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O fim do Planeta Terra

O grande drama do homem antigo, medieval, moderno e contemporâneo foi e continua sendo a separação entre ciência e fé. São remotos os tempos da existência humana, em que  se começou a discussão sobre a “possibilidade ou impossibilidade de conciliar razão e fé.” A partir do século I, se estendendo até ao século VII, passando pela Idade Média propriamente dita, onde os primeiros choques do racionalismo e da mística eclodem com Galileu e tem: em Descartes e Pascal; na filosofia do século XVIII; no positivismo e; no cientificismo do século XIX suas principais testemunhas, surgiram várias discrepâncias.

Uma, dentre tantas cizânias, envolvendo ciência e fé, era quanto ao mundo transitório, enquanto ideia de conexão fundamental entre o espaço e o tempo, tendo como base o pressuposto das Sagradas Escrituras de que o Planeta Terra foi criado para ter uma duração limitada. “O mundo passa…” já dizia o Apóstolo João. Mas, afinal, o que sempre se ouvia de todos, em qualquer lugar nos quadrantes da Terra, era a assertiva de que o mundo não passa. Passam os entes!

No entanto, nesta semana, a ciência chegou à conclusão de que o Planeta Terra vai, um dia, acabar. A margem de anos, para que esse fato ocorra, é longa. São séculos à frente da atual geração. Contudo, vai acabar!

Cá entre nós, é notório que os elementos de sustentação do Planeta Terra, só para falar do nosso habitat, estão se exaurindo. A Terra madre está cansada. Há carência d’água. O ar que respiramos é precário, especialmente em épocas de queimadas. Os rios e igarapés que sobreviveram à sanha assassina dos homens estão a fenecer. 

Esse estrago deixa evidente que a causa da extinção do mundo, passa pela relação do homem com o seu habitat, o fato de que desde os primeiros pais humanos temos sido péssimos administradores do lugar, que por desígnio, habitamos. Por conseguinte, há lugares, se tomarmos, por exemplo, a realidade do Haiti e da Etiópia, que são verdadeiros infernos. Tal flagelo que assola o mundo faz com que as profecias de famosos ateístas, do passado e do presente,  caso específico de Voltaire, digam que este mundo presente não é o melhor possível. Em outras palavras, se Voltaire, vivesse nos nossos dias, diria: Mesmo que as estatísticas anunciassem que estamos experimentando um percentual a menos de assassinatos, ou um estupro a menos, bem como a diminuição das guerras e da crueldade do homem,  o mundo ainda não seria o melhor lugar de se viver. Contudo, é uma questão lógica, que o  mundo terráqueo,  até aqui, é o único lugar onde a raça  humana pode sobreviver.

Utopicamente, as nossas esperanças, notadamente dos homens e mulheres de boa vontade, de que o amanhã será melhor se renovam, mas o mundo está, cada dia, mais velho. Essa verdade nos remete e faz com que reflitamos sobre as sábias palavras do Rei Salomão, ponderando teologicamente sobre o intento soberano de Deus, ao concluir que todos os acontecimentos da vida são divinamente ordenados. Isto é, tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Existe tempo para nascer, e tempo de morrer (Eclesiastes). Na pior das hipóteses temos que remeter nosso cogito para afirmativa de Heráclito “O Obscuro” (545-485 a.C) Dizia ele, que tudo se acha em estado de fluxo perpétuo; tudo passa nada permanece; somos e não somos; condição alguma permanece inalterada, Nem mesmo  por um instante; tudo está constantemente deixando de ser o que era e se transformando no que virá a ser. O próprio mundo passa por grandes sussurros, chamados “anos”, durante os quais sucedem muitas coisas: Umas más, outras boas.

O filosofo existencialista Martin Heidegger (1889-1976) dizia que o mundo existe como conjunto de coisas utilizáveis. O sentido das coisas equivale em ser utilizadas pelo o homem. O homem, portanto, não é um expectador ou contemplador do grande teatro do mundo. O homem é um ser-no-mundo, envolvido nele e em suas agruras. Por outro lado, a raça humana compreende uma coisa quando sabe o que fazer dela. O ser humano em sua dimensão de pluralidade é um ser-com-os-outros e para-os-outros, asseverava Heidegger, a isto chamamos de convivência social. Este convívio, desgraçadamente, por causa do “natural” egoísmo do homem, provoca, inevitavelmente, confrontos e disputas, onde o mais forte e o mais esperto se beneficiam, provocando situações injustas.

Sendo assim, fica claro aos olhos de qualquer leigo, um  problema que sobeja a todos os demais. Trata-se  da determinação do lugar  que o homem ocupa na natureza e das suas relações com o universo das coisas; por exemplo: quais são os limites de nosso poder sobre a natureza, pois o que  se vê é o homem usando e abusando do reino natural dos minerais, da flora e da fauna. Exploração predatória que só visam os lucros para se gastar com o desnecessário.

* Francisco Assis dos Santos é pesquisador bibliográfico em humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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