* Ação coordenada entre Governo do Acre e iniciativa privada desenha novo movimento no comércio regional
ITAAN ARRUDA
Na próxima terça-feira, às sete horas da noite, a Acisa promove mais um encontro entre empresários e representantes do governo peruano que tratam da indústria e do comércio. No centro da pauta: tonar perene a relação comercial que teve tratamento de excepcionalidade durante o isolamento.
“Fui informado de que as medidas comerciais entre os governos peruanos e do Acre tinham prazo de cem dias em função do isolamento, mas nós queremos ver o que é possível fazer para que essa relação comercial fique de uma vez por todas”, adiantou o presidente da Associação Comercial do Acre, Jurilande Aragão.
Estão convidados a participar do encontro o representante do Ministério da Indústria e do Comércio do Peru, Victor Hugo, e o novo cônsul do Peru no Acre, Felix Basquez.
Ao mesmo tempo em que os empresários se mobilizam aqui no Acre, o governador do Estado, Tião Viana, realiza em Lima articulações comerciais travestidas de missão diplomática.
Na capital peruana, em uma agenda institucional no Palácio do Governo, Tião Viana foi recebido pelo presidente do Conselho de Ministros, René Cornejo. O governador estava acompanhado do embaixador do Brasil no Peru, Carlos Calfredo Lazary.
Um dos empreendimentos citados no encontro com o presidente dos Conselhos foi o projeto Dom Porquito que pretende conquistar o mercado peruano no comércio de carne de porco.
Outra situação delicada que a diplomacia concretizada por Tião Viana abre caminhos diz respeito ao insumo “farinha de peixe”, necessário para a fabricação de ração no complexo de piscicultura, previsto para ser inaugurado pela presidente Dilma Rousseff agora em maio.
Pelo Acordo de Livre Comércio Peru/China, formalizado ainda durante a gestão do presidente Alan Garcia, a farinha de peixe é um dos principais produtos exportados dos Andes para o Oriente.
Só para se ter uma noção das relações comerciais entre os dois países, as exportações do Peru para a China são calculadas em aproximadamente US$ 2 bilhões. Desse valor, minérios e farinha de peixe são responsáveis por US$ 1,93 bilhão.
Se os chineses estão dispostos a abrir mão de uma parte desse comércio para suprir a demanda do complexo de piscicultura é uma situação que outras missões diplomáticas dirão.
A diplomacia não permite a discussão desses números. Mas, eles estão presentes em cada agenda institucional, em cada aperto de mão. Os gestos políticos, mediados pelo corpo diplomático, vão costurando relações comerciais. Para além dos oficiais “agradecimentos” de praxe, o real motivo da agenda do governador do Acre no Peru é econômico. (Foto: O Alto Acre)
Cornejo: integração pela política
“René Cornejo aceitou o convite do governador Tião Viana, para visitar o Acre tão logo seja possível, e reiterou a importância da aproximação entre empresários acreanos e peruanos, sugerindo que em um próximo evento na fronteira, que reúne chanceleres e ministros, os dois países poderiam promover o encontro entre empresários dos dois países”, destacou a agência oficial de notícias do Governo do Acre.
Episódio mostra necessidade de melhorar relações institucionais
As exceções abertas pelo governo do Peru tinham como foco prioritário combustível, hortifrutigranjeiros e cimento. Como a situação foi nova para governos e empresas de ambos os países, o trânsito de produtos rendeu episódios complicados.
Na aduana em Assis Brasil, funcionários da Receita Federal tentaram trabalhar da forma rotineira, mas foram praticamente impedidos pela ação da Polícia Militar do Acre que estava no local para garantir que o trânsito do combustível chegasse o mais rápido possível em Rio Branco, que passava por desabastecimento do produto.
Discussão teve o tom alterado. Para o Governo do Acre, as articulações junto às embaixadas e às instituições federais em Brasília já seriam suficientes para que a fronteira fosse aberta. Mas, esqueceram de combinar com os funcionários plantonistas.
O episódio soma-se a tantos outros que mostram como a legislação que normatiza o comércio internacional precisa atentar para as particularidades de cada região se quiser dinamizar o fluxo de mercadorias com custo reduzido. (Foto: Secom Acre)
Falta “Cultura exportadora”?
Os encontros bilaterais entre empresários do Peru e do Acre já ocorreram em diversas oportunidades. Do lado de cá da fronteira o que falta às empresas é a “cultura de comercialização com empresas externas”. A expressão “cultura exportadora”, para as empresas acreanas, não cabe pelo simples fato de serem poucas as que têm condições de exportar.
