Ao proferir palestra sobre Mudanças Climáticas para mais de 100 estudantes de Engenharia Florestal na Universidade Federal do Acre, na tarde de sexta-feira, o senador Jorge Viana deixou a moçada com arrepios. Ele disse que o Acre e toda a região do MAP (que inclui a Bolívia e o Peru) “vão se tornar um epicentro na Amazônia para mudanças climáticas e impactos”. Nessa condição, “no curto prazo de 5 a 10 anos, o estado poderá sair da faixa de equilíbrio climático natural, que oscila entre épocas de calor e de frio (as tradicionais friagens), e passar ao calor alterado pelo efeito estufa, com 2graus centigrados acima de temperatura, sem retorno.
Engenheiro florestal por formação, o senador explicou que não falava como cientista, mas como politico preocupado com as mudanças que ocorrem no mundo e na Amazônia, em particular, ocasionando fenômenos como a enchente do Rio Madeira, a maior em cem anos e que tende a se repetir. Para a palestra, Viana conversou demoradamente com o cientista Foster Brown, americano naturalizado brasileiro que é professor da UFAC e faz estudos aprofundados sobre o tema. Também leu os dois últimos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) que acompanham as variações do clima no planeta, e que reconhecem a intervenção do homem no equilíbrio natural que mantém a vida na terra a partir da luz do sol.
A energia do Sol, conforme estudos científicos, aumenta 10% a cada um bilhão de anos, e no inicio da vida na Terra(há quatro bilhões de anos) era cerca de 70% da atual. “Mas o raio solar chega à Terra em condições naturais e favorece à vida no planeta: uma parte dessa energia é refletida e retorna; outra é absorvida pelo solo; e uma terceira permanece na atmosfera, na forma de gases, principalmente o Carbônico (CO2). Se esses gases não existissem em equilíbrio natural, a temperatura média seria de 20 graus negativos”.
Jorge Viana disse que “as florestas tropicais, por estarem próximas da Linha do Equador, onde a luz do sol é mais direta, têm importância fundamental no equilíbrio climático do planeta. Elas ajudam a manter a proporção dos gases na atmosfera, que em média teria que ser de 14 a 15 graus centígrados. Entretanto, a partir da Revolução Industrial que surgiu entre os anos de 1780 e 1840, o homem começou a modificar essa proporção gerando o chamado efeito estufa”.
Com a alteração, que é crescente, o planeta vira de ponta-cabeça. Nos tempos atuais, disse o senador, “vivemos sob a ameaça do calor que provoca o degelo nos polos da Terra aumentando o nível dos oceanos. E também aquece as águas, provocando movimentos inesperados nos ventos. Cada vez menos, é possível prever o que vem de catástrofe por aí”.
O senador citou como exemplos atuais e próximos, no Brasil, a cheia do Rio Madeira, que subiu três metros acima do nível normal, e a seca na Cantareira, em São Paulo, que deixou 8 milhões de pessoas sem água. Recorrendo ao recurso do PowerPoint, mostrou imagens do Rio Madeira, da seca em São Paulo e de uma viagem que fez à Antártica, onde o degelo vem fazendo aumentar o nível dos oceanos. “O nível do mar aumentou 19 centímetros entre 2001 e 2010com a elevação de 0,8 grau centigrado na temperatura. Até 2050, a temperatura da Terra terá aumentado 2 graus centigrados, sem retorno, o que agravará a situação. Nos Estados Unidos, o governo de Barak Obama e os cientistas já admitem, em recente relatório, que regiões da Flórida, Louisiana e Delta do Mississipi poderão sofrer inundações definitivas”.
Fora da Faixa
Num gráfico que registra a variação de temperatura no mundo, a partir de 1900, está definida uma faixa de equilíbrio que serve de comparação.Quando os dados apontam “saída” da faixa por alterações do ambiente, o que está fora é o risco. No gráfico, Manaus poderá ter “saída” entre 2040 e 2054, passando a sofrer calor intenso. Mas a situação de Rio Branco é mais assustadora, porque a “saída” da faixa pode ocorrer entre 2019 e 2026, portanto, daqui a 5 anos.
Para evitar o pior ainda há tempo, segundo Jorge Viana, mas o mundo terá que cumprir as metas comprometidas em encontros internacionais como as ECOs, promovidas pela ONU, e uma delas é reduzir a emissão do gás carbônico que provoca o e ”feito estufa na atmosfera.
“O Brasil está fazendo o dever de casa reduzindo o desmatamento que libera o CO2 nas queimadas. Até 2005, nosso país era o quarto no mundo em produção do gás para a atmosfera. A China permanece em primeiro lugar, com Estados Unidos em segundo e União Europeia em terceiro. Hoje, o Brasil ostenta um promissor 13o. lugar” – declarou Jorge Viana.
No PowerPoint, Jorge exibiu a imagem de um mineiro australiano que desce para o interior de uma mina levando um pássaro na mão. Na época em que a foto foi batida, a mineradora não tinha como medir a toxidade que existia no fundo da terra, por isso os trabalhadores usavam o artificio: descia com o pássaro e parava quando ele morria, intoxicado, porque era mais sensível que o homem aos gases existentes na mina. Na palestra, ele indaga: “Será que o Acre é o canário da mudança do clima na Amazônia”?