fazer parte da sociedade, que lhes nega espaço. “O meu lado otimista, não nega o que esses jovens nos disseram: do prazer que sentem em se vestir bem e circular pelo shopping para ser visto. Meu lado pessimista tende a concordar com Ferguson de que há menos subversão política e mais um apelo desesperador para pertencer à ordem global. É preciso entender o ‘rolezinho’ dentro de uma perceptiva do Global South de séculos de violência praticada na tentativa de produzir corpos padronizados, desejáveis e disciplinados”.

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