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Somos todos índios brabos

A Gazeta do Acre por A Gazeta do Acre
07/03/2014 - 15:07
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Nós e os outros.   Estamos sempre definindo uma linha que separa alguns que se incluem num grupo e os que estão fora deste grupo.   A linha é mutável e pode variar em minutos quando se refere a um jogo de Fla-Flu, a problemas com parentes, a nível regional (nós acreanos), nacional ou até global (nós seres humanos).  Este artigo apresenta uma reflexão sobre uma experiência que tivemos quando “eles”, um grupo nômade de povo nativo, (índios brabos, nas palavras pejorativas regionais) virou por alguns minutos ‘nós’.  

O mundo, se diz, está ficando cada dia menor, seja pelo aumento da população, seja pela revolução na tecnologia de comunicação (Facebook, por exemplo), ou pelos impactos globais, como a mudança causada pela humanidade na composição da atmosfera. Algumas semanas atrás tivemos a oportunidade de sentir esta aproximação quando encontramos um acampamento de indígenas que vem tentando evitar contato com a sociedade industrial: nossa sociedade. 

Subimos o Rio Acre até a Estação Ecológica  Rio Acre (ESEC), cerca de 70 km da fronteira trinacional de Assis Brasil, Iñapari e Bolpebra, centro da região MAP (Madre de Dios, Acre, Pando).  A razão da viagem foi consertar uma plataforma de coleta de dados (PCD) que mede a altura do Rio Acre e a quantidade de chuva. A PCD envia os dados via satélite até o sitio da Agência Nacional  de Águas , disponível para qualquer pessoa com acesso  à Internet.   Depois da inundação de 2012, as defesas civis da Região MAP ficaram preocupadas em melhorar os alertas antecipados, e a PCD da ESEC é a mais remota da bacia do Rio Acre e chave para alertas na região do Alto Acre. A instalação da PCD foi feita com a colaboração do Exército Brasileiro em março de 2013.  Desta vez o Exército deu apoio para esta viagem para consertar a PCD em colaboração com a Prefeitura de Assis Brasil, ICMBio, Ufac, Sema/AC e CBMAC.  

Soubemos poucos dias antes da viagem que um acampamento de indígenas foi encontrado recém-abandonado, com cerca de trinta cabanas (tapiris) perto da sede da Estação Ecológica. Apesar de toda esta região ser considerada área de deslocamento de indígenas em isolamento, poucos registros da passagem deles foram observados tão perto da sede.  Isso nos faz levantar duas hipóteses iniciais: ou “nós” é que nunca havíamos encontrado seus registros e eles sempre passaram por esta região, ou, alguma coisa os forçou a se deslocarem para uma região que habitualmente não ocupam. No caso da segunda hipótese estar correta, o que estaria motivando-os a isso?

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Na verdade, independente da razão, o fato é que o mundo deste povo está mudando também.   O acampamento deles foi encontrado numa área classificada como concessão madeireira, no lado peruano, e no lado brasileiro, na Estação Ecológica, que teoricamente esteve sempre sem ocupação humana.  

Existe uma proposta de construir do lado peruano uma estrada paralela à fronteira de Iñapari até a cidade de Puerto Esperanza no Rio Purus, a montante de Santa Rosa de Purus. Esta estrada cortaria todo o território deste povo e intensificaria a exploração das florestas, uma combinação que poderia ser fatal para eles. 

Mas durante o nosso trabalho de consertar a PCD, ficamos mais preocupados que este povo poderia sentir-se ameaçado pela nossa presença e nos atacar, criando uma tragédia para todos. Na cabeceira do Rio Acre, chuvas podem fazer o rio subir metros em poucas horas. Por este motivo e para não sermos tomados de surpresa por guerreiros indígenas durante a noite, fizemos uma rotação de pares de sentinelas a cada hora e dez minutos. Tivemos a oportunidade de passar a noite com os companheiros do Exército, vigiando se as canoas estavam flutuando bem, olhando o céu e contemplando estrelas. 

Nestes momentos, refletimos que a algumas dezenas de quilômetros distantes, indivíduos deste povo provavelmente estavam olhando o mesmo céu, as mesmas estrelas e respirando o mesmo ar.  Estávamos juntos, apreciando a Natureza, cada um a sua maneira.  

E o mundo de cada um está mudando. Este povo nômade, aparentemente da etnia Mashco-Piro, não só precisa lidar com mais incursões da sociedade industrial, mas também com mudanças que estão acontecendo com as florestas que lhes dão sustento.  Em relatos de produtores rurais e lideranças indígenas da região MAP, fomos informados que a produtividade da floresta parece estar mudando. Trabalhos científicos indicam que as secas de 2005 e 2010 causaram uma queda na sua produtividade e que as secas provocaram uma mudança na própria copa da floresta. Baseado nestas evidências, é provável que este povo nômade esteja lidando com recursos florestais mais escassos ou pelo menos com a sua disponibilidade alterada.  

Um destes recursos é água.   Estamos no meio de um período chuvoso que já provocou inundações em Rio Branco (sexto ano consecutivo) e em Puerto Maldonado (pior desde 1960), com milhares de pessoas desalojadas.  É um processo natural, porém com contribuições geradas por atividades humanas.  A sociedade industrial está provocando um aumento de gás carbônico: um gás que retém energia termal e que já subiu mais de 25% na sua concentração na atmosfera desde 1950. Este aumento coincide com uma intensificação observada do ciclo hidrológico, com secas mais fortes e mais prolongadas e com chuvas mais intensas. A combinação do aumento populacional no mundo, o aumento do consumo de recursos per capita, a modificação das florestas, dos oceanos e da composição da atmosfera significa que o nosso mundo (neste caso, “nós” da sociedade industrial) está mudando também.  

Na verdade o mundo do povo indígena, cujos vestígios encontramos no Alto Rio Acre, e o mundo da sociedade industrial é o mesmo como vimos no céu noturno do Alto Acre.

A pergunta que Leonardo Boff fez para nós é  “Como vamos cuidar do nosso mundo?”  Será que a resposta inclui espaço para os Mashco-Piro e  para a nossa família? O futuro dos Mashco-Piro pode antecipar o nosso.   Afinal estamos juntos neste planeta, seres humanos cujos futuros estão interligados. Os Mashco-Piro e nós somos o mesmo povo.  

I. Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consorcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre.

Lincoln Schwarzbach, Biólogo, Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), gestor da Estação Ecológica Rio Acre.

James Gomes,  Tenente Coronel,  Corpo de Bombeiros do Acre- Coordenador da Rede Hidrometeorológica do Estado do Acre/Sema.

Aldalúcia F. Carvalho,  Gestora Ambiental do ICMBio, chefe da Estação Ecológica Rio Acre.


A opinião expressa é dos autores e não das instituições. Uma cópia com referências está disponível para os interessados.

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