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Caminhoneiros fecham BR-364 e reclamam da falta de estrutura da Suframa no Acre

A BR-364, no trecho do km 124, conhecida como rotatória da corrente, foi interditada na manhã de ontem, 25, por 44 caminhoneiros de vários estados do país. Os trabalhadores protestaram contra a greve da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Com o órgão parado, as mercadorias ficam retidas na entrada de Rio Branco e a descarga dos produtos impossibilitada.

A maioria dos caminhoneiros chegou à capital acreana há oito dias. Sem imaginar que ficariam tanto tempo sem a liberação da Suframa para realizar as entregas dos produtos, eles não trouxeram muito dinheiro.

Os trabalhadores também reclamam da exploração e da forma desumana com a qual estão sendo tratados. Muitos estão pedindo baldes de água nos estabelecimentos próximos do ponto em que estão parados para uso pessoal. A lavagem das roupas e as refeições são feitas na rua. Com o prédio da Suframa fechado, os caminhoneiros não têm banheiro disponível. O posto de combustível mais perto cobra R$ 3,00 para tomar banho, R$ 1,00 para usar o sanitário e R$ 30,00 para estacionar o caminhão ali. Dormir só é possível na cabine do veículo, mas o medo de ser assaltado ou algo pior os domina.

Para a caminhoneira Cleuza Perini, de Santa Catarina, não existe humilhação maior do que esta. “Cheguei aqui no dia 18 de fevereiro e, desde então, tem sido assim. Todas as tardes caminho 2 km até o posto para fazer a higienização. O movimento aqui só não é maior porque muitos ficaram parados antes da balsa. Queremos entregar o material para os clientes, esperar o nível do Rio Madeira baixar um pouco e voltar para casa. Querendo ou não, o chefe cobra da gente todo esse tempo parado aqui. Tenho família me esperando e preciso voltar”, relatou.

Dentre as mercadorias paradas no pátio estão bebidas, materiais eletrônicos, de construção, móveis, frios e congelados. De acordo com o caminhoneiro Romário Selbmann Júnior, de Minas Gerais, os produtos correm o risco de estragar devido a tanto tempo expostos ao tempo. “Se a gente não trouxer as mercadorias, vocês não bebem e nem comem. O calor pode causar a explosão dos refrigerantes retidos, por exemplo. Todos os dias temos que comprar mais comida, mas o dinheiro de boa parte de nós já acabou, porque não pre-víamos isso. Aqui no Acre as condições são muito difíceis para a gente”, reclamou.

O caminhoneiro relata os momentos de terror que passou no momento de realizar a travessia nos trechos em que o Rio Madeira cobriu a rodovia BR-364. “Você não vê a estrada. Não sabe se ela está lá ou não. Ainda assim fizemos todo o sacrifício para trazer a mercadoria até aqui. E quando chegamos passamos por isso”, apontou.

A rotatória ficou fechada por cerca de 40 minutos. Após o protesto, uma comissão de caminhoneiros foi recebida em reunião com órgãos do governo para tentar solucionar a situação.
De acordo com o presidente do sindicado dos servidores da Suframa, Renato Santos, medidas foram tomadas para que o atendimento volte aos poucos. “Entendemos a situação deles. Estive com a procuradoria, com a Polícia Rodo-viária Federal e com articuladores do governo. Já conversei com a presidência em Manaus e eles assinalaram positivamente para o retorno de 30% do efetivo do órgão. Vamos colocar quatro servidores atendendo. Um deles ficará responsável pelos motoristas e os demais na parte burocrática”, prometeu.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Servidores da Suframa confirmam que pode faltar alimentos nos supermercados

BRENNA AMÂNCIO

Os servidores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) no Acre se mantêm em greve iniciada no dia 19 deste mês em todos os estados da Amazônia. No entanto, após reunião convocada pelo Ministério Público Federal envolvendo o gestor da Superintendência, o representante do sindicato dos servidores do órgão e a Polícia Rodoviária Federal, ficou definido que pelos menos 30% do efetivo retornariam às atividades na tarde de ontem, 25. Os grevistas reivindicam reestruturação do quadro de salário e carreiras, além da autonomia administrativa e financeira da Suframa.

