Fui até Porto Velho de avião para retornar a Rio Branco pela BR-364 alagada e com o tráfego restrito pela enchente do Rio Madeira.
Viajando de carona, conversei com muitos caminhoneiros. Muita emoção, diversos prejuízos e um só consenso: se o governador Tião Viana não faz o que fez, desde fevereiro nenhum caminhão teria passado para o lado de cá.
A travessia, restrita e controlada, só tem sido possível porque o Governo do Acre trabalha dentro do estado de Rondônia para conduzir caminhões nos trechos mais críticos: em Jaci-Paraná, na região de Palmeiral e antes de Mutum Velha, além de manter operante a balsa do Madeira-Abunã.
Na longa fila de espera para embarque na balsa que atalha a rodovia alagada em Jaci-Paraná, alguns caminhoneiros se desesperam e vão na madrugada, antes da Polícia Rodoviária Federal, ou esperam a noite, quando a vigilância relaxa, para arriscar passagem no trecho com águas de mais de metro de altura.
Entrevistei dois ca-minheiros que escaparam da morte certa. Um vítima de infarto, outro de desespero – este forçou desautorizada travessia em Palmeiral, a água selou o escapamento do motor, o dióxido de carbono invadiu a boleia do caminhão e ele apagou envenenado. Os dois foram salvos pelos bombeiros do Acre.
Já na balsa do Madeira-Abunã, outro caminhoneiro me contou ter furado o bloqueio policial em Jaci-Paraná e depois evitado a balsa que leva quatro horas para atalhar o trecho alagado em Palmeiral, onde a lâmina d’água alcança 1,70 metros. Desafiou a alagação com seu caminhão-tanque levando gasolina para Nova Califórnia. Quando falei que a sua coragem podia ter lhe custado o caminhão, senão a própria vida, respondeu serenamente: – Verdade, mas eu precisava!
Impossível relatar nessas poucas linhas tudo que vi e senti nos dois dias de viagem. Comove o sacrifício das equipes do Governo do Acre em terras de Rondônia, enfrentando a maior das enchentes do Rio Madeira para poupar nossa população do desabastecimento total. E é preciso dizer que a determinação do governador Tião Viana faz com que essa calamidade histórica não registre nenhum acidente fatal, nenhuma morte.
Que assim siga, até sossegar o Madeira.
* Gilberto Braga de Mello é jornalista e publicitário.
E-mail: giba@ciaselva.com.br