Organização, planejamento, documentação para efetivar o comércio têm custos e muitas empresas não estão preparadas para isso. Mas, foram criadas condições institucionais para as poucas que estão dispostas.
O isolamento imposto pelo Rio Madeira pressionou para que a relação comercial com o Peru se intensificasse. Agora, cabe à inciativa privada do Acre aumente a demanda por produtos peruanos. É esse aumento da demanda que pode sensibilizar o poder público brasileiro a pensar em mudanças na legislação e melhorar a infraestrutura aduaneira na região. Sem ter comércio que justifique, fica difícil investir em modernização da infraestrutura aduaneira na tríplice fronteira.
Para as grandes empresas do Peru, a comercialização com o Acre pode até ser residual (dado o baixo poder de consumo do acreano), mas passa a ser estratégica na medida em que estados brasileiros como Mato Grosso e Rondônia tornem-se potenciais consumidores.
(Foto: Cedida)
***********************************************************************************
Pobreza no Peru caiu 23,9% em 2013, segundo Instituto Nacional de Estatística
* No estudo “Evolução da Pobreza Monetária 2009-2013”, fica demonstrado que 491 mil pessoas saíram da situação de pobreza ano passado no país vizinho. Miséria atinge 4,7% da população. Situação é mais complicada fora da zona urbana
ITAAN ARRUDA*
A pobreza diminuiu no Peru. É o que indica um estudo feito pelo Instituto Nacional de Estatística e Informática (o equivalente ao IBGE no Brasil) e divulgado esta semana. O INEI mostrou que 491 mil pessoas saíram da condição de pobreza no país vizinho. A redução foi de 23,9%. De acordo com o jornal El Comercio, um dos periódicos de maior prestígio no país, a queda foi de 1,9 pontos percentuais comparado a 2012.
“Um dos fatores mais relevantes para a diminuição da pobreza é o incremento do gasto e da inclusão sobretudo da população mais pobre”, diz o instituto. O problema é mais delicado na zona rural, acompanhando tendência do vizinho Brasil.
De acordo com o INEI, a análise por residência mostrou que 16,1% das casas peruanas urbanas eram formadas por famílias pobres. Na zona rural esse número sobe para 48%. A pobreza fora das cidades, no Peru, é três vezes maior.
O quadro dramático já é fruto de uma melhora. Até ano passado, de acordo com o INEI, a pobreza na zona rural era de 53%. Houve redução de cinco pontos percentuais. Na zona urbana a redução foi residual: apenas de meio ponto percentual.
O indicativo, portanto, é de que a redução do número de pobres, em linhas gerais, teve maior impacto no campo do que nas cidades, onde não houve alteração significativa.
A análise do Instituto Nacional de Estatística e Informática mostra que a região das serras (montanhas) é a mais pobre. A taxa chega a 37,4%. Na região de selva amazônica peruana, a pobreza alcança 31,2% das famí-lias e na região costeira (onde há atividade exportadora, comercial e portuária) o número cai para 15,7%.
Houve redução da pobreza extrema (miséria) de 1,3 pontos percentuais. Era 6% da população até ano passado. Agora, esse número caiu para 4,7%, segundo o INEI. O instituto calcula que 375,8 mil pessoas saíram da condição de miséria em que viviam até 2013. “Mas, o problema ainda atinge cerca de 1,4 milhões de pessoas no país”, frise o estudo. (*Com informações dos periódicos peruanos)
*********************************************************************************************
NOTAS ECONÔMICAS
Aos poucos
Aos poucos… mas muito aos poucos mesmo, as coisas tentam voltar à normalidade no comércio de Rio Branco e do Acre. A sensação é de que o isolamento está impregnado. Não sai da gente.
Tendência
Essa sensação é ruim para o comércio. Quando o espírito que paira é de receio e desconfiança, a tendência ao não consumo é grande.
Dia das mães
Nunca um Dia das Mães foi tão importante por aqui. O comércio vai ter que investir todas as fichas em publicidade e cordialidade para tentar mobilizar os poucos consumidores que estão com dinheiro ou crédito disponível a gastar. A tendência é que não se gaste tanto.
Poupar
O Dia das Mães é a segunda data mais importante para o comércio em todo o país. Mas, o segundo domingo de maio pós-enchente devem baixar as expectativas dos empresários por aqui.
Preço
E formou-se a polêmica em torno dos preços dos produtos alimentí-cios! No período pós-vazante do Rio Madeira, a expectativa falsa (não rebatida pelos empresários) era de que os preços voltariam “ao normal”.