De acordo com o presidente do sindicato do órgão, Renato Santos, o Acre corre risco de sofrer com a falta de produtos do ramo alimentício. “Os alimentos estão todos parados antes da alagação, na região de Rondônia. Em Rio Branco, temos poucas mercadorias. Não devido a nossa paralisação, mas por causa da enchente no Rio Madeira. Com certeza vai chegar a faltar alguns alimentos nas prateleiras dos supermercados”, declara.

Os servidores alegam que continuarão em greve até que o Governo Federal se posicione e resolva assinar a medida provisória que garanta a reestruturação. “Nosso prédio não possui banheiro e nem cobertura no pátio. Quando chove, fica inviável irmos lá fora realizar os atendimentos aos caminhoneiros que chegam à Capital. Temos esses recursos para fazer a reestruturação, mas o Governo Federal barra”, afirma Renato.

Ainda de acordo com o sindicalista, esta luta pelos direitos dos servidores da Suframa ocorre desde 2008. “É vergonhoso saber hoje que um auxiliar de serviços gerais, com ensino fundamental e médio, ganha mais do que um dos nossos engenheiros. No último concurso da Suframa, 75% dos engenheiros aprovados desistiram, porque não é atrativo. No ano passado foram mandados mais de 400 terceirizados embora. Não entrou nenhum na vaga deles. Houve uma sobrecarga muito grande de serviços por conta disso. Temos 346 servidores ativos hoje”, aponta.

Renato aponta que no ano passado, dos R$ 512 milhões destinados à Suframa, apenas R$ 100 milhões foram usados na folha de pagamento dos servidores. Portanto, aumentar o efetivo não seria tão inviável financeiramente.

O sindicalista também revela que recebeu ameaças de morte de origem anônima. “Eu solicitei do governo apoio em relação à segurança. Vou cobrar essa atitude também do procurador-geral. A ideia é que fiquem aqui no mínimo dois policiais até esta quarta-feira, que é um dia muito crítico”.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Tião Viana e empresários definem meios para assegurar abastecimento

Com o intuito de viabilizar rotas alternativas de logística para manter o Estado abastecido, tendo em vista que o Rio Madeira segue registrando elevação no nível das águas e, com isso, inundando parte da BR-364 – trecho que interliga Acre e Rondônia -, o governador Tião Viana se reuniu, na tarde desta terça-feira, 25, com empresários do setor de alimentos, distribuidores de combustíveis, gás, hortifrutigranjeiros, medicamentos e bebidas.

A reunião foi realizada no Gabinete Civil e contou com a presença da chefe da Casa Civil, Márcia Regina Pereira, secretário de Fazenda, Mâncio Lima, secretário de Comunicação, Leonildo Rosas, e assessores de governo, Dudé Lima e Lúcio Rosas.

“Decidimos fazer essa reunião depois do encontro do vice-governador, César Messias, com o ministro da Integração [Francisco Teixeira], em Rondônia, onde foi apontado pela Defesa Civil, daquele estado, que a previsão é do Rio Madeira atingir a cota de 19,13 metros. Ocorrendo isso, haverá interdição, por período indeterminado, da BR”, explicou Márcia Regina.

Tião Viana observou que a reunião visa à discussão de alternativas para a garantia de abastecimento da população do Acre e que não há razões, neste momento, para haver pânico, tampouco necessidade de estocagem de produtos ou combustíveis. “Faremos todo o possível para manter nossa população abastecida com alimentos, medicamentos, combustíveis e demais produtos”, assegurou.

Tião Viana frisou que a população não deve aceitar reajustes de preços em produtos porque não houve reajuste no valor do frete dos transportes. “Não justifica um comerciante cobrar R$ 45 por uma saca de cimento. A população não pode aceitar isso”, enfatizou.

