A internet é um fenômeno que revoluciona a vida no mundo, transforma hábitos e costumes, todavia é uma indagação: ela aproxima ou afasta as pessoas umas das outras? Como são os lares de hoje e como eles eram no passado, sem a internet? São questões inquietantes que conduzem à reflexão sobre o que é esse veículo fantástico de comunicação, que aproxima pessoas de mundos distantes, também distancia àquelas que vivem tão próximas, por vezes sob o mesmo teto.
Se de um lado há os defensores de que a internet chegou para unir os povos, expor ideias, trocar informações diversas, unir raças, credos e culturas, por outro lado há aqueles que a vêem com outros olhos, alegando que à medida que as pessoas “se conectam” à virtualidade, deixam de existir na realidade. Em verdade, as pessoas, nessa era da globalização levam muito mais horas “plugadas” do que no convívio social propriamente dito. Terminam por se tornarem solitárias, carentes de afeto.
Entende-se que a sociedade na época da globalização ficou mais solitária e egoísta, o trabalho ocupou a mente da maioria das pessoas, fazendo com que não exista tempo para visitas aos parentes e amigos. A internet, suprindo essa falta de tempo, facilitou as coisas por meio de redes sociais, fazendo com que as pessoas se falassem e vissem virtualmente e não precisassem se ver pessoalmente. Os abraços, os afetos, carinhos, passeios se tornam raros, o tempo é só para o trabalho, e quando se tem um tempinho de sobra, as pessoas correm para o computador. Fazendo isso essas pessoas se isolam das outras.
Dessa forma, ao tempo em que “a rede” liga as pessoas dos mais diferentes países, acaba afastando aquelas de países próximos e até do mesmo país, mesma cidade, mesma família, mesma casa. Costuma-se ouvir que as pessoas mais tímidas se soltam mais virtualmente, criam personagens que não expressam suas realidades, inventam nomes, histórias de vida, profissões, coisas que existem num mundo de fantasia. Em face dessa realidade, indaga-se até que ponto isso é bom e saudável?
À medida que os personagens são criados e explorados nas conversas virtuais, aquela pessoa que se entrega a esse personagem, fecha-se cada vez mais para a realidade. Uma coisa pode compensar a outra, mas então onde ficará o seu “eu” verdadeiro? Certamente mais solitário. As relações interpessoais se resumem a textos, ao teclado, a tela à sua frente, e só isso, nada mais. Ao tempo em que se liga ao mundo as pessoas de isolam do mundo. É um paradoxo.
E nesse mar de “virtualidades”, os seres humanos estão debruçados, horas a fio, dormem pouco, outros comem diante da tela, dali não se afastam por infinitas horas. A internet é como um ópio a seduzi-los. São hipnotizados pela “rede” e nela fazem morada, conversam, namoram, trabalham, tudo isso num ambiente de “virtualidade”. Tudo isso é a chamada “moderna tecnologia” que veio para ficar e não deveria ter surgido para “separar” os povos. Essa questão é muito relativa, pois a internet que une pessoas é a mesma que separa, segrega, mascara, esconde.
A geração anterior a internet adora conexões humanas, sentir calor, odor, olhar nos olhos. São conectadas por veias, por onde o sangue passa, fazendo pulsar os corações, os amores, as paixões. Então, em plena era globalizada, a integração social se faz necessária sempre. Fala-se de relação “cara-a-cara”, muito mais humana do que a relação virtual, que é fria, dissimulada e irreal. Não se apregoa o retrocesso da tecnologia, pelo contrário, acredita-se que ela possa algum dia unir os povos, em busca de um mesmo ideal: a paz e a harmonia. Mas a tecnologia deverá ser, apenas, um utensílio para a conquista desse ideal, e não o instrumento principal.
DICAS DE GRAMÁTICA
FAZ DEZ ANOS QUE NÃO O VEJO ou FAZEM DEZ ANOS QUE NÃO O VEJO?
– Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz dez anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.
HOUVERAM MUITOS ACIDENTES ou HOUVE MUITOS ACIDENTES?
– O verbo haver, assim como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais.
EXISTE MUITAS ESPERANÇAS ou EXISTEM MUITAS ESPERANÇAS?
– Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem, normalmente, o plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam ideias.
* Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Professora Visitante Nacional Sênior – Capes.