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Sem dinheiro, caminhoneiros esperam para deixar o Acre há um mês

Sem poder trabalhar há pouco mais de um mês, caminhoneiros sofrem com o fechamento da BR-364, inundada pelo Rio Madeira, em Rondônia. A rodovia federal liga o Acre ao resto do país e sem ela o Estado fica isolado via terrestre. Com o caminhão ilhado em Vista Alegre do Abunã/RO, Claudinei Berazoli deixou seu instrumento de trabalho e pegou uma carona até Rio Branco, Capital do Acre, onde aguarda a liberação da estrada para poder voltar para casa, a esposa e três filhos que deixou em Paranaguá/PR.  ‘Não sei o que vai ser de mim’, diz.

Ele explica que deixou o caminhão lotado de mercadoria estacionado na estrada e foi para a Capital pois não teve outra alternativa. Em Rio Branco ele dorme em caminhões dos colegas que se encontram na mesma situação. “No Abunã, acabou até o dinheiro nos bancos. Está tudo abandonado, não tem ninguém. Aí eu fui obrigado a vir”, comenta o caminhoneiro que já contabiliza os prejuízos da cheia.

“Fazemos pelo menos duas viagens por mês. Faz 36 dias que a gente está parado, e perdemos no mínimo três viagens. Deixei de ganhar perto de R$ 16 mil líquido. Sem contar que estou gastando o que não tenho. Eu pago R$ 5 mil de prestação do caminhão e R$ 2 mil de manutenção. Minhas prestações já venceram. Não tenho de onde tirar mais nem para comer”, lamenta.

Diferente de Claudinei, Rogério Christ não é dono do caminhão com o qual trabalha, mas também está ilhado e sofre com a falta de dinheiro. “O caminhão não é meu, sou empregado. Então não ganho salário fixo, só comissão que chega a R$ 4 mil por mês. Estou há 27 dias parado aqui, o que significa que minhas contas estão todas atrasadas”, afirma.

Caminhão é moradia – Berazoli está instalado no pátio da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) no Acre, na companhia de outros colegas caminhoneiros que vivem o mesmo drama há 28 dias. Sem dinheiro para se manter, ele se vira como pode. “A gente come e dorme conforme dá. Uns têm caixa de alimento no caminhão, eu não. Tenho que comer em restaurante. Mas o dinheiro acabou”, comenta.

Rogério Christ diz que sempre fez do caminhão a sua moradia, mas reclama das condições em que se encontra após tantos dias sem poder voltar para casa. “Esse pátio aqui que a gente está não tem banheiro. Você vai num posto tomar um banho, gasta R$ 3, para fazer ‘as necessidade’, mais R$ 1. Eu durmo no caminhão e faço refeições na caixa de comida”.

Falta de apoio – Para Claudinei, a classe dos caminhoneiros é abandonada e precisa ter seu papel reconhecido e valorizado. “A gente vem para cá para trazer o alimento, o combustível, a roupa, o remédio. Todo o transporte vem em cima de caminhão. Aviões não dão conta de abastecer o suficiente. O que está acontecendo agora é um exemplo da importância que temos e ainda assim não temos apoio de ninguém”, finaliza. (Rayssa Natani, Do G1/AC)

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