O governador assegurou aos empresários que aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) seguirão no auxílio do transporte de cargas de Rondônia ao Acre. “A presidenta Dilma nos deu total apoio e garantiu que o Governo Federal nos ajudará no que for preciso. Hoje mesmo irei solicitar ao comandante Juniti Saito outros três voos para o Acre”, acrescentou. (Secom/ Foto: Cedida)

Prejuízo material na Bolívia já passa dos US$ 50 milhões

ITAAN ARRUDA

Não é só o Brasil que sofre com as cheias do Rio Madeira. Na Bolívia, o Departamento de Beni já registra a morte de 84 mil cabeças de gado e um prejuízo estimado pelo governo em US$ 50 milhões, incluindo no cálculo o impacto nos 39 mil hectares de áreas agrícolas atingidas.

O governo boliviano, agora, intensifica pressão para que o Brasil se explique em relação aos impactos causados pela construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia.

Os rios Beni e Madre de Dios se juntam para formar o Rio Madeira, já em território brasileiro. Há 7 anos, pesquisadores bolivianos e o próprio governo de Evo Morales contestavam autoridades brasileiras, via Itamaraty, e os empresários responsáveis pelos consórcios das hidrelétricas, a respeito dos impactos ambientais dos dois projetos hidrelétricos.

As contestações foram ignoradas ao longo do tempo. A imprensa boliviana informa que o presidente Evo Morales fez contato com o governo brasileiro na terça-feira para tratar do assunto.

“Considera-se a enchente no território boliviano, em consequência dos represamentos que afetam, por um lado, a existência da floresta amazônica da Bacia do Madeira, de alta riqueza em castanha, e, por outro lado, as possibilidades de construção de projetos hidrelétricos para satisfazer as demandas regionais e locais de energia”, relata o jornal La Razón, frisando nota do chanceler boliviano David Choqueruanca.

Beni é conhecido como “o Estado da Pecuária” na Bolívia e abasteceu o Acre e Rondônia até a década de setenta. Hoje, ainda continua importante região boliviana de comércio de gado em algumas áreas do interior de Rondônia.

Senador Jorge Viana acompanha ministro da Integração Nacional em visita a Rondônia

O senador Jorge Viana integrou a comitiva de autoridades federais que, ao lado de representantes do governo de Rondônia e do Acre, foi verificar in loco a situação da cheia do Rio Madeira que deixa centenas de famílias desabrigadas no estado e deixa o Acre parcialmente isolado com a alagação da BR-364. Faziam parte da comitiva o ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, o secretário nacional da Defesa Civil, Adriano Pereira Júnior, o governador de Rondônia, Confúcio Moura, o vice-governador do Acre, César Messias, e representantes da Defesa Civil dos dois estados.

Atualmente, o Rio Madeira, que possui cota de transbordamento de 16,68 metros, registra nível de 18,48 metros. Um metro a mais do que a cheia histórica de 1997. O volume de águas que passa pelo leito também é recorde: 52 mil metros cúbicos por segundo, 12 mil metros cúbicos a mais do que o normal.

Em vários trechos da BR-364 que liga Rondônia ao Acre, a lâmina d’água acima do asfalto chega a 80 centímetros, o que fez a Polícia Rodoviária Federal e o DNIT interditarem a passagem de veículos, autorizando apenas caminhões de grande porte para manter o abastecimento no Acre. Durante a noite, a rodovia fica completamente fechada para tráfego.

“Se o rio seguir subindo, a travessia da balsa no Madeira vai passar a ser um problema. O embarque do lado do Abunã vai ter que mudar de local. Nesse momento temos que estar juntos, Acre e Rondônia, para encontrar a melhor solução, como tem feito o governador Tião Viana”, declarou o senador Jorge Viana.

O ministério da Integração Nacional liberou mais de R$ 564 mil para apoio a Rondônia. “Estamos novamente em reuniões no Estado para prestar apoio estratégico nas operações de resgate de populações isoladas e afetadas. O Governo Federal, por meio de seu Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil, está empenhado e articulado para todo esforço necessário”, disse o ministro da Integração.

