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Palavra é poder

“Faça-se a luz!” E com essas palavras Deus criou o universo. O poder, na gênese do mundo, vinha do verbo. Na Bíblia, e em volumes antigos de retórica, literatura e ciência, os nomes estão cobertos de autoridade. Nos tempos modernos, essa força e magia das palavras ganha nova coloração. Há muitos estudos sobre esse assunto e se sabe que as palavras podem ter um sentido positivo ou negativo. Também há palavras neutras.

Mas, afinal de contas, quem atribui o valor positivo ou negativo às palavras? Elas têm em si esse poder? Isoladamente, as palavras não têm conotação, elas adquirem sentido em seu contexto de uso, ancoradas nos repertórios linguísticos pessoais. Cada palavra representa coisas diferentes para pessoas diferentes. As imagens particulares de mundo dependem, por exemplo, da experiência pessoal, do contexto sociocultural ou da idade: para um ocidental e para um oriental a definição da palavra “amor” ou da palavra “família” pode alcançar significados diversos.

Há algumas correntes da linguística a afirmar que a mente humana só é capaz de conceber aquilo que consegue verbalizar. Ou seja, que a visão de cada um depende em grande parte de seu vocabulário. E talvez seja esse um dos “segredos” para compreender o poder mágico das palavras. Aumentando a lista de expressões, pensamentos e atitudes, o ser humano percebe que há outros caminhos e escolhas possíveis. Quantas coisas não dão certo porque as pessoas pensam nelas com medo? É certo que as palavras têm força, magia e poder. Quando se deseja muito alguma coisa a gente termina por consegui-la. Isso demonstra o poder, a magia e a força das palavras. É bom dizer: “eu consigo, eu quero, eu busco, eu encontro, eu posso”. A partir daí o mundo se torna, sempre, maravilhoso e a vida um encanto. As palavras atuam como um talismã.

A ciência já percebeu, há anos, que o enunciado de sentenças como essa, acima, pode ocasionar mudanças reais no comportamento humano. A formulação das frases tem um poder importante no modo como as pessoas agem. Pesquisas neurológicas mostram que, em certos estados de sugestão, o cérebro assimila palavras e frases como realidade, apontam alguns estudos. As provas são as expressões ditadas em sessões de hipnose e terapia ou as técnicas de mentalização aproveitadas pelos livros de desenvolvimento pessoal.

Enquanto terapeutas e cientistas procuram chegar a um consenso, os livros nas prateleiras dos “mais vendidos” pregam a possibilidade de se enxergar as situações por perspectivas opostas, para que as experiências também sejam ampliadas. E o primeiro passo é colocar isso em frases. “Não seria boa ideia começar a usar em seu proveito as duas palavras mais poderosas, ‘eu sou’? Que tal ‘eu sou a receptora de todas as coisas boas’, ‘Eu sou feliz’?. Mais que unidades mágicas, as palavras são construtoras de realidades. E aí é só acreditar nesse poder. Afinal, há quem diga que “no princípio, era o verbo… e tudo foi feito por ele”.

Mas, afinal, o que são as palavras? Elas são tudo na vida. Sustentam os negócios no mundo. Nas trocas, nas vendas, no diálogo para dentro e para fora. São elas que garantem um lugar no mercado ou fora dele, quando equivocadas. As empresas sobre elas saltitam perigosamente, como em caminho de pedras, em meio a escuma dos inquietos meandros de uma economia. Palavras fazem toda a diferença na vida das pessoas. Toda gente é dirigida por palavras, sejam de pais, filhos, amigos ou inimigos. As palavras atingem a todos, indistintamente. Mesmo no silêncio elas inquietam. Sussurradas pela memória de uma experiência gratificante, são renovadoras. Gritadas pela consciência traída, são devastadoras.

Vêm-se, então, que as palavras têm demasiado poder, pois da mesma forma que dizem coisas, têm o poder de destruir um coração ou uma nação, elas atingem a todos, indistintamente, ricos e pobres, crentes e descrentes.
Dessa forma, as palavras têm tanta força, tanto poder, que quando expressadas fazem efeito na vida, e essa influência poderá ser boa ou ruim, dependendo das ideias que transportam. Sempre foi assim, como diz a Bíblia (João,1:1),”No início era o verbo”. E o verbo ainda hoje cria o universo humano indistintamente.

DICAS DE GRAMÁTICA

FUI EU QUE FIZ, FUI EU QUEM FEZ OU FUI EU QUEM FIZ?
– Quer saber mesmo? Pois todas estão corretas. Vejamos:

Fui eu que fiz – Justificativa – O verbo que tem como sujeito o pronome relativo que concorda em número e pessoa com o antecedente, a palavra que precede esse pronome. Exemplos: “Foi ele que te nomeou”, “Sou eu que vou agora”, “Fomos nós que escrevemos a carta” e “Serão os pais dele que receberão a herança”.

Fui eu quem fez – Justificativa – Se o sujeito é o pronome relativo quem, o verbo, geralmente, permanece na terceira pessoa do singular. Exemplos: “Foi ele quem te nomeou”, “Sou eu quem vai agora”, “Fomos nós quem escreveu a carta” e “Serão os pais delequem receberá a herança”.

Fui eu quem fiz – Justificativa – Se o sujeito é o pronome relativo quem, o verbo pode ser influenciado pelo sujeito da oração anterior, com o qual acaba concordando. Exemplos: “Sou eu quem vou agora”, “Fomos nós quem escrevemos a carta” e “Serão os pais dele quem receberão a herança”.

* Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundador da Academia dos Poetas Acreano; Pesquisadora Sênior da CAPES.

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