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Abrigo para imigrantes no Acre recebe visita de órgãos públicos

Representantes dos órgãos federais e internacionais queriam conhecer e avaliar situação de imigrantes
Representantes dos órgãos federais e internacionais queriam conhecer e avaliar situação de imigrantes

O abrigo de imigrantes, localizado na Chácara Aliança, em Rio Branco, foi sede da visita de órgãos estaduais e federais, nesta quarta-feira, 25. O objetivo do grupo foi verificar a situação vivida por pessoas vindas do Haiti, do Senegal e de outros países para o Acre de forma irregular.

Participaram da ação os representantes do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público Estadual (MP/AC), Universidade Federal do Acre (Ufac), Organização Internacional de Migrações (OIM) da Organização das Nações Unidas (ONU), Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e o cônsul do Brasil em Cobija, na Bolívia.

As dezenas de imigrantes no local não demonstraram surpresa com os visitantes. Aparentemente, eles estão costumados com o grande fluxo de pessoas no abrigo. É o caso da haitiana Wilmene Joseph, 33 anos. Ela contou aos representantes dos órgãos públicos que chegou ao Acre com dois filhos pequenos. Deixou para trás os pais, com quem vivia. Na sua terra, Wilmene era enfermeira, mas sabe que terá de fazer outros trabalhos no Brasil para sobreviver. Seu próximo passo é o Macapá, no Amapá, onde pretende conseguir um emprego e colocar as crianças na escola.

Atualmente, 171 imigrantes estão acolhidos no abrigo, sendo 30 mulheres e 5 crianças. A maioria permanece no local entre 15 e 20 dias, período de espera da retirada de toda a documentação necessária para seguir viagem. Por dia, um ou dois ônibus levam haitianos, senegaleses e dominicanos para as regiões Sul e Sudeste do país, locais mais desejados por eles.

De acordo com o secretário da Sejudh, Nílson Mourão, diariamente chegam novos imigrantes ao abrigo, localizado na Estrada do Irineu Serra. “Eles vêm de táxi, ônibus, carona, enfim, chegam aqui por conta própria. Todos, sem exceção, chegam de forma irregular. Aqui, eles são vacinados. Disponibilizamos refeições, local digno para dormir, tomar banho e espaço de convivência. São livres para sair e retornar quando quiserem. De dezembro de 2010 até agora, mais de 25 mil imigrantes já passaram pelo Acre”.

A presença de uma lan house no espaço chamou a atenção dos visitantes. Nílson Mourão explica que a ideia foi de um microempresário de Brasiléia. Ele resolveu instalar alguns computadores no abrigo. Para usar as máquinas, é preciso desembolsar R$ 0,50. “É uma ótima oportunidade para eles manterem contato com suas famílias no Haiti, Senegal ou mesmo na República Dominicana”, aponta.

ONU quer combater ação de coiotes
Um estudo realizado pela Organização Internacional de Migrações (OIM) da ONU e pelo Conselho Nacional de Imigração revelou que a situação mais frequente de ‘coiotes’ (pessoas que guiam os imigrantes de forma irregular para outros países) está no Equador e no Peru.

Segundo o coordenador de projetos para a América do Sul da OIM, Jorge Peraza, um grave problema identificado é que muitos desses coiotes têm permissão das autoridades de seus países para a prática ilegal.

Para combater a utilização da rota irregular, a ONU entregou uma proposta ao Ministério das Relações Exteriores, a fim de verificar a possibilidade de melhorar o processo de retirada de vistos no Haiti.

“Queremos facilitar o processo de integração elaborada dos imigrantes. Nosso estudo mostrou que há um problema grande com os coiotes no Equador e Peru. Muitos saem do Haiti já com os contatos. Ficou claro que o Acre é a principal rota utilizada por essas pessoas para entrar no Brasil. Nosso estudo também revelou que o terremoto já não é o único motivo para que os haitianos venham para cá. As motivações são muitas: a situação econômica, o trabalho, entre outros. Essa rota também é usada por pessoas que vem de fora da América. Isso acontece, porque o Equador não tem a política da cidadania universal, por isso é tão fácil entrar por lá”, explica.

“O que vejo aqui me deixa tranquilo”, afirma procurador-geral do Trabalho
Durante a visita, o procurador-geral do Trabalho, Luís Antônio Camargo de Melo, revelou estar surpreso e satisfeito com o que encontrou no abrigo para imigrantes, no Acre. Ele afirmou que esperava algo diferente.

“Aqui, tantos os haitianos, quanto os senegaleses estão em uma condição bem razoável. As informações que tenho é que eles estavam em condições piores em Brasiléia. Ou seja, eles chegam ao Brasil muito maltratados. São roubados e vítimas de violência. É importante e imprescindível que o Brasil dê uma boa acolhida a essas pessoas. Uma questão de Direitos Humanos, de garantia e de resgate da dignidade. Não é um problema fácil de ser enfrentado, pois se trata de uma população grande, que envolve muitas pessoas de nacionalidades diversas. À primeira vista, o que vejo aqui me deixa tranquilo, em relação à intervenção do poder público e da sociedade civil quanto a essas pessoas”, declarou.

A visita ao abrigo na Chácara Aliança serviu para os representantes dos órgãos federais se atualizarem sobre a situação dos imigrantes que chegam ao local. O principal objetivo da ação é o encontro que será realizado hoje, às 9h, na Assembleia Legislativa (Aleac), para tratar de políticas públicas migratórias na fronteira do Estado. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

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