O vice-governador do Acre reforçou que todas as medidas estão sendo tomadas para garantir o abastecimento do Acre: “o governador Tião Viana também já fez contato com as autoridades peruanas, por meio da embaixada, para trazer combustível aos acreanos, caso seja necessário. Ou seja, já nos antecipamos no que era possível para evitar mais transtornos. Tudo está sendo feito”, disse César Messias.

Jorge Viana, que nesta semana apresentou requerimento ao Ministro dos Transportes sobre a construção da BR-364, voltou a classificar como não normal a interrupção do acesso e disse que a engenharia será questionada. “Acho que as dúvidas da população precisam de uma resposta oficial, seja agora ou depois da cheia. Não pode restar nenhuma dúvida por conta dos empreendimentos ou do desastre natural que estamos vivendo”, comentou. (Assessoria Parlamentar)

Antonia Sales teme cobraça exorbitante de alimentos por conta da cheia no Madeira

JOSÉ PINHEIRO

A deputada Antonia Sales (PMDB) pediu que o Procon/AC fique alerta quanto ao aumento abusivo, por parte de alguns comerciantes, do preço de alguns produtos da cesta básica. A parlamentar teme que os estoques sejam mantidos. Ela também receia que seja repassada a ideia de que haja desabastecimento no Acre, tendo como justificativa a cheia no Rio Madeira e com isso o fechamento da BR-364.

“Quero dizer que hoje você conta as latinhas nas prateleiras. Alerto aqui para que depois essas mercadorias não sejam guardadas e, com a alta dos produtos básicos, as pessoas não sejam penalizadas. Recomendo que o Procon fique atento”.

Ainda em seu discurso, ela cobrou que os pronunciamentos dos deputados sejam retransmitidos em tempo real. Ela pediu esclarecimentos da Mesa Diretora para o assunto. Segundo a parlamentar, há uma cobrança da sociedade que acompanha as sessões via internet.

A parlamentar também se solidarizou com Rondônia e acrescentou que o momento é de união. Disse, também, que, ao contrário da Capital, em Cruzeiro do Sul o prefeito Vagner Sales (PMDB) tem garantido as pessoas vítimas da alagação abrigo na casa de parentes. Para ela, essa alternativa reduz os impactos que as famílias sofrem com as cheias dos rios na Amazônia. “Lá, o prefeito Vagner Sales dá o dinheiro para que eles se dirijam para as suas famílias. Daquela maneira, o povo se manifestou e aceitou essa ideia”.

O rio que atrai pela beleza da enchente é o mesmo que mata com a força da correnteza

LENILDA CAVALCANTE

A enchente do Rio Acre virou atração turística para os moradores do Estado como também para visitantes durante o período de enchente. Na medição feita às 18 horas de ontem, o nível das águas estava em 14,03m.

O volume de água do rio atrai famílias para o Calçadão da Gameleira e esportistas que possuem equipamentos aquáticos que aproveitam esse período do ano para reunir amigos e familiares em lanchas, Jet Ski e até mesmo os tradicionais barcos ou catraias.

Mas, o rio também atrai jovens, adolescentes que sem qualquer fiscalização dos pais ou responsáveis e até mesmo de autoridades policiais, os jovens arriscam suas vidas saltando das pontes e Passarela dentro do rio movimentado por dezenas de embarcações que também não possuem qualquer fiscalização de órgãos responsáveis pela Marinha no Estado do Acre.

Enquanto alguns atraem a atenção do público pelas manobras radicais realizadas em seus equipamentos caros, outros da mesma forma atraem olhares pelas peripécias de subir nas estruturas das pontes e saltar no rio em meio a forte correnteza e correndo sérios riscos de morte.

Essa movimentação de adrenalina, misturada à imaturidade de alguns e à imprudências de outros se mistura em plena luz do dia no Centro, aos olhos de anônimos longe das autoridades competentes. (Foto: Divulgação)

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