Há em meio ao povo grande confusão com os termos linguagem, língua e fala. Tomam um pelo outro e, no entanto, não é bem assim sob o ponto de vista técnico ou científico. O termo linguagem deve ser entendido como a faculdade mental que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilita nossos modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os semelhantes. É a capacidade específica à espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos (ou língua).
Para o linguista Saussure, a linguagem é composta de duas partes: a Língua, essencialmente social porque é convencionada por determinada comunidade linguística; e a Fala, que é secundária e individual, ou seja, é veículo de transmissão da Língua, usada pelos falantes através da fonação e da articulação vocal.
A língua é, então, entendida como forma de realização da linguagem; como sistema linguístico necessário ao exercício da linguagem na interlocução ou como instrumento do qual a linguagem se utiliza na comunicação. Apesar de a língua ser um sistema de signos específicos aos membros de uma mesma comunidade (por exemplo: língua portuguesa, língua inglesa), no interior de uma mesma língua são importantes às variações. Dentro de uma mesma língua temos, então, diversas modalidades: língua familiar; língua técnica, língua erudita, língua popular, língua própria a certas classes sociais, a certos subgrupos, em que se enquadram os diferentes tipos de gíria. Entre as variações geográficas temos os dialetos (como as variações específicas das diversas regiões do Brasil: Norte, Sul, Sudeste etc). Alguns linguistas preferem usar o termo dialeto para designar as variantes ou variações, de uma forma geral.
Como se vê, a língua é um sistema de símbolos pelo qual a linguagem se realiza. Mas a linguagem se encontra relacionada a outros sistemas simbólicos (sinais marítimos, Morse) e torna-se, assim, objeto da semiologia ou semiótica, que deve estudar “a vida dos signos no seio da vida social”. Nota-se, portanto, que o termo linguagem tem uma conotação bem mais abrangente do que língua.
A fala, por sua vez, é um fenômeno físico e concreto que pode ser analisado seja diretamente, com ajuda dos órgãos sensoriais, seja graças a métodos e instrumentos análogos aos utilizados pelas ciências físicas. Para os receptores (ouvintes) a fala é, com efeito, um fenômeno fonético; a articulação da voz dá origem a um segmento fonético audível imediatamente a título de pura sensação. Esse fenômeno implica o aparelho fonador e a produção dos sons da fala.
De tudo que se diz fica evidente que o desenvolvimento humano e o avanço das civilizações dependem do progresso alcançado em suas atividades, a descoberta do fogo, a divisão do trabalho, as máquinas, as tecnologias. Mas, acima de tudo, da evolução dos meios de receber comunicação e de se comunicar, de registrar o conhecimento e do desenvolvimento da escrita e fonética. O homem necessita comunicar para progredir, quanto mais avançada for à capacidade de comunicação de um conjunto de indivíduos mais rápida será a sua progressão. E a linguagem é uma ferramenta capaz de traduzir, fotografar o estágio de desenvolvimento da humanidade.
DICAS DE GRAMÁTICA
Senão é o mesmo que se não?
– Nada disso. Em primeiro lugar é interessante saber o que querem dizer e como se usam os termos senão e se não.
SENÃO – Conjunção adversativa e preposição, com o sentido de:
1 – do contrário, caso contrário, de outro modo, de outra forma;
2 – mas, mas sim;
3 – mais do que;
4 – a não ser.
Exemplos:
Um espaço cultural deve estar a serviço da qualidade, senão é desserviço. [do contrário]
É ele quem decide as obras prioritárias, não com bairrismos ou individualismos, senão com o espírito de bom administrador. [mas sim]
Para que Paulo se conformasse com a ruptura, disse que ele não fora senão um zero à esquerda todos aqueles anos. [mais do que]
As drogas não oferecem senão uma tênue e fugaz visão do paraíso. [a não ser, mais do que]
SE NÃO – Aqui são duas palavras distintas: conjunção subordinativa condicional se + o advérbio de negação não. Significa dizer “caso não …”.
Exemplos:
Espero que não me culpes se não der certo.
Preocupa-nos o desempenho da instituição se não for feito o desembolso dos recursos prometidos.
Também se escreve separadamente quando equivalente a quando não:
A história nos ensina que é muito difícil, se não impossível, encontrar um bom político que seja um bom administrador.
Com esta máquina, o Brasil terá condições, se não de disputar, pelo menos de acompanhar o desenvolvimento de um dos setores mais avançados da ciência no mundo.
* Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundador da Academia dos Poetas Acreano; Pesquisadora Sênior da CAPES.