Concepção I
Há um problema técnico na concepção popular a respeito da formação de preços. Muita gente tem formatada na cabeça a ideia de que os preços são formados apenas pelo fator “custo”. Sem dúvida, esse é um fator importante. Mas, não é o único.
Concepção II
A relação entre oferta e demanda também pressiona muito os preços. As três pontas do tripé basicamente são essas: custos-oferta-demanda. É a relação entre esses três fatores que formam o preço.
Concepção III
Por esse raciocínio, os preços deveriam ter baixado já que a demanda permaneceu constante e a oferta, em tese, aumentou porque o trânsito na BR-364 foi normalizado na medida do possível.
Clareza
O problema é basicamente de falta de transparência. Muitos empresários e dirigentes classistas ainda têm medo de assumir o lucro como parte integrante do preço. Uma coisa é o erro de declarar a margem de lucro. Outra é trabalhar com a lógica absurda de que o consumidor encara empresas como casas de caridade.
Boicote
O consumidor tem uma ferramenta importante nessa questão: a possibilidade de simplesmente não comprar. Achou o preço caro? Pois bem! Não compre. Procure o produto em outro lugar. Na medida do possível substitua por algo similar enquanto os preços não baixam; busque outra marca; volte às feiras livres.
Esquece
Às vezes, o consumidor esquece o poder e da força que tem. Desde a época do Sr. Oliveira (no Aviário), passando pelo Dois Oceanos e UAI!, o supermercado no Acre se tornou um segmento comercial importante na rotina do rio-branquense. Importante, mas não soberano. Há alternativas. Basta procurar.
Haitianos
Poucas polêmicas tiveram o tratamento tão equivocado quanto essa dos haitianos. Sobretudo agora com o embate entre os asseclas do Governo do Acre e de São Paulo. Com uma ressalva: nesse embate, São Paulo cai em uma armadilha sem perceber.
Cuidado
É preciso tomar cuidado para não se apressar e achar que “virou política, contaminada pelo calendário eleitoral”. Sim, isso é verdade. Mas, não conta tudo. Esse argumento acaba interessando mais ao Governo do Acre.
Outro erro
É preciso lembrar que o Acre fez apenas o que se espera de um membro da federação compromissado com as relações internacio-nais fundamentadas em base humanitária teria que fazer. Isso já foi assumido pelo Brasil. Não se está fazendo favor aos haitianos!
Prova
Prova disso é que as grandes empresas do Sul/Sudeste absorvem o quanto podem a mão-de-obra do Haiti. Portanto, não há favor, nem caridade, nem bondade do Acre nessa questão.
A pérola
Nessa questão dos haitianos, veio do secretário Nílson Mourão a pérola da vez. Repórter de um jornal de São Paulo telefonou para tratar da situação e o secretário se esquivou com a ironia de mau gosto: “Vou passar a dar uma garrafa de água para cada imigrante, porque sei que há falta de água em São Paulo”. Sem comentários.
Estatuto do Estrangeiro
Adequar o Estatuto do Estrangeiro previsto em Lei Federal à atualidade ninguém fala. A lei tem 34 anos. Caducou diante de uma migração ordenada por interesses do capital em todo o mundo. É isso o que tem que ser discutido e mudado.
********************************************************************************
Reajuste de 10% do Programa Bolsa-Família foi oficializado na sexta-feira
* Aumento estava previsto, mas isso não descarta o cálculo eleitoral da medida que terá impacto de R$ 1,7 bilhão nos cofres públicos
ITAAN ARRUDA
O Acre se interessa diretamente pelo debate a respeito do reajuste do Bolsa-Família. Entre 75 e 80 mil famílias pobres ou extremamente pobres dependem do programa federal de transferência de renda no Estado. O reajuste de 10% no benefício anunciado durante a semana pela presidente Dilma Rousseff foi publicado no Diário Oficial da União na sexta-feira e reacende a polêmica entre política pública e clientelismo.
No plano nacional, as discussões em torno do assunto ganharam o tom eleitoral. É natural. A oposição à presidente Dilma critica a medida. “A presidente infelizmente mente aos brasileiros no momento em que diz que o reajuste de 10% do Bolsa Família atende aquele patamar mínimo estabelecido pela ONU, de US$ 1,25, uma renda mínima para ficar acima da linha da pobreza”, declarou ao portal de notícias G1, o pré-candidato a presidente Aécio Neves.
