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Hipônimo e hiperônimo

A língua é um instrumento fantástico que conduz o leitor a refletir sobre as inúmeras possibilidades significativas das palavras. Uma delas é essa que se aborda hoje: hipônimos e hiperônimos. Haverá, alguém, de perguntar o que é isso?

Na realidade, hipônimo e hiperônimo nada mais são que denominações sofisticadas para gênero e espécie, através dos prefixos Hiper e Hipo, com a ideia de excesso e de escassez.
Falar, contudo, em Hiperônimo e Hipônimo impressiona. Gênero e Espécie não impressionam, mesmo que o nome se preste mais para encobrir a ideia do que para explicitá-la. Como diria Olavo Bilac: “A palavra pesada abafa a ideia leve/Que perfume e clarão refulgia e voava!”

Geir Campos (1986) no seu Dicionário de Termos Poéticos trata do assunto, mesmo porque “hipônimo” e “hiperônimo” nada têm de poético. Servem mais para falar mal e para nomes de doença: “Hiperônimo prostático”, “hipônimo maligno”.

Mattoso Câmara, também, no seu consagrado Dicionário, não silencia sobre os termos.

Zélio dos Santos, no Dicionário de Linguística, remete o “hiperônimo” para o “hipônimo”, no qual passa apenas de raspão: “Palavra cujo sentido está incluído n’outro mais amplo”. Nada além.
Dubois (1989),Dicionário de Linguística, no verbete Hiponímia, trata do “hipônimo” e do “hiperônimo”. Ensina ele que o termo Hiponímia designa uma relação de inclusão, aplicada não à referência, mas ao significado das unidades lexicais em questão. Ele afirma que a Hiponímia está ligada à lógica das classes: assim “cão” mantém com “animal” certa relação de sentido; há inclusão do sentido de “cão” com o sentido de “animal”; diz-se que “cão” é um Hipônimo de “animal”.

Do mesmo modo, “animal” é mais inclusivo do que “cão” no que toca à classe dos referidos (animal aplica-se a gato, coelho, etc.), mas cão é mais inclusivo do que “animal” no que toca aos traços de compreensão. É natural, uma vez que o universal é menos compreensivo do que o particular. É um princípio de lógica: o que se ganha em extensão perde-se em compreensão.

O Hiperônimo é mais extenso do que o Hipônimo. Menos compreensivo, portanto. Dubois fala, também,do Co-Hipônimo. E diz, em francês, consideram-se “oeilet de Nice” – cravo de Nice – e “tulipenoir” como Hipônimos de “oeilet e tulipe”. Da mesma forma, CO-HIPÔNIMOS como “bicyclette”, “moto (cyclette), vélomoteur” (bicicleta com motor), não tiveram arquilexema (genérico superor-denado). Acabou-se por criar “deux-roues” (duas rodas). Segundo entende-se, “duas rodas” passou a ser o Hiperônimo daqueles Co-Hipônimos. Caso contrário, ter-se-ia a orfandade dos Co-Hipônimos. Há muitos outros exemplos que aqui se ilustram alguns:
Nota-se, então, que Hiperônimo é toda palavra que possui sentido amplo, geral. Enquanto hipônimo é justamente o contrário, é a palavra na sua especificidade. Os hiperônimos e hipônimos são importantes no campo semântico, na retomada de elementos em um texto, a fim de evitar repetições desnecessárias e fazê-lo mais belo.

DICAS DE GRAMÁTICA

Temos “stress à brasileira”?
– Sim! Antigamente falava-se em estafa. Hoje temos a palavra inglesa stress que, porém, já está abrasileirada (ou aportuguesada, se preferirem). Quem quiser ficar estressado agora sinta-se à vontade.
É necessário paciência?
– Sim, pois em expressões formadas pelo verbo “ser” + adjetivo (empregado substantivamente), este último não varia, como nos exemplos:
–    É necessário calma;
–    Ginástica é bom para a saúde;
–    É feio falta de respeito;
É proibido cigarros nesta empresa.

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundador da Academia dos Poetas Acreano; Pesquisadora Sênior da CAPES.

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