Segundo o portal, a ministra rebateu as declarações. “Esse questionamento é eleitoreiro”, disse a ministra em declaração ao portal. Além de “eleitoreiro”, classificou as críticas do pré-candidato como “levianas” e “irresponsáveis”.
No raciocínio da ministra, o reajuste do programa integra uma política de Estado, programada e prevista pelo Orçamento Geral da União. Argumenta que, em função disso, há recursos em caixa. “Está dentro do desenho fiscal previsto para o ano”, diz.
O argumento é verdadeiro, na medida em que os reajustes têm sido feito de forma programada. Mas, em nenhum momento, isso implica em tratamento republicano dissociado de interesses eleitorais por parte da presidente.
Nas pranchetas do ministério da Fazenda, o cálculo eleitoral já foi feito ano passado, durante a reformulação do OGU. Foi essa artimanha prévia que deu sustentação à ministra Campello de arrotar republicanismo onde há evidentes interesses eleitorais.
Para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o reajuste médio dos benefícios do Bolsa-Família foi de 40% acima da inflação. Esse último reajuste vai ter um impacto de R$ 1,7 bilhão na folha do governo.
Estudo
Pesquisadores da Ufac, associados ao Núcleo de Pesquisa em Saúde e Nutrição da Universidade de São Paulo, mostraram aumento no número de crianças desnutridas em pesquisa cujos dados parciais foram anunciados há oito meses.
Números divulgados pelo próprio governo mostram que existem hoje pelo menos 300 mil pessoas pobres ou miseráveis no Acre. É quase metade da população do Estado.
No Vale do Juruá e municípios de regiões isoladas, a concentração de renda e consequente miséria são mais acentuadas. Conforme declaração do professor de Economia da Ufac, em recente entrevista ao Acre Economia, “a concentração de renda no Juruá é uma das maiores do país, que, por sua vez, já tem uma das maiores concentrações de renda do mundo”.
A cobertura dos programas de transferência de renda é eficiente. Dificilmente está abaixo de 95%. Ou seja, no Acre, onde há pobres e miseráveis, o programa está presente. A cidade do Jordão registra uma das situações mais delicadas. O estudo mostrou que 44,6% das crianças tinham o risco de estar desnutridas. Os dados tem amostragem de 2005.
Traduzindo: em 2005, no Jordão, as possibilidades de uma criança estar desnutrida (e de permanecer desnutrida) eram de quase metade. Os pesquisadores admitem que houve redução do problema com a implantação, em 2007 do Programa Saúde da Família. (Foto: Divulgação)
*********************************************************************************
Banco do Brasil financiou R$ 9,7 milhões pós-isolamento
ITAAN ARRUDA
O Banco do Brasil, a maior instituição financeira do Acre, financiou R$ 9,7 milhões em 72 operações para empresas após o anúncio de que as taxas de juros cobradas girariam em torno de 5 a 5,5%.
Para a pessoa física, foram R$ 4,7 milhões distribuídos em 1,4 mil operações. Todos os financiamentos foram efetivados por meio do PER Brasil.
Muitos empresários consideram os juros nominais baixos, mas o problema é que o banco não abre mão de cobrar a TJLP, a Taxa de Juros por Longo Prazo. De forma sintética, a TJLP pode ser explicada como a taxa que o banco cobra por se arriscar em emprestar o dinheiro ao correntista.
“Reconheço o empenho do governo em tentar viabilizar os empréstimos nesse momento difícil para o comércio, mas o problema é que, na prática o dinheiro continua saindo para nós por um juro de 11 por cento”, ressalva um pequeno empresário do setor de construção civil.
Sem calamidade – Outro fator que dificulta a situação dos comerciantes é a não formalização do Estado de Calamidade Pública por parte da Defesa Civil Nacional. Nos bastidores, até assessores ligados diretamente ao governo já não acreditam mais nessa possibilidade.
Informalmente, os empresários admitem que, do ponto de vista institucional o que estava ao alcance do governo fazer, foi feito. A dificuldade maior decorre do fato de a própria economia regional não ser atrativa para investimentos.
Com o comércio frágil pela dependência do poder público, com empresas sem capital de giro e passando pelas consequências do pós-isolamento, os comerciantes insistem em valores subjetivos para suportar a crise. “Temos que ter paciência e seguir em frente. Ir embora daqui é que eu não posso”, diz outra empresária.
Para as empresas de porte médio e grande, não há praticamente problema de capital de giro. O desafio agora é encontrar o equilíbrio entre normalizar a relação com os fornecedores e voltar a praticar o preço de venda anterior